Em entrevista exclusiva ao canal de TV France 2, nesta segunda-feira (26) após o fim da Cúpula do G7 em Biarritz, no sul da França, o chefe de Estado francês também afirmou que sempre distinguiu "os povos de seus dirigentes."
Questionado sobre as relações diplomáticas entre a França e o Brasil, Macron declarou que “da maneira como as coisas são apresentadas, existe a impressão de há um diálogo direto com Bolsonaro, o que não é o caso”, afirmou. “Os franceses me elegeram para representá-los, defender nosso país e fazer o melhor para que a França progresse. Devo ser respeituoso com os representantes dos outros países, independentemente de quem eles sejam. Nunca dei nenhum tipo de declaração irreverente em relação a um outro dirigente. Esse não foi o caso de Bolsonaro”, alfinetou o presidente Macron, em alusão às declarações do presidente brasileiro sobre sua mulher, Brigitte Macron. Ele reiterou que elas são “condenáveis e inaceitáveis”.
O presidente francês também fez questão de frisar a diferença entre o presidente e os brasileiros. “O Brasil é um grande povo, um grande país. A atitude de Jair Bolsonaro não é digna de um presidente. Se eu fizesse o que ele fez, os franceses ficariam com vergonha”, ressaltou.
“França tem parte de cumplicidade” no desmatamento
O chefe de Estado francês também voltou a afirmar que o presidente brasileiro encorajou os programas de desmatamento, que levaram ao aumento de mais de 90% dos incêndios. “A floresta amazônica nos ajuda a absorver as emissões de CO2. Há nove países que fazem fronteira com a Amazônia, entre eles a França. Todos eles estão envolvidos, mas a questão é tão importante que envolve todo o planeta”, disse o presidente francês, que também se encontrou com o cacique Raoni nesta segunda-feira.
Questionado sobre a importação massiva de soja brasileira pela França, Macron também reconheceu que o país tem uma parte de “cumplicidade” no desmatamento. “Precisamos de soja na Europa para alimentar os animais. Nós não temos. Essa situação é fruto de um equilíbrio antigo, concluído nos anos 1960 entre a Europa e os Estados Unidos. Temos que recriar a soberania da Europa na questão", concluiu.
Macron também declarou que Bolsonaro não cumpriu sua palavra e, na situação atual, a França não assinará o acordo com o Mercosul. Ele explicou porque o país inicialmente ratificou o texto. “A França foi dura nas negociações, e isso acontece com frequência, para que possamos proteger nossa agricultura e o clima. Também temos cláusulas que preveem que, se o acordo isso desequilibrar nossa agricultura, não será mais aplicado.”