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"Estou no lugar certo na hora certa", diz Pia Sundhage ao comentar evolução do futebol feminino no Brasil

É consenso entre jogadoras e a técnica da seleção brasileira de que o futebol feminino no Brasil atravessa um bom momento e reflete um otimismo renovado com a maior visibilidade na mídia e das ambições de dar um grande impulso à modalidade no país.
Foto: CBF/divulgação
A seleção brasileira feminina de futebol ocupa atualmente o 9° lugar do ranking da Fifa. 


Apesar da decepção com a derrota do Brasil para a seleção francesa pelo Torneio Internacional da França, neste sábado (07), que marcou o fim da invencibilidade da treinadora sueca à frente da equipe e a continuidade de um longo jejum de vitórias sobre as “Bleues”, há otimismo quando o assunto é a evolução do futebol feminino.

O décimo confronto com a França terminou em 1 a 0 para as anfitriãs da competição, que contaram com o apoio de mais de 17 mil torcedores que lotaram o estádio Hainaut de Valenciennes, norte do pais. O entusiasmo do público local com a sua seleção, é revelador de quanto o futebol feminino evolui nos últimos anos na França.

Sede da Copa do Mundo de Futebol feminino no ano passado, a França colhe os frutos de investimentos de vários anos na modalidade, tanto nos clubes quanto no âmbito internacional, apesar de que as “Bleues”, como são conhecidas as jogadoras, ainda não conquistaram nenhum grande título mundial.

Mas no Brasil, que ocupa atualmente o 9° lugar no ranking da Fifa de futebol feminino, também há avanços e motivos para otimismo principalmente com o futuro da modalidade, de acordo com as três jogadoras ouvidas pela Rádio França Internacional e a técnica.

A goleira Bárbara, titular da seleção e que atua no clube Sociedade Esportiva Kinderman, de Santa Catarina, exalta o bom momento desse esporte no país: “O futebol feminino vem crescendo a cada dia. Quantas jogadores de fora hoje estão voltando ao país, elas preferem atuar em grandes times brasileiros. Isso é muito bom. O campeonato brasileiro é uma das opções e tem contribuído para essa evolução”.

Outra jogadora da defesa, a lateral esquerda Tamires, do Corinthians, destaca alguns fatores que fizeram o futebol feminino crescer no Brasil. Ela, que já atuou nos Estados Unidos e Dinamarca, lembra que muitos jogos hoje são transmitidos por importantes emissoras de televisão, como foi o caso da Copa do Mundo, acompanhada por milhares de pessoas ao vivo. Certamente, o público começa a ver o futebol feminino com outros olhos, segundo Tamires.

“A visibilidade cresceu muito. Hoje temos a televisão cobrindo todos os jogos e acompanhando a fundo e entendendo o processo que a modalidade está passando. O ‘empoderamento’ da mulher tem ajudado muito a gente crescer e acreditar em nós mesmas”, ressalta.  “É cultural, cada país vai conquistando mais espaço da maneiro que pode e que consegue. No Brasil estamos conseguindo, com passos bem dados, alcançando este espaço. Hoje nós temos planejamento e preparação muito melhores. Temos muito mais mulheres sonhadoras, acreditando nos seus sonhos e correndo atrás deles. A gente também se espelha em mulheres de outros países. Essa união faz a força e a diferença”, afirma.

Assim como Bárbara e Tamires, a atacante Cristiane também celebra a evolução do futebol feminino no país, que já foi proibido no passado. Um decreto de 1941 do então presidente Getúlio Vargas incluiu o futebol como um dos “esportes incompatíveis com natureza feminina”. Só em 1979 essa decisão foi revogada. Desde então as mulheres percorreram um longo caminho até chegarem a um patamar que hoje é celebrado por quem, fora e dentro de campo, luta para mudar as mentalidades.

Cristiane, de 34 anos, que já atuou muitos anos no exterior, em seis diferentes países, entre eles a China, Alemanha e Suécia, voltou no ano passado ao Brasil. Passou pelo São Paulo e hoje defende o Santos. Ela é um dos exemplos de atletas que retornaram ao Brasil para atuar diante da evolução do futebol feminino no pais.

“Evoluímos muito, com uma mídia muito grande com o futebol feminino e o campeonato brasileiro é o mais equilibrado que já se teve. Temos atletas retornando para o Brasil, o que mostra que estão olhando mais para a modalidade. Temos que comemorar. São lutas e brigas. Batemos de frente com muita gente para conquistar as coisas e ter visibilidade. É muito importante não só para o futebol, mas também para outras modalidades do esporte feminino. É sempre uma luta para conseguir espaço para poder divulgar, crescer e ganhar”, diz. 

Quando comparada com a evolução dos outros países, Cristiane lembra que é preciso dar continuidade e regularidade a um trabalho que ganha destaque em competições importantes.

“Não se pode parar. Sabemos que tem uma tendência de quando é Copa e Olímpiadas fica aquele alvoroço e depois todo mundo esquece. Então, tem que dar continuidade. Outros países estão evoluindo e no futebol feminino não podemos ficar para trás, nos contentar (com a maior sibilidade) e, sim, ir sempre para frente”, reforça.

No lugar e momento certos

Diante desse novo embalo do futebol feminino, a treinadora Pia Sundhage se considera uma privilegiada. Contratada em julho do ano passado para dar um novo dinamismo e elevar a qualidade técnica da equipe nacional, a treinadora sueca, com sua experiência nos gramados dos Estados Unidos e da Europa, continua entusiasmada com o desafio que a Confederação Brasileira de Desportos (CBF) ofereceu para sua carreira.

“Eu sou muito sortuda, porque as coisas estão acontecendo no Brasil. E falo da CBF e do programa para o futebol feminino, motivo pelo qual eles me chamaram. Tenho o sentimento de que eles querem fazer algo realmente importante, tentando trazer mudanças de atitudes em relação ao futebol feminino em geral. É um pais muito acolhedor e há muitas pessoas acolhedoras. Por isso tenho a sensação de estar no lugar certo na hora certa”, diz.
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