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Túmulo de Allan Kardec no Père Lachaise é atração para brasileiros que visitam Paris



Wendel, do Rio Grande do Norte e Ismael Dantas, de Fortaleza, vieram a Paris e aproveitaram para visitar o túmulo de Allan Kardec, fundador do Espiritismo(Foto: Taíssa Stivanin/RFI Brasil)


Cemitério mais visitado do mundo abriga lendas e outros defuntos famosos, como a cantora Édith Piaf, o escritor Oscar Wilde e o líder do The Doors, Jim Morrison, que morreu na capital em 1971.



No alto de uma colina, um túmulo cercado de flores chama a atenção de quem está de passagem pelo cemitério Père Lachaise, no 20° distrito da capital francesa, neste 1° de novembro chuvoso, véspera de Finados. É ali que repousam os restos do pedagogo francês Allan Kardec, fundador do Espiritismo, morto em 1869.

Desconhecido dos franceses, Hippolyte Léon Denizard Rivali tornou-se Allan Kardec em 1855, época em que as mesas rodantes ficaram famosas na França. Ele passou a acompanhá-las e criou uma teoria que prega que existe uma realidade além da visível, lançando, em 1860, o “Livro dos Espíritos”. Vista como uma moda passageira do século 19, no Brasil cerca de 3,8 milhões de pessoas são adeptas da religião. O país é o maior do mundo em número de seguidores.

Não é se admirar, portanto, que o túmulo de Kardec, um imponente dólmen de granito, seja um local de peregrinação para muitos brasileiros que se aventuram no Père Lachaise. Na manhã desta sexta-feira (1) uma chuva torrencial caía em Paris, mas isso não impediu o brasileiro Ismael Dantas, de Fortaleza, de acordar cedo para visitar o monumento em homenagem ao fundador do Espiritismo. Ismael é o único espírita do grupo de cinco pessoas que veio passar apenas três dias na capital francesa. Seu amigo Wendel o acompanhou no passeio. “Estar aqui era um dos meus objetivos em Paris”, disse.

O cearense que deixa a capital neste sábado, também contou que pretendia visitar a rua onde Kardec fundou a Livraria Espírita, na rue de Lille, no 7° distrito da capital. O Espiritismo entrou em sua vida depois da morte de dois entes queridos. “Foi depois do falecimento de duas pessoas queridas e a partir daí busquei mais conhecimento e estou na religião há pouco mais de um ano”, contou à RFI Brasil. Wendel disse que a visita aconteceu no feriado francês que antecede o dia dos mortos por pura coincidência. “Esperávamos que o cemitério fosse estar mais movimentado”, declara.

O cemitério e suas lendasEm seus 44 hectares, o Père Lachaise recebe todos os anos mais de 3,5 milhões de turistas. Vítima de seu sucesso e do preço da moradia em Paris, em 2015 o preço de uma vaga no cemitério era estimado em cerca de 15.000 por 2m2, em concessão perpétua. Para ter direito de ser enterrado no local, é preciso ter morado e morrido em Paris, ou a família possuir um jazigo em um cemitério parisiense. Esse luxo do além é um privilégio de poucos: não é à toa que no Père Lachaise estão enterrados parentes de famílias abonadas e personalidades mundiais.

A lista é grande e inclui o compositor Chopin (1810-1849), a legendária atriz Sarah Bernhardt (1844 -1923), a cantora Édith Piaf (1915 -1963), ou ainda o poeta Oscar Wilde (1854-1900). O monumento em homenagem ao escritor irlandês, uma esfinge alada, foi construída em 1912 com um bloco de pedra de 20 toneladas. Por conta de suas partes genitais proeminentes causou escândalo na época. Nos anos 90, por razões desconhecidas, os admiradores do poeta irlandês passaram a beijar a escultura com batom.

Para protegê-la, um muro de vidro foi construído em 2011. A sepultura do líder do “The Doors”, Jim Morrison, também foi cercada para impedir o acesso de fãs mais entusiasmados que sentavam na sepultura para tocar “Light My Fire” no violão. Quase 50 anos depois de sua morte, Jim ainda tem uma legião de admiradores, e seu túmulo é obrigatório no roteiro de quem passeia pelo parque.

Outra lenda conhecida envolve o jornalista Victor Noir (1848-1870), pseudônimo de Yvan Salmon, morto com um tiro pelo príncipe Pierre-Napoléon Bonaparte, filho de Napoléon 1°, descontente com a publicação de uma reportagem do jornal “La Marseillaise”, revolucionário e anti bonapartista. O assassinato foi uma das razões que levaram à queda do segundo Império. Ele se tornou, depois do episódio, um símbolo da repressão imperial contra as liberdades individuais.

A estátua que o representa no momento de sua morte, colocada sobre seu túmulo no Père Lachaise, mostra seu pênis ereto debaixo da calça. Por conta dessa virilidade sem nenhuma sutileza, uma lenda surgiu nos corredores do cemitério: encostar nas partes genitais do jornalista ajudariam mulheres com problemas de fertilidade a engravidar. O resultado é que a estátua de bronze está descorada na região pubiana.
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