Milão fecha escolas e Veneza cancela o Carnaval para conter o coronavírus
A Itália registra 132 casos positivos em cinco regiões e o Governo começa a isolar dois dos focos de contágio, que afetam 50.000 pessoas. Três pessoas já morreram
Mascarados usam proteção contra o coronavírus no Carnaval de Veneza.MANUEL SILVESTRI / REUTERS (REUTERS)
DANIEL VERDÚ
Roma - 23 DE FEVEREIRO DE 2020 - 23:00 BRT
A Itália intensifica as medidas de segurança para conter a propagação do coronavírus, enquanto cinco regiões já registram mais de 130 casos de contágio, após a confirmação de 89 somente na Lombardia e dois em Veneza. O decreto-lei aprovado pelo Conselho de Ministros extraordinário realizado na noite de sábado, que busca isolar os focos de infecção com medidas rigorosas contra a mobilidade dos moradores, já começará a surtir efeito. Até o momento, o prefeito de Milão (1,3 milhões de habitantes), Giuseppe Sala, anunciou que a capital econômica da Itália fechará todas as escolas na próxima semana. Também foram cancelados diversos eventos esportivos. Os últimos dois dias do Carnaval de Veneza, segunda e terça-feira da próxima semana, foram suspensos depois que dois casos foram registrados na cidade. Existe o temor de que a crise sanitária leve ao fechamento das fronteiras do país com o resto da UE.
No domingo, o Governo italiano confirmou a terceira morte, uma idosa de Casalpusterlengo, na Lombardia, segundo o jornal La Repubblica. As outras duas vítimas são um homem de 78 anos da localidade de Vo’ Euganeo, na província de Pádua (Vêneto), e uma mulher de 77 anos que esteve em Codogno, mas que faleceu em 20 de fevereiro em sua casa por complicações respiratórias. Um teste realizado após sua morte deu positivo para o vírus.
O último balanço indica 132 pessoas contagiadas em cinco regiões do país, contando os dois turistas chineses que continuam internados num hospital de Roma e que contraíram a doença fora da Itália. Apesar do início da dispersão, o Governo continua sem encontrar a origem do contágio e o suposto “paciente zero”, mas considera que há dois focos claros da infecção: a província de Lodi e seus 10 municípios, e a localidade de Vo’ Euganeo, em Vêneto. Ambas foram afetadas pelo decreto, que desde a manhã deste domingo obriga os cidadãos a permanecer confinados sem poder entrar ou sair desses territórios, submetendo-se a estritas medidas de controle e abastecimento.
Diversos corpos policiais começaram a chegar a essas localidades para implantar controles de acesso e isolar a zona. O primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, anunciou na noite de sábado que mobilizaria a polícia para evitar a entrada e a saída de pessoas e, “se for necessário, também o exército” e que haveria “sanções penais para quem violar as normas”. Uma situação de quase estado de exceção, que poderia se ampliar a outras zonas de contágio se o vírus continuar se propagando. O Executivo considera que, no momento, essa é a única maneira de freá-lo. Conte, que esta manhã cancelou sua presença na missa do Papa celebrada em Bari, ainda não adotou medidas para fechar o espaço aéreo e o tratado de Schengen.
As universidades permanecerão fechadas e os eventos esportivos, incluindo os jogos da Série A que deveriam ser disputados neste domingo (Inter-Sampdoria, Atalanta-Sassuolo e Verona-Cagliari), foram cancelados. O prefeito de Milão, cidade que neste momento realiza a sua semana da moda, sugeriu também que as demais localidades da área metropolitana deveriam seguir sua iniciativa de fechar as escolas, pelo menos durante a próxima semana. “É uma intervenção preventiva. Hoje pensamos fazer isso durante uma semana, e acredito que será suficiente”, afirmou. Por sua vez, o estilista Giorgio Armani decidiu realizar a portas fechadas, sem a presença do público, os dois desfiles previstos para a tarde deste domingo por causa do coronavírus. Em nota, sua firma diz que a medida pretende “proteger o bem-estar de todos os seus convidados”.
O governador da Lombardia, Attilio Fontana, confirmou que os casos na região chegam a 89. Entre eles, o de um jovem de 17 anos que reside em Valtellina, localidade alpina, mas que estuda num instituto de Codogno, a comuna onde se acredita que o contágio teve início. “Em âmbito nacional, superamos os 100 casos”, afirmou Fontana, lembrando que o principal foco continua sendo a província de Lodi. O funcionário explicou que a região da Lombardia colocou dois centros à disposição para receber as pessoas afetadas em quarentena, mas as autoridades buscam outros lugares “porque o número será muito relevante”.
O governador da região de Vêneto, Luca Zaia, confirmou 25 casos no sábado. Há outros dois contágios em Emilia Romagna.