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Covid-19 derruba Bolsas na América Latina e ameaça produção de carros brasileira

Coronavírus derruba Bolsas na América Latina e ameaça produção de veículos no Brasil


Anfavea anuncia que setor pode ter que parar a produção este mês por depender de fornecedores de autopeças da China. Salão do Automóvel é suspenso

Pessoas caminham com máscaras em frente de uma corretora em Tóquio.ATHIT PERAWONGMETHA / REUTERS (REUTERS)

As bolsas das três principais economias latinoamericanas, Brasil, México e Argentina, abriram em queda nesta sexta, lastradas pelos temores inerentes à epidemia de coronavírus, ol Covid-19. O Brasil puxa as perdas, com a confirmação de 13 casos de coronavírus no Brasil num período de dez dias. A notícia derrubou a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que segue derretendo junto com os mercados de toda a América Latina. O pregão abriu nesta sexta-feira sob a queda de 4,65% do fechamento desta quinta, quando o Ministério da Saúde confirmou que dois novos casos de coronavírus em São Paulo foram transmitidos localmente. Ao meio-dia, a queda na Bolsa chegava aos 4,87%, com a Petrobras derretendo 7%. Mas não foi só o mercado financeiro que sentiu o impacto do coronavírus. Na manhã desta sexta, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) admitiu o risco de paralisar a produção de veículos neste mês por problemas no abastecimento de autopeças que vêm da China, maior fornecedor do setor. A indústria brasileira de carros depende diretamente de empresas de Wuhan, local de origem do vírus.

É a primeira vez que o Brasil vê a ameaça concreta do vírus à economia real. O setor automobilístico representa 5% do PIB do país (ou 20% do PIB industrial). Qualquer problema nesse setor afeta diferentes cadeias de produção e por consequência, toda a economia e o humor de investidores. Por isso, a queda da Petrobras e de outras ações como o Viavarejo, que recuava 10%. “Haverá muita volatilidade a partir de agora e não só pelo coronavírus. Entramos num segundo momento desta crise, com a redução de taxa de juros nos Estados Unidos anunciada nesta semana nos Estados Unidos”, explica o analista André Perfeito. O Federal Reserve reduziu as taxas em sessão extraordinária de olho no coronavírus.

No último dia 3, o Banco Central no Brasil soltou um comunicado anunciando que monitora os impactos do surto na economia e que as próximas duas semanas iriam permitir uma avaliação “mais precisa dos efeitos do surto de coronavírus na trajetória prospectiva de inflação no horizonte relevante de política monetária”. Em outras palavras, o BC indica que se houver impactos na inflação —por diminuição de produção de bens (é o caso dos carros) e serviços, por exemplo, o que pode elevar preços finais ao consumidor —a redução de juros é uma alternativa, que seguiria o modelo dos Estados Unidos. O juro menor reduz o custo do dinheiro e, em tese, movimenta o mercado de consumo.

A queda de juros, por consequência, contribui para a alta do dólar no país, encarecendo importações e a produção. Isso porque menos dólares entram no país quando os juros ficam menores. Com menos dólares no mercado, menos oferta de negócios lastreados no câmbio. Não por acaso o Banco Central tem intensificado as operações de venda da moeda americana para segurar a cotação da moeda americana. O dólar chegava a 4,65 reais nesta sexta.

Some-se à instabilidade gerada pelo coronavírus no mercado de câmbio a declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, nesta quinta de que o dólar poderia chegar a 5 reais se “muita besteira” fosse feita. Guedes disse isso na saída de um encontro com empresários da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) da qual participou também o presidente Jair Bolsonaro. Uma frase que fica deslocada para uma autoridade que precisa acalmar os ânimos, ainda mais depois da notícia do PIB de 2019 de 1,1%, com desaceleração de atividade no último trimestre. A queda nos últimos três meses do ano mostra que a atividade patinava antes do mundo sabe que um surto do coronavírus estava chegando a partir de Wuhan, na China.

A notícia da Anfavea chegou quase ao mesmo tempo em que o ministério da Saúde confirmou o nono caso de Covid-19, no Estado da Bahia, uma das regiões que mais recebem turistas do mundo todo. A nova paciente é uma mulher de 34 anos que esteve na Itália. Mas, com a informação de que duas pessoas se infectaram em São Paulo pelo contato com o primeiro paciente confirmado no dia 26 (um homem de 61 anos também vindo da Itália) ficou claro que outros casos vão aparecer em território brasileiro. À tarde, o Ministério da Saúde confirmou outros seis casos novos, num total de 13 infectados brasileiros.

América Latina
O México encerra uma semana de perdas arrastadas pelos resultados do Dow Jones, do S&P e da Nasdaq nos Estados Unidos diante dos temores sobre a epidemia. A bolsa mexicana perdeu na quinta-feira 2,44% em seu principal indicador, o Índice de Preços e Cotações, em um cenário de alta volatilidade e muita incerteza. O peso mexicano vem sofrendo muito com essa volatilidade. Em três semanas, a moeda local caiu 8,5%, depois de um período de muita força em relação ao dólar. Mas os tempos do coronavírus parecem ter encerrado essa fase.

O país segue os passos do Brasil no número de casos confirmados do Covid-19. As autoridades mexicanas da saúde confirmaram, no momento, cinco pacientes infectados e avaliam 35 outros casos suspeitos de pessoas que apresentam os sintomas da doença iniciada em Wuhan. Nesta quinta-feira, o funcionário encarregado do Centro Nacional de Programas Preventivos e Controle de Doenças do Ministério da Saúde, Ruy López, disse que o México não tem suprimentos suficientes para dar conta de uma etapa 3 da epidemia, o que significaria o tratamento hospitalar de 300.000 pacientes.

A Argentina tem dois casos confirmados de coronavírus e outro em estudo, com alta probabilidade de resultado positivo. O mercado local, no entanto, parece mais à mercê das negociações entre o Governo de Alberto Fernández e o FMI e os credores privados do país do que do avanço da pandemia. No país só se fala da dívida externa e a Bolsa de Valores segue o ritmo das últimas notícias sobre a saúde do diálogo com os detentores dos títulos da dívida. Na quarta-feira, o índice Merval da Bolsa de Buenos Aires subiu mais de 7%, na quinta permaneceu próximo de zero e nesta sexta-feira, sim, acompanhou a tendência mundial com uma queda, no meio do pregão, perto de 4%, ficando em 36.700 pontos. Há um mês, beirava os 41.000 pontos.

Na Colômbia, o dólar permanece em níveis historicamente altos e alcançou um novo recorde nesta sexta-feira ao se aproximar de 3.600 pesos. Abriu a 3.522 pesos por dólar e ao longo da manhã flutuou acima de 3.580, como parte da onda de nervosismo causada pelo contágio do coronavírus no mundo, embora nesse país ainda não tenha sido confirmado nenhum caso. Logo após o meio dia, a Bolsa de Valores da Colômbia caía 2,15%.

(Com Gil Alessi e Daniela Mercier)
Fonte: El País
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