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Eu sou Curitiba
Em um sala de aula da Escola Municipal Vila Torres, no Rebouças, Cristina Almeida tem vivido algo especial. Professora há 18 anos, Cristina é servidora da Prefeitura de Curitiba há cinco anos e todas as noites se dedica com alegria à turma formada por estudantes dos 15 aos 76 anos.
Quando chegam à escola, a mulher de sorriso largo acolhe cada um como se fossem amigos de longa data. "É aqui que me realizo. Eles dizem que eu venho ensinar, mas na verdade aprendo muito. Eles me ajudam a ser uma pessoa melhor", declara.
Alfabetizadora de crianças por muitos anos, quando ingressou na Prefeitura Cristina foi convidada a dar aulas na Educação de Jovens e Adultos, a EJA, algo que ela nunca havia feito.
"Eu achava que sabia tudo, pois fui alfabetizadora a vida toda, mas o primeiro ano do novo trabalho não foi bom. Percebi que alguns alunos estavam deixando de vir às aulas e pensei: algo deu errado", conta ela. "Resolvi estudar, fiz vários cursos da Prefeitura voltados para a EJA que me ajudaram bastante ", revela.
Cristina percebeu que trabalhar com adulto é viver outra realidade em sala de aula. "O adulto questiona o que fazemos em aula. Tenho que conquistar os alunos, que trazem uma história, muitos tiveram uma vida difícil, com experiências dolorosas", diz ela.
A turma multiseriada da Escola Vila Torres tem 31 alunos matriculados. Para trabalhar, ela e a professora corregente Suellen Dal Santo dividem a turma em três grupos, de acordo com o nível de aprendizagem de cada um. Alguns dos mais jovens vieram de turmas de classe especial.
A maioria dos estudantes é de Curitiba, parte mora na região metropolitana, mas trabalha na capital. São de Araucária e de São José dos Pinhais. Tem também um estudante sírio, um de origem indígena e é com tantas histórias de vida diferentes que a professora constrói o seu planejamento a cada semana.
Cristina explica que é preciso aproximar o conteúdo a ser dado com a realidade e que quem trabalha na EJA tem outro olhar da educação. "A gente não finge que faz uma receita, por exemplo, a gente faz a receita. É tudo voltado para a vida das pessoas, de acordo com a experiência de cada um", explica. "Às vezes conto minhas experiências pessoais e gosto de usar música nas aulas. Tem que ter paciência. Eles são diamantes que a gente precisa lapidar", declara emocionada.
Liberdade
A professora acredita que os adultos da EJA não tiveram direitos assegurados. Eles passaram boa parte da vida adulta sem ler e escrever. Alguns não podiam pegar um ônibus. Outros relatam que já tomaram remédio errado ou deram aos filhos e netos alguma medicação incorreta, por não saber ler a bula. "Alfabetizar um aluno assim é libertar uma pessoa. Eles vêm para a escola depois do trabalho e querem aprender", declara.
Ela acrescenta que quando alguém quer fazer bagunça na aula, os próprios colegas chamam atenção. "Eles dizem: eu vim aqui pra estudar. Não querem perder mais tempo", completa.
Muitos dos alunos estão na escola pela primeira vez. Antes de ir para a escola, as mulheres, maioria do grupo, precisaram criar os filhos e algumas os netos. "Só depois que todos cresceram, elas resolveram estudar. Eu costumo dizer que a EJA é negra e formada por mulheres", diz ela.
Cristina também participa de um projeto social como orientadora pedagógica (Cursinho Solidário).