BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, alertou que o Brasil terá um desafio maior do que países do hemisfério norte no enfrentamento ao coronavírus porque precisará lidar com a nova doença, que teve recorde de novos casos nesta quarta-feira, ao mesmo tempo em que ocorre o pico tradicional de hospitalizações por doenças respiratórias.
Funcionário municipal desinfecta área do porto de Manaus 15/04/2020 REUTERS/Bruno Kelly
Segundo documento do ministério, no ano passado, quando não havia Covid-19, o pico das hospitalizações por síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no país deu-se entre 15 de abril e 30 de junho, isto é, entre as semanas epidemiológicas de números 16 e 26.
O pico das hospitalizações em 2019 ocorreu na semana de número 22, entre os dias 27 de maio e 2 de junho, quando o país ultrapassou a marca de 2 mil hospitalizações por síndromes respiratórias.
O cenário das hospitalizações registrado no ano passado, segundo técnicos da pasta, refere-se aos leitos em que pacientes precisaram de suporte respiratório devido a uma série de infecções por vírus e bactérias, como Influenza A e B e o H1N1.
A preocupação da pasta é que, em 2020, esse tradicional período mais crítico das hospitalizações por síndromes respiratórias seja ainda mais severo porque agora haverá a concorrência com pacientes portadores do novo coronavírus.
Em entrevista coletiva nesta quarta-feira no Palácio do Planalto, o ministro da Saúde chamou a atenção para o fato e destacou que o Brasil vai ter um desafio a mais que outros países no combate ao coronavírus.
“Nós estamos no outono, entrando no inverno e vamos ter a nossa sazonalidade de influenza e vamos tê-la juntos, sobreposta com a de corona”, disse.
Mandetta disse que no Sudeste, onde está a região de maior densidade populacional do país, o pico das síndromes respiratórias é no mês de maio. Puxada pelos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, a região é a que lidera o número de casos e mortes pelo novo coronavírus.
“É onde você está entrando com ela (síndrome respiratória) e com o corona juntos. A gente sempre soube que maio seria o nosso mês mais complexo porque elas potencializam, uma potencializam a outra”, disse.
Nesta quarta-feira, o secretário de Saúde de São Paulo, José Henrique Germann, disse que os leitos das unidades de terapia intensiva (UTI) do Estado podem atingir sua lotação no final de maio ou no final de julho por causa da pandemia de Covid-19.
Não bastasse, o ministro da Saúde disse que em junho e julho o pico das síndromes respiratórias chega à Região Sul, onde há proporcionalmente o maior número de idosos em relação à população no país.
A chegada ao pico das hospitalizações por questões respiratórias no Brasil se dá ainda em um momento delicado politicamente, no qual Mandetta, o secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, e o secretário-executivo da pasta, João Gabbardo, admitem publicamente que devem deixar os cargos nos próximos dias.
Sob Mandetta, o ministério tem defendido a manutenção de medidas de isolamento social adotada por parte dos Estados e municípios para evitar uma elevação rápida de internados pelo Covid-19 e um colapso dos sistemas de saúde.
O presidente Jair Bolsonaro, com quem Mandetta travou duros embates nos últimos dias, quer um relaxamento de medidas de contenção social por defender que é preciso contrabalançar ações de saúde e manutenção da atividade econômica e do emprego.
Gestores de saúde receiam que esse afrouxamento pode levar a uma explosão do número de casos, o que pode levar até a uma falta de leitos para internações de tratamento de Covid-19 e demais síndromes respiratórias.
Segundo boletim do ministério divulgado nesta quarta-feira, o Brasil registrou um recorde de casos de infecção pelo novo coronavírus, com 3.058 pessoas, o maior número diário desde o dia 8 de abril, chegando a um total de 28.320 portadores da doença.
Nesta quarta, o Brasil igualou o recorde da véspera de mortes pelo novo coronavírus em 24 horas, com 204 óbitos, totalizando 1.736 mortes em decorrência da Covid-19.
Todos os níveis de governo têm se mobilizado para ampliar a oferta de leitos hospitalares e de UTI antes da chegada do pico da doença. Entretanto, alguns Estados, como Amazonas e Amapá, já apresentam saturação dos leitos ocupados.