A cantora franco-brasileira Agathe Iracema terminou recentemente sua intensa agenda de shows em Festivais de Jazz de verão na Europa e pretende se dedicar a uma nova fase da carreira, apostando em um trabalho mais autoral.
Nascida em Paris, a jovem de 28 anos diz se encontrar em um período de transição, mas sem abandonar suas origens musicais despertadas muito cedo.
Filha do baixista brasileiro Rubens Santana, Agathe foi embalada desde o berço pelos sons do Brasil e do idioma. “Cresci com essa língua. Quando ia dormir, meu pai cantava canções em português com seu instrumento. Também cresci ouvindo muito Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico César”, relembra.
Os artistas brasileiros dividiram espaço em sua formação com outras descobertas musicais que a influenciaram de maneira muito profunda. “Quando tinha 14 anos, me apaixonei pelo jazz. Via muitos vídeos na internet e tinha muitos discos em casa. Cresci ouvindo Chat Baker, Ella Fitzgerald e Sarah Vaughan”, contou.
O interesse precoce pelo estilo sensibilizou a mãe francesa que decidiu levá-la a uma MasterClass com a célebre cantora americana Sheila Jordan, mulher do pianista que tocava com Charlie Parker.
Conhecida especialista de swing, Jordan apostou no potencial da adolescente. “Ela me disse que eu tinha tudo para continuar esse trabalho. Voltei para casa e avisei: vou ser cantora!”, recorda, em tom de brincadeira. Os familiares deram apoio, mas ela diz não ter projetado uma carreira profissional. “Nunca imaginei fazer disso meu projeto de vida. Pensei que um dia seria atriz, jornalista ou até mesmo (trabalhar) com política”, afirmou na entrevista à RFI.
Mas aos 16 anos, com a voz já se afirmando no estilo jazzístico, a jovem desenvolveu seu primeiro projeto com a criação do Agathe Jazz Quartet, com quem gravou o álbum “Feeling Alive”. O disco tem duas composições próprias, mas a maioria é de interpretações de diversos autores, entre eles Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes.
Influência brasileira
Com a carreira decolando, Agathe passou por uma fase de paixão aguda pelo Brasil, e a busca pela conexão com a musicalidade do país evoluiu para a criação de seu segundo grupo, o Brazilian Musical Band, com a participação do próprio pai e de seu repertório. “Nesta época em conheci mais a cultura musical brasileira, quando procurava músicas para cantar. Assim descobri artistas de outras gerações como Hermeto Paschoal, Pixinguinha”, diz, sem esquecer do contato com o samba-rock e ritmos afro-brasileiros.
Apesar dessa paixão e influência, a única apresentação no Brasil foi durante uma participação em um show de Chico César em São Paulo. Voltar a cantar no Brasil é um projeto ainda distante.
Além da carreira consolidada na França, sua música ultrapassou as fronteiras do México, Europa, norte da África e territórios ultramarinos franceses.
Depois de 10 anos de um ritmo intenso de concertos, Agathe Iracema pretende desacelerar para repensar o futuro de seu trabalho. “Comecei apenas como intérprete, escrevi poucas músicas, mas depois quis parar para refletir e entender o que quero fazer com essas oportunidades e com a sorte que eu tenho”. Ela continua suas apresentações com as duas bandas, mas com um ritmo mais calmo. “Essa era a minha vontade. Estou tomando um tempo para mim, porque o que me importa é encontrar as formas e as letras que fazem sentido para mim. Se fizer sentido para mim, vai fazer para outras pessoas”, acredita.
Nesta nova fase, Agathe pretende se dedicar a composições próprias, além de trabalhar as letras e cuidar dos arranjos com seus parceiros musicais. “É uma fase muito benéfica, de muito trabalho e ensaios com os músicos que eu amo. Vai ser um trabalho onde todas as minhas influências e os trabalhos que desenvolvi até agora estão se misturando. Vamos ver o que vai dar”, diz sorrindo.
Seus novos horizontes vão deixar espaço para a forte contribuição de suas raízes culturais. “A música brasileira sempre me influenciou. Cresci com ela, vai sempre estar presente no meu jeito de fazer música. Quando faço música brasileira, me sinto em casa”, garante.
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