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Cinema brasileiro conquista seis prêmios no Festival Biarritz América Latina

Cena do longa “A Febre”, de Maya Da-Rin, que recebeu o principal prêmio da 28ª edição do Festival Biarritz América Latina neste sábado (5).DR


O cinema brasileiro foi amplamente recompensado na 28ª edição do Festival Biarritz América Latina, onde recebeu na noite deste sábado (5) seis prêmios em várias categorias: o “Abrazo de Melhor Filme” - principal prêmio do festival - foi para o longa “A Febre”, de Maya Da-Rin. “A Vida Invisível de Eurídice Gusmão”, de Karim Ainouz, ganhou o Prêmio do Júri e o Prêmio do Sindicato Francês da Crítica de Cinema. “O Mistério da Carne”, de Rafaela Camelo, ficou com o Prêmio de Melhor Curta-Metragem.

A plataforma profissional do festival concedeu ainda dois prêmios para cineastas brasileiros: Rodrigo John recebeu o Prêmio Bal Lab para seu projeto de documentário “Ceci Bon” e Rafaela Camelo - já agraciada com a recompensa de melhor curta-metragem - recebeu o Prêmio Bal Lab para o seu projeto de primeiro longa de ficção, "Sangue do Meu Sangue".

Com essa premiação em diferentes categorias, a cinematografia brasileira bateu todos os recordes de recompensas neste festival que ocorre anualmente no luxuoso balneário do sudoeste da França. Trinta filmes latino-americanos disputaram nove prêmios no evento que começou na última segunda-feira (30) e acaba neste domingo (6).

“Coincidência irônica”

O primeiro longa de Maya Da-Rin, “A Febre”, recompensado com o principal troféu do festival, filmado em Manaus, relata a história de Justino, um indígena que trabalha como segurança no porto da cidade e é acometido por uma misteriosa febre. Estreando no cinema, o indígena Regis Myrupu, que interpreta Justino, recebeu no último mês de agosto o prêmio de melhor ator do Festival de Locarno, na Suíça.

“A Vida Invisível de Eurídice Gusmão”, de Karim Ainouz, já premiado no Festival de Cannes na seção "Um Certo Olhar", recebeu dois troféus em Biarritz. Esse é o longa escolhido para representar o Brasil na disputa pelo Oscar de melhor filme estrangeiro em 2020. Trata-se de uma adaptação de um romance de Martha Batalha, ambientado nos anos 50 no Rio de Janeiro, que aborda a trajetória de duas irmãs, Guida e Eurídice, cujos destinos são separados por forças patriarcais e machistas. O filme comoveu o público feminino durante as projeções aqui em Biarritz.

O filme "A Vida Invisível de Eurídice Gusmão" conta a história de duas irmãs separadas pelo destino e pelo conservadorismo©Bruno Machado

Karim Ainouz, cineasta brasileiro, célebre por filmes como “Madame Satã” (2002) e “O Céu de Sueli” (2006), que estava em Biarritz até este sábado pela manhã, falou à RFI, antes da premiação, sobre a “coincidência irônica” pelo fato de 2019 ser o ano em que o cinema brasileiro tem florescido de maneira mais exuberante no cenário internacional - com prêmios em festivais como Berlim, Cannes, San Sebastian - e, ao mesmo tempo, ser um ano desastroso, com a ameaça de desmonte do financiamento à Cultura pelo governo de Jair Bolsonaro.

Ele ressaltou, no entanto, que isso não é um “acidente”. O sucesso atual, segundo ele, é o coroamento de uma política de investimento público no cinema, que começou por volta de 2003 e que lhe permitiu crescer como cineasta.

A jovem de 32 anos Rafaela Camelo, que ganhou 2 prêmios no Festival de Biarritz (melhor curta e prêmio Bal-Lab de ajuda a seu primeiro longa), também mostrou apreensão em relação ao futuro do financiamento ao audiovisual público no Brasil. Seu curta-metragem premiado, “O Mistério da Carne”, trata da descoberta da sexualidade entre adolescentes que ela confronta com a religiosidade e o profano.

Cena do curta-metragem "O Mistério da Carne", de Rafaela Camelo.DR

Com a recompensa em Biarritz, ela contará com uma ajuda para produzir seu primeiro longa-metragem, “Sangue do Meu Sangue”. Rafaela teme com os cortes no orçamento do setor da cultura, a perda de espaço principalmente para os jovens cineastas. Ela “tenta encarar a situação com um restinho de otimismo”, mas diz que todos devem ficar muito atentos ao que vai ocorrer com a Ancine (Agência Nacional do Cinema), para que não seja um “desmonte completo” e para que o audiovisual possa ser reconstruído ao final dos três anos do governo atual.

Outra “fonte de angústia”, segundo ela, é o fato de ela trabalhar com as questões LGBT+, temática muito criticada pelo poder atual no Brasil. Rafaela mantém esperança dizendo estar vendo aqui em Biarritz que “as luzes estão voltadas para o Brasil nesse momento”, e que ela não pretende se submeter a interferências ou tratar de outros assuntos em seus filmes.

Filmes peruanos e argentinos também em destaque

Entre os filmes recompensados nesta 28ª edição do Festival de Biarritz, a obra peruana “Canción sin Nombre”, de Melina León, recebeu a Menção Especial do longa-metragem de ficção. Seu filme relata a história da jovem Georgina, grávida de seu primeiro filho, e que sem dinheiro para pagar os gastos do parto recorre à uma clínica gratuita que acaba confiscando o seu bebê.

Menção especial também para o filme "Las Buenas Intenciones", primeiro longa da cineasta argentina Ana Garcia Blaya, que traça as dificuldades de uma família de Buenos Aires, em um cenário de crise afetiva e econômica.

O prêmio de melhor documentário foi para o peruano “La Búsqueda”, de Daniel Lagares e Mariano Agudo, sobre os rastros do conflito entre a guerrilha Sendero Luminoso e o Estado peruano.

O prêmio de público para o melhor documentário ficou com a película argentina “A Vida em Comum”, de Ezequel Yanco, filmada numa comunidade indígena na região desértica do oeste do país.

O Festival Biarritz América Latina termina neste domingo, 6 de outubro.
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