Para a Associação do Futebol Argentino, Bolsonaro não foi um mero espectador ao manifestar-se politicamente, com uma volta olímpica, algo proibido nos jogos de futebol.
Numa dura carta de reclamação enviada nesta quarta-feira (4) à Confederação Sul-americana de Futebol (Conmebol), o presidente da Associação do Futebol Argentino (AFA), Claudio Tapia, apontou a presença do presidente Jair Bolsonaro no Mineirão e os erros da arbitragem que não marcou dois pênaltis a favor da Argentina como exemplos de falta dos "princípios de ética, lealdade e transparência" que tiveram como consequência a derrota da seleção argentina para o Brasil por 2 a 0 numa das semifinais da Copa América.
A carta também aponta falhas na organização da Copa América como atrasos no transporte das equipes aos estádios (mas nunca atrasos com a seleção brasileira), estádios com pouca presença de público, campos de jogo em mau estado e reclamações dos jogadores com a organização, com a segurança e com a hotelaria.
A queixa quanto à presença de Bolsonaro no jogo relaciona-se com o fato de o presidente ter sido um elemento de manifestação política, algo contrário aos princípios da FIFA e da Conmebol.
"Concretamente, a imprudência na designação da arbitragem gerou um inevitável ambiente prévio ao jogo, agravado pela presença do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, no estádio Mineirão de Belo Horizonte, que não passou inadvertida por jogadores, dirigentes e público em geral já que foram evidentes as suas manifestações políticas durante o desenvolvimento do jogo, sem deixar de mencionar que, no intervalo, (Bolsonaro) deu uma verdadeira volta olímpica no estádio", critica a carta.
A AFA recorda a proibição que rege sobre manifestações políticas num evento desportivo.
"Os responsáveis pela organização do evento deveriam evitar manifestações políticas durante o evento. Não podemos esquecer que jogadores foram sancionados por exteriorizarem preferências políticas durante partidas de futebol", compara.
Também houve críticas aos membros da segurança de Bolsonaro porque "não foram individualizados com coletes exigidos pela Conmebol" e porque isso "gerou um estado de confusão entre os espectadores".
Juízes teriam prejudicado a seleção argentina
A AFA também reclamou da arbitragem de Roddy Zambrano e do brasileiro Wilson Seneme, presidente da Comissão de Arbitragem da Conmebol, quem indicou o árbitro da partida. Os argentinos exigiram explicações satisfatórias do brasileiro, caso contrário, pedirão que seja afastado do cargo.
Indicam "antecedentes negativos" contra Zambrano em partidas disputadas por clubes argentinos e que o árbitro "não tinha as qualidades técnicas para dirigir uma partida de tamanha transcendência". E colocam Wilson Seneme no mesmo patamar de uma "manifestada incapacidade para exercer o cargo", além de uma "ação dolosa, tendente a inclinar o resultado dos jogos".
"Ficou evidente que a seleção nacional foi claramente prejudicada pelo trio de arbitragem liderado pelo árbitro equatoriano Roddy Zambrano durante todo o desenvolvimento do jogo e, em particular, por não usar o VAR em duas jogadas concretas que teriam, sem dúvida, revertido o resultado final", acusam.
As duas jogadas, segundo a visão argentina, foram dois pênaltis. Um aos 25 minutos do segundo tempo numa jogada depois da qual o Brasil marcou o segundo gol; outro, aos 7 minutos do final.
Depois do jogo, o capitão da seleção argentina, Lionel Messi, disse que "durante toda a Copa América, (os árbitros) cansaram-se de cobrar babaquices e desta vez não cobraram um pênalti".
"Tomara que a Conmebol faça alguma coisa, mas não creio que faça nada porque o Brasil controla tudo", denunciou Messi.
Numa carta anterior à Conmebol, Federico Beligoy, diretor argentino de arbitragem, reclamou das duas jogadas a favor da Argentina nas quais, "claramente, não foram revistas pelo VAR e informadas ao árbitro como o procedimento indica".
"Ao mesmo tempo, preocupa-nos muito o que veículos de comunicação estão informando sobre problemas e interferências no sistema de comunicação entre a sala VAR e os árbitros do jogo".
As interferências teriam sido dos agentes da segurança de Jair Bolsonaro que usaram a mesma frequência de comunicação da arbitragem. A Conmebol defende-se, afirmando que o problema foi resolvido antes do começo do jogo.