A brasileira Camila Titinger é Donanna, na ópera Don Giovanni, em Paris.Foto: Johan Persson (Garsington Opera)
Aos dez anos, em 2000, ela se apresentou diante de mais de dois milhões de pessoas cantando ao lado do Padre Marcelo. Em 2017, ela participou de um concurso lírico em Paris. Nesta quinta-feira (19), a paulista Camila Titinger, 29 anos, vive um dos papéis principais da ópera Don Giovanni, de Mozart, no Teatro dos Champs-Elysées, em Paris.
“Nesta produção, eu faço uma Donanna de personalidade forte. Ela é rica, aristocrata, e acaba de perder o pai, além de ser violentada pelo Don Giovanni”, conta Camila. “É uma mulher amarga, em busca de vingança. Ela parece ter perdido todas as esperanças, mas no final ela vai encontrar de novo a felicidade ao lado de Don Ottavio”, acrescenta.
Depois de um prêmio no Paris Opera Competition, em 2017, Camila recebeu uma bolsa da fundação do tenor e maestro Plácido Domingo para jovens talentos da música. Em seguida, veio o convite para cantar ao lado de Domingo, um dos grandes nomes do canto lírico contemporâneo, em uma turnê com um repertório, com algumas variações, por várias cidades do mundo, entre elas Liubliana, Estrasburgo e Valência. "Às vezes nem acredito que eu tenha dividido o palco com uma figura tao importante, consagrada e que eu admiro tanto", afirma.
Denúncias de assédio sexual
Em agosto, oito mulheres e uma dançarina denunciaram Domingo por assédio sexual. Diante das acusações, o tenor, de 78 anos, disse que sempre acreditou que todas as suas "interações e relações" com mulheres eram "bem-vindas e consensuais". "Reconheço que as normas e padrões da atualidade são muito diferentes do que eram no passado", acrescentou o artista. A única vítima que se identificou, a meio-soprano Patricia Wulf, declarou que sofreu assédio sistemático, até que, em 1991, consentiu em ter relações sexuais com Domingo.
Camila Titinger tomou o partido do tenor, com posts nas redes sociais defendendo Domingo. Ela, que conviveu de perto com ele durante as viagens, conta que nunca presenciou nenhum ato suspeito. “A gente acordava no hotel, toda a companhia tomava café, pegava o carro, ia para o teatro, camarim, saía do teatro. Nunca o vi tendo qualquer tipo de segunda intenção. Sempre vi muitos admiradores e admiradoras querendo sua atenção e ele sempre muito respeitoso”, relata. “Eu me recuso a acreditar nisso e continuo a defendê-lo”.
Prestes a completar 30 anos em outubro, Camila sonha com o papel de Mimi, em La Bohème, de Puccini. “Eu sempre cantei essa parte na faculdade, mas os coachs e tutores sempre me falaram que era cedo demais. Isso eu tinha 22, 23 anos. Acho que agora estou na idade certa e eu gostaria muito de fazer Mimi internacionalmente e no Brasil. Além de já decorado, tenho o papel no coração. Seria um sonho”, revela a soprano.
Camila Titinger se apresenta nesta quinta-feira (19), como Donanna, na ópera Don Giovanni, de Mozart, uma produção da Garsington Opera, da Inglaterra, que abre a temporada 2019-2020 do Teatro des Champs Elysées, em Paris.