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Ministro da Saúde promete “plano de saída” da quarentena e diz que recuará em caso de erro de cálculo

Nelson Teich disse que não é possível aplicar testes em massa no país e que Brasil não pode sobreviver “um ano e meio parado”. Ele apresentou o general Eduardo Pazuello como número 2 da pasta
FOTO: ERALDO PERES / AP
Ministro da Saúde, Nelson Teich, durante coletiva de imprensa na quarta-feira (22/04). 

JOANA OLIVEIRA / EL PAÍS
São Paulo - 22 ABR 2020 - 20:50 BRT
O ministro da Saúde, Nelson Teich, informou nesta quarta-feira que o Governo anunciará até a semana que vem um plano para que as cidades e Estados decidam sobre a flexibilização do isolamento social contra a pandemia de coronavírus. Teich disse que serão consideradas as particularidades de cada lugar, bem como o avanço da doença em cada região, mas acrescentou que é “impossível” para um “país sobreviver um ano, um ano e meio parado”. “O afastamento [social] é uma medida natural e lógica no início, mas não pode ser aplicado sem um plano de saída”, afirmou o ministro. Teich também anunciou que o general Eduardo Pazuello será o novo secretário-executivo da Saúde, o número dois da pasta.

Depois de o ministério registrar mais 165 mortes por covid-19 —o total de óbitos chega a 2.906— e 45.757 casos confirmados no país, Teich afirmou que o “Brasil é um dos países que melhor performa em relação à covid” e que o número pessoas infectadas é baixo se comparado com o total da população brasileira. O ministro citou que o Brasil tem 8,7 de taxa de mortos por cada um milhão de habitantes, mas, pelos números oficiais mais recentes, essa taxa está em 13,7. Ainda assim, o número é, como Teich disse, muitas vezes menor que o da Espanha ou que nos EUA (135 por milhão) —embora o ministro também tenha citado as taxas desses países de forma equivocada.

O ministro acredita que, mantendo-se as taxas atuais, o Brasil não atingirá a estimativa de 70% da população em contato com a doença. Prometeu recuar em caso de erro de cálculo. “O monitoramento contínuo vai ter indicadores que dizem: ‘volta’. Quando você conhece pouco alguma coisa, você não consegue prever o que vai acontecer. Então tem que ser rápido o bastante para fazer um diagnóstico e tomar atitude”, disse. “Então uma das coisas que vai ter é: se acontecer isso aqui, recua”.

Apesar de reconhecer o déficit de testes no Brasil —e a consequente subnotificação de casos e óbitos em decorrência do coronavírus— Teich criticou os modelos matemáticos que fazem projeções sobre os números de morte por covid-19. O ministro mencionou o estudo realizado pelo Imperial College, de Londres, que estima mais de um milhão de mortes no pior cenário para o Brasil. Com medidas de isolamento social adequadas, esse número cairia para 44 mil óbitos, indica o estudo. “Isso é impossível”, disse Teich, referindo-se à grande diferença numérica entre ambos cenários. O ministro também afirmou que quando tais pesquisas “geram um número muito alarmante”, têm o efeito de aumentar o medo dos cidadãos.

“A gente hoje tem 43,5 mil casos do coronavírus no Brasil. Se a gente imaginar que pode ter uma margem de erro grande, digamos, hipoteticamente, de 100 vezes, estamos falando em quatro milhões de pessoas. Nós hoje somos 212 milhões. Então, fora da covid-19 tem 208 milhões de pessoas que continuam com as suas doenças, com os seus problemas, e que têm que ter isso tratado. E o que é que representam, hoje, quatro milhões de pessoas num país como esse? 2% da população”, argumentou. Sem citar as situações do Amazonas e do Ceará, considerados em estado de emergência pelo contágio em relação ao número populacional, anunciou envio de respiradores e a esses pontos do país.

Sem detalhar seus planos de controle da epidemia à frente do ministério, Teich limitou-se a seguir em um tom de otimismo: “Temos condição de deixar o sistema de saúde mais forte para o pós-covid-19”, disse o novo ministro da Saúde.

Braço direito
O braço direito escolhido pelo novo ministro da Saúde para a missão de combate ao coronavírus é o general Eduardo Pazuello, que comandou, de 2018 até o início deste ano, a Operação Acolhida, de apoio humanitário a refugiados venezuelanos em Roraima. Depois disso, Pazuello assumiu o comando militar do Exército na Amazônia, em Manaus. “Ele tem muita experiência em logística, compra e distribuição, algo muito importante para o ministério neste momento”, afirmou Teich.

Ex-comandante da Base de Apoio Logístico do Exército, o novo secretário-executivo da Saúde —que assume o cargo no lugar de João Gabbardo, chefe do posto na gestão de Luiz Henrique Mandetta— também trabalhou como coordenador logístico das tropas do Exército na Olimpíada de 2016.

Pazuello converte-se, assim, no mais recente reforço do Governo de Jair Bolsonaro, que celebrou, em fevereiro, o fato de haver montado um governo “todo militarizado”.
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