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Crescimento de energias renováveis bloqueia no mundo, mas avança no Brasil



    Turbinas eólicas em RWE Offshore-Windpark Nordsee Ost no mar do Norte, a 30 km de Helgoland, Alemanha, 11 de maio de 2015.REUTERS/Christian Charisius/Pool


    Sinais de alerta para o desenvolvimento das energias renováveis se repetem nos últimos dois anos. Primeiro, a China desacelerou os ambiciosos planos de diversificação energética, à espera da conclusão de infraestruturas que possibilitarão um melhor aproveitamento da geração. E na Alemanha, exemplo europeu de transição para as energias limpas, o setor de eólicas enfrenta resistências e queda de subsídios, que levaram ao fechamento de fabricantes.

    Os exemplos simbolizam uma estagnação mundial do setor, depois de um crescimento espetacular nos anos 2010. Em 2018, as instalações eólicas e solares responderam por 26% da energia mundial, um recorde. Pelo menos 70% da energia consumida em grandes cidades, como Seattle e Estocolmo, hoje vem de fontes renováveis. Entretanto, o ritmo de novas capacidades estacionou, conforme dados da Agência Internacional de Energia (AIE) e da rede internacional REN21, especialista na questão. Na Alemanha, as instalações recuaram 82% desde o início do ano. Nesse ritmo, a meta de fechar as usinas nucleares até 2022 e as de carvão antes de 2040 pode ser comprometida.

    Para o pesquisador Nicolas Berghamans, do Instituto do Desenvolvimento Sustentável e Relações Internacionais (Iddri), de Paris, o setor é, de certa forma, vítima do próprio sucesso. Com a chegada de licitações de grandes projetos de renováveis, que chegaram à maturidade nos países desenvolvidos, apareceram também novos desafios.

    “No início, havia incentivos para as energias renováveis graças aos preços da energia garantidos pelo Estado, o que era uma boa vantagem. Essa prática também permitia a pequenos produtores e a cooperativas de terem eles mesmos as fontes de energia”, explica. “Mas a chegada das licitações mudou essa paisagem: agora, são as grandes empresas que chegam com enormes projetos, que são mais difíceis de ser aceitos pelas comunidades.”

    Com menos vantagens econômicas diretas, a resistência da população alemã às turbinas eólicas ao barulho e o impacto na paisagem aumentou. O fenômeno se repete em outros países-modelo na questão, como a Holanda e a Dinamarca.

    China aperta o freio

    Já a China, o país que mais investe em renováveis no mundo, reajustou as políticas públicas para o setor, enquanto não são concluídas linhas de transmissão da energia para as zonas de consumo. “A China tem planos ambiciosos, mas ela atinge muito rápido os objetivos. O de fotovoltaicos previsto para 2020 foi atingido em 2016, e foi o que levou o governo a reduzir os incentivos em renováveis nesses anos”, comenta Berghmans. “Mas como ela tem uma indústria forte, continua a querer desenvolver as energias renováveis. As eólicas e solares ainda representam uma parte pequena da matriz elétrica. Tem muito espaço para expansão”, nota o pesquisador francês.

    O Brasil começa a trilhar por esse caminho – nos últimos seis anos, a participação da energia eólica passou de 1% para 11,7% da produção total do país. Apesar dos retrocessos ambientais do governo de Jair Bolsonaro, o setor deve continuar promissor na próxima década, na opinião de Emilio La Rovere, especialista no assunto e coordenador do Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente da Coppe-UFRJ.

    Parque Solar Nova Olinda (PI), a maior da América Latina


    “Existem realidades de mercado que se impõem em relação à política governamental. Vemos isso até nos Estados Unidos, onde nem mesmo o governo Trump conseguiu reativar o aumento do uso do carvão mineral”, ressalta La Rovere. “No Brasil, as energias eólica e solar, que iniciaram um crescimento na instalação de projetos e aumento da capacidade instalada tardiamente em relação aos países avançados, há uma perspectiva que ainda é de grande crescimento nos próximos anos, independentemente do que o governo atual possa alterar. E, até agora, ele não deu nenhum sinal de querer alterar as políticas em curso.”
    Acordo de Paris

    O pesquisador do Ipea José Mauro de Morais concorda. Incentivos fiscais, financiamento do BNDES e forte presença nas licitações favorecem o desenvolvimento do setor. O Brasil, exemplo de matriz energética limpa graças às hidrelétricas, tende a aperfeiçoar ainda mais o seu modelo, avalia.

    “Se verificamos o Acordo de Paris, nós nos comprometemos a ter 45 % de toda a matriz energética brasileira de energias renováveis até 2030. Este ano, já chegamos a 45,3%, ou seja, o Brasil já cumpriu o seu objetivo”, destaca Morais.

    Com as eólicas terrestres de vento em popa no Nordeste, o próximo passo avançar nas turbinas offshore, no mar, e ampliar a parcela de fotovoltaicas. Hoje, a energia solar responde por apenas 2% da matriz brasileira.


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