Índice Schmidt leva em conta a duração e a intensidade para criar escala de dores para picadas de abelhas, formigas e vespas.
Ser picado por uma abelha ou uma formiga é sempre desagradável, mas a dor pode variar – e muito. O que nem todos sabem é que essas dores também podem ser classificadas numa escala, conhecida como Índice Schmidt de Dores de Picadas, em homenagem ao seu criador, o entomólogo americano Justin Schmidt.
Ele é pesquisador no Southwest Biological Institute (SBSC), no Arizona, onde estuda os mecanismos de defesa químicos de formigas, abelhas e vespas. Trata-se de uma atividade dolorosa, pois, durante suas pesquisas, Schmidt foi picado por cerca de 150 tipos de insetos.
Para manter uma visão geral, já nos anos 1960 ele começou a categorizar as diferentes picadas pela intensidade da dor, e passou a registrar a duração exata e a intensidade de cada uma delas, o que foi feito numa forma bastante peculiar e divertida.
Em 2015, Schmidt recebeu o prêmio Ig Nobel pelo seu empenho e dedicação à ciência, o que chamou a atenção para as suas pesquisas.
Primeiro nível de dor
Só os fracos choram por causa dessas picadas. Dores de primeiro nível passam em cinco minutos e sua intensidade é mínima. Um exemplo são as picadas das abelhas da espécie anthophora.
Mesmo assim, nem todo mundo vai concordar com a descrição de Schmidt, que qualifica essa ferroada de "quase agradável" e a compara à mordiscada um pouco mais forte de um namorado ou namorada no lóbulo de uma orelha.
Também poética é a descrição da picada da abelha sphecodes albilabris. Segundo Schmidt, ela seria uma picada "leve, efêmera, quase frutada, como se um faísca minúscula queimasse um único pelo do braço".
Segundo nível de dor
Aqui a coisa começa a ficar desagradável. Picadas e ferroadas de segundo nível persistem de 5 a 10 minutos. Nesse nível estão classificadas a maioria das picadas da ordem hymenopteras, que inclui as vespas. Schmidt descreve essas picadas como "densas, vigorosas e quentes".
A picada da abelha-comum recebe palavras menos elogiosas e se parece com "a cabeça de um fósforo que está queimando na pele".
Terceiro nível de dor
O ponto crítico se aproxima. A partir deste nível, as picadas doem muito, e por até 30 minutos. "Cáustica, ardente e impiedosa, como se alguém usasse uma furadeira para cortar uma unha encravada ou jogasse um copo de ácido clorídrico num corte da pele" – assim o Justin Schmidt descreve a picada das vespas conhecidas como formiga-feiticeira ou formiga aveludada.
Quarto nível de dor
O topo da classificação. Só picadas brutais e que causam dores paralisantes pertencem a essa categoria. A pepsis grossa ou pepsis formosa, uma vespa que caça tarântulas, tem a honra de pertencer a esse grupo especial.
Segundo Schmidt, a picada dela é "virulenta, cegante, horrivelmente elétrica, como se alguém jogasse um secador de cabelo ligado no seu banho de espuma." Pelo menos a dor passa depois de cinco – certamente longos – minutos.
Já a formiga-cabo-verde, também conhecida como tocandira, naná, saracutinga e formigão-preto, é um caso à parte – ela é a rainha de todas as dores. A sua picada tortura a vítima por até 24 horas com "uma dor pura, intensa e irradiante, como se alguém corresse em cima da brasa ardente com um prego enferrujado de 7 cm enfiado no calcanhar". O nome inglês dessa espécie é bullet ant, ou "formiga-bala-de-revólver", uma comparação que já diz tudo.
Avaliações de dores podem até ser subjetivas, mas Schmidt não é o único a categorizar picadas de insetos. O entomólogo Christopher K. Starr também desenvolveu uma escala de dor nos anos 1980. O resultado: Starr e Schmidt identificam as mesmas picadas de insetos como as mais dolorosas.
Para quem foi picado ou tomou uma ferroada – e, mais do que saber a qual categoria ela pertence, quer que ela passe logo – os especialistas têm uma dica: pense em alguma outra coisa. Pesquisas já mostraram que, quanto mais uma pessoa se concentra numa dor, mais essa dor dói.