BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, avisou sua equipe na noite de terça-feira que deve ser demitido pelo presidente Jair Bolsonaro até o final desta semana, disseram à Reuters duas fontes que acompanham o processo.
Foto: José Dias/PR
A conversa aconteceu na noite de terça-feira, depois que Mandetta chegou da reunião no Palácio do Planalto. Durante o encontro ministerial, que discutiu principalmente o que fazer no pós epidemia de coronavírus, o ministro pouco participou.
Ao chegar de volta ao ministério, Mandetta chamou a equipe e avisou que deveria ser demitido até o final desta semana e que Bolsonaro já procurava um substituto. O ministro avisou que ficaria até sua saída ser formalizada e um substituto ser encontrado.
Na conversa, alguns de seus auxiliares sugeriram que Mandetta então pedisse demissão, mas o ministro se recusou. Manteve o que tem dito até agora: só sai demitido pelo presidente.
As duas fontes ouvidas pela Reuters atribuíram o aviso a um “feeling” do ministro ou a “recados” que ele tenha recebido no Planalto. Não houve ainda uma conversa formal entre o ministro e Bolsonaro ou o ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto.
Mandetta se baseia no esfriamento da relação com os ministros militares, que lhe davam apoio explícito até agora. Na semana passada, antes de uma reunião ministerial de emergência chamada por Bolsonaro, o ministro também conversou com seus auxiliares e afirmou que seria demitido. Chegou a cobrar na reunião que Bolsonaro o demitisse porque não mudaria suas posições.
No entanto, durante aquele dia os militares e outros ministros civis que apoiavam o ministro haviam convencido o presidente a mudar de ideia. Mandetta deixou o Planalto no cargo e, dois dias depois, em uma audiência privada com Bolsonaro, acertou uma trégua, ainda que frágil.
Nos últimos dias, entretanto, o ministro perdeu o apoio quase incondicional de demais ministros. A entrevista que deu ao programa Fantástico, da TV Globo, no último domingo, em que afirmou que havia uma “dubiedade” nas informações passadas pelo governo e que as pessoas não sabiam se ouviam o ministro ou o presidente, irritou os ministros.
A definição da visão dos militares foi dada na terça pelo vice-presidente Hamilton Mourão que, pelo cargo, costuma ser o porta-voz desse pensamento: Mandetta cometera uma “falta grave” e merecia “um cartão”. Mourão defendeu ainda que não era hora de trocar o ministro, mas ressalvou que essa era um decisão do presidente.
A entrevista foi vista como um erro pela própria equipe de Mandetta. De acordo com uma das fontes, alguns de seus secretários mais próximos disseram a ele que não deveria ter posto mais lenha em uma fogueira que já estava apagando. O ministro admitiu que teria errado e avisou que iria “submergir”. O estrago, no entanto, estava feito.