CARACAS/PUNTO FIJO, Venezuela (Reuters) - O carpinteiro José Narvaez planejava fugir da Venezuela para a ilha caribenha de Aruba no fim do ano, antes de o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, divulgar seu plano para melhorar a economia em ruínas. Agora Narvaez, de 43 anos, quer deixar o país o mais rápido possível.
Maduro chocou o país na sexta-feira ao anunciar uma desvalorização de 96 por cento e prometer fixar o bolívar ao novo ‘petro’ venezuelano, criptomoeda que foi alvo de dúvidas de especialistas como instrumento financeiro funcional.
“Estou procurando voos para ir embora na quarta-feira, da maneira que puder”, disse Narvaez no centro petroleiro de Punto Fijo, no oeste do país e lar de grandes, porém deterioradas, refinarias. “Tenho certeza que vai piorar porque as ideias do homem não têm nenhuma lógica”.
Maduro, que diz ser vítima de uma guerra econômica liderada por Washington para sabotar seu governo através de sanções, disse que o uso do petro irá abolir a tirania do dólar e levar a um renascimento econômico na Venezuela, país membro da Opep e lar das maiores reservas de petróleo do mundo.
Mas muitos venezuelanos temem que as medidas –cujos detalhes ainda não foram explicados– podem tornar o país ainda mais anárquico, e dizem que vão se juntar ao êxodo.
Com o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevendo que inflação pode chegar a 1 milhão por cento até o final do ano, a desnutrição cresce, à medida que um salário mínimo mensal que equivale a alguns dólares norte-americanos coloca produtos como frango fora do alcance de muitos. Famílias reviram lixo, pais deixam de comer, dando preferência aos filhos, e adolescentes sobem em árvores para pegar frutas.
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que 2,3 milhões de venezuelanos agora vivem no exterior – com 1,6 milhão tendo ido embora do país nos últimos dois e três anos, na maior movimentação de pessoas na história moderna da América Latina.
Isto contrasta drasticamente com o século 20, quando uma Venezuela em ascensão aceitava imigrantes do sul da Europa, do Oriente Médio e da vizinha Colômbia, devastada pela guerra.
Na capital Caracas, ruas estavam silenciosas nesta segunda-feira. Maduro decretou feriado nacional no primeiro dia de um plano que cortará cinco zeros da moeda, numa tentativa de conter a hiperinflação, como parte de seu pacote de medidas econômicas.