A demissão do ministro da Saúde do Brasil tem forte repercussão na Europa nesta sexta-feira (17). Rádios, TVs e jornais noticiam a decisão do presidente brasileiro de substituir o "popular" Luiz Henrique Mandetta em plena crise do coronavírus.
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Em manchete, o jornal Le Monde afirma que a demissão de Luiz Henrique Mandetta nessa quinta-feira (16), aconteceu "em plena pandemia" e que o ministro era "o símbolo da luta contra a Covid-19" no Brasil.
O correspondente do diário no Brasil, Bruno Meyerfeld, escreve que o afastamento de um ministro da Saúde em plena crise sanitária mundial é "bombástico”, mas não surpreendeu ninguém em Brasília.
Desde o início da epidemia, "uma verdadeira guerra fria opunha o presidente brasileiro de extrema direita, um ‘coronacético’ assumido, ao seu ex-ministro da Saúde, um ‘corona-alarmista’ convencido", explica o texto do artigo.
Ce ne serait plus qu'une question de jours, ou d'heures... #bresil #coronavirus #mandetta https://t.co/uZ9YIUv7sS— Bruno Meyerfeld (@brunomeyerfeld) April 15, 2020
Libération afirma que no Brasil de Bolsonaro é assim que as coisas acontecem. O jornal lembra que a demissão do “popular” Mandetta desagradou a população, que reagiu com panelaços ao anúncio do presidente, em várias cidades do país.
Desacordo totalA charge que melhor ilustra a demissão do #Mandetta do Ministério da Saúde...— Lourival Borges (@Lourival_Borges) April 16, 2020
Nesse desgoverno não tem espaço p/ pessoas racionais e que seguem princípios científicos, mesmo diante de uma pandemia. O que prevalece é a ignorância!#BolsonaroVirus#BolsonaroGenocida pic.twitter.com/2MnhuXCO4d
O diário britânico The Guardian publica que o motivo da demissão foi a diferente concepção que Bolsonaro e Mandetta tinham sobre a luta contra a doença: enquanto "o líder da extrema-direita" dá uma controversa resposta à Covid-19, priorizando o impacto econômico, o ministro defendia o confinamento da população.
Já o jornal espanhol El País destaca que Mandetta ganhou popularidade graças à clareza com que falava da doença, com um "estilo direto e didático", baseando-se sempre na ciência e sob forte pressão de oposição de Bolsonaro.
O desacordo entre os dois homens sobre o coronavírus era "total", completa a rádio francesa RTL. Mandetta foi substitído pelo oncologista Nelson Teich, que é médico de Jair Bolsonaro, ressalta a emissora francesa, informando que durante sua primeira entrevista coletiva o novo ministro brasileiro garantiu que irá abordar a crise do coronavírus de maneira técnica e científica.Bolsonaro escolheu o médico oncologista Nelson Teich para substituir Mandetta. Teich se reuniu na tarde desta quinta-feira com o presidente, pouco antes de o mandatário se encontrar com o agora ex-ministro.https://t.co/XSr2LrjsPY— EL PAÍS Brasil (@elpais_brasil) April 16, 2020
Período de incerteza
Segundo o correspondente da RFI no Brasil, François Cardona, a saída de Mandetta abre um "período de incertezas no Brasil". Nelson Tech é favorável a uma campanha de testes em massa para conhecer melhor a propagação do vírus no país. Mas, por enquanto, as autoridades não têm condições de fazer isso rapidamente em todo o país, informa Cardona.
Até essa quinta-feira, a Covid-19 tinha provocado a mortes de 1.924 pessoas e contaminado 30.425. Mas o correspondente da RFI revela que um coletivo de pesquisadores universitários, reunido no grupo Covid-19, estima que o número de casos de coronavírus no Brasil seria "quinze vezes maior". De acordo com os pesquisadores, mais de 300.000 pessoas estariam infectadas no país. O grupo Covid-19 teme “um hecatombe” nas próximas semanas, conclui Cardona.