Bolsa abriu com alta, risco país chegou a cair a piso mínimo, e dólar ficou em 3,60 reais.
Nomes da equipe ministerial e detalhes de medidas já anunciadas estão no radar de investidores
Quem esperava uma euforia na Bolsa de Valores de São Paulo um dia após a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições pode ter se frustrado num primeiro momento. A bolsa abriu em alta, como esperado, de até 2,70%, para depois reduzir esse ímpeto. Na verdade, a bolsa já vinha em alta desde a semana passada, acompanhando o ritmo das pesquisas eleitorais que colocavam o capitão da reserva como o grande favorito e nesta segunda manteve o ritmo, muito embora tenha invertido o viés de alta após o almoço. O dólar abriu a 3,60 reais e o risco país, importante medida para fechar negócios no exterior, chegou a ficar abaixo dos 200 pontos no início do dia, depois de meses de oscilações que chegaram a levar o indicador para acima dos 300 pontos.
Para se ter uma ideia, quando Lula estava perto da primeira vitória em 2002, o risco país, que trafegava numa média de 1000 pontos à época, teve um pico de 4.000 pontos com a confirmação de que o petista assumiria a presidência. Não há dúvidas que o mercado financeiro dá as boas vindas para o candidato que eles apostavam como a melhor opção para o Brasil que precisa acertar as contas públicas e estimular a economia. Agora, o objetivo é ter um detalhamento dos planos do presidente eleito, com quase 58 milhões de votos. “Passada a eleição, as atenções se voltam, agora, para a fase de transição de governo e a definição de nomes para a futura equipe ministerial, bem como para a sinalização das primeiras medidas que serão tomadas a partir e 1º de janeiro de 2019, data da posse”, diz relatório do Bradesco.
Isso porque o país tem enormes desafios como estabelecer um ajuste fiscal à altura dos desafios do país. Na noite de domingo, Paulo Guedes, que será o czar da economia do Governo Bolsonaro, já reafirmou que seu foco é a redução do déficit primário, com foco em privatizações e foco na reforma da Previdência, que deve acontecer no ano que vem, segundo outro nome já confirmado na equipe do novo Governo, Onyx Lorenzoni. “O primeiro grande item é a Previdência”, afirmou ele a jornalistas. “O segundo é o controle de gastos públicos, as despesas com juros”, afirmou o futuro ministro, lançando música aos ouvidos do mercado financeiro.
Há um voto de confiança claro dos investidores de curto prazo sobre a qualidade de Guedes, admite Pablo Spyer, da corretora Mirae, que inclusive já trabalhou com Guedes e endossa sua fama de 'gênio'. “Mas agora é a hora da verdade. Depois de uma eleição agressiva, olham-se fatores externos, como a alta de juro nos Estados Unidos, a crise fiscal italiana, a guerra comercial ente os Estados Unidos e a China”, diz Spyer. Ele lista ainda a tensão na Arábia Saudita com a morte do jornalista Jamal Khashoggi e o Brexit questionado na Inglaterra. “São assuntos sérios e relevantes que agora precisam ser colocados na pauta e que trarão efeito negativo para as moedas emergentes”, diz ele.
Guedes ainda apontou que vai acelerar as privatizações e que está alinhado com a criação de marcos regulatórios para atrair investimentos em infraestrutura, um dos grandes gargalos do país. Mas nem todos os agentes econômicos estão seguros sobre a boa coordenação para tirar os planos do papel. Há um temor evidente sobre medidas que dependem da aprovação do Congresso. “Embora a eleição de Jair Bolsonaro como próximo presidente do Brasil deva melhorar o sentimento dos investidores e reduzir a volatilidade cambial, um Congresso fragmentado ainda representa um risco para as reformas”, diz, em relatório, a Moody’s Investors Service. Samar Maziad, vice-presidente da Moody's, descreve que a expectativa é que Bolsonaro confirme as políticas pró-mercado que prometeu ao longo da campanha . “Embora esperemos uma continuidade das políticas públicas, a capacidade de construir apoio no Congresso para aprovação das reformas fiscais ainda não foi testada”, diz ela.
A eleição de um Congresso fragmentado, com 30 partidos representados, deve trazer obstáculos, na avaliação de Maziad, e por enquanto, o presidente eleito não assegura a confiança necessária. “A retórica de campanha do presidente eleito sugere que ele pode confrontar o modo de funcionamento das instituições brasileiras, criando, consequentemente, ruído político no processo. A capacidade de sustentar o momento político favorável e o apoio do Congresso ainda precisam ser comprovados”, completa a vice-presidente da Moody's.
Há, ainda, uma expectativa sobre qual será o estilo empregado pela equipe de Bolsonaro para as novas investidas. Na conversa com jornalistas, Guedes foi enfático com uma jornalista argentina dizendo que o “Mercosul não é prioridade. Está claro?”, disse ele em tom ríspido. A Argentina, principal parceiro do bloco comum, é o terceiro parceiro comercial do Brasil, depois da China e Estados Unidos.