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Investimento Direto Estrangeiro deve cair 40% em 2020 por causa da pandemia

Relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, Unctad, indica que retomada global deve ocorrer apenas em 2022; volume total deve ficar abaixo de US$ 1 trilhão, pela primeira vez desde 2005.

Foto: OIT/Marcel Crozet
Multinacionais cancelaram projetos de construção, como esta em Yangon, em Mianmar


Os fluxos de Investimento Direto Estrangeiro, IDE, devem cair até 40% este ano, de acordo com o Relatório Global de Investimento da Conferência da ONU sobre Comércio e Desenvolvimento, Unctad, publicado esta terça-feira.

Pela primeira vez desde 2005, esse valor deve ficar abaixo de US$ 1 trilhão. Para o próximo ano, a previsão é de queda leve entre 5% e 10%. Uma recuperação só deve acontecer em 2022.

Previsões
Em entrevista à ONU News, o chefe da Divisão Africana e Países Menos Avançados da Unctad, Rolf Traeger, explicou as grandes conclusões da pesquisa.

“Nesse clima, obviamente, para as empresas investirem, ainda mais no exterior, estão muito diminuídos. Tecnicamente, também há um problema. Os lucros das filiais das multinacionais, os lucros gerados nos países receptores do investimento, tambem serão reduzidos e são uma fonte muito importante desse investimento. Com uma queda muito abruta dos lucros, a fonte de financiamento também está diminuindo abruptamente.”

Segundo o especialista, a crise não afetará todas as regiões da mesma forma. Alguns países, produtores de matérias primas e mais dependentes do investimento externo, serão os maiores prejudicados.

“Os tipos de países mais afetados vão ser os países em desenvolvimento, incluindo na África, América Latina e, em certa medida, Ásia. Principalmente, porque a grande parte do investimento dirigido à África e à América Latina se aplica, principalmente, na produção de commodities, seja agrícola, café, algodão, ou energia, principalmente petróleo, gás e carvão, ou metais. E são justamente esses setores que estão sofrendo mais diretamente os efeitos da recessão mundial.”

Brasil e Angola
Nos países de língua portuguesa, Angola registrou redução nos investimentos diretos estrangeiros, quando várias empresas retiraram capital do país, confirmando uma tendência que ocorre desde 2016. Em 2019, uma carteira de US$ 4 bilhões abandonou Angola, ao contrário de uma perda de US$ 6,5 bilhões sofrida em 2018. 

Já no Brasil, houve um aumento de cerca de 20% dos investimentos num total de US$ 72 bilhões, com destaque para extração de petróleo e gás, e eletricidade. Mas no primeiro trimestre deste ano, o fluxo caiu para cerca de metade do valor médio de 2019. 

Cabo Verde teve uma ligeira descida, passando de US$ 104 milhões para US$105 milhões. 

Em Portugal, os investimentos diretos cresceram cerca de 21% ultrapassando os US$ 8,2 bilhões. Moçambique teve uma queda de 18%, com os investimentos no montante de US$ 2,2 bilhões de dólares.

Alta também na Guiné-Bissau de quase 48%, passando de US$ 21 milhões para US$ 31 milhões. Em são Tomé e Príncipe foram investidos US$ 57 milhões, um aumento de 84% face aos US$ 31 milhões do ano anterior. Por fim, Timor-Leste teve uma subida de mais de 56%, com US$ 75 milhões de investimento.

Previsões
Segundo o secretário-geral da Unctad, Mukhisa Kituyi, “as perspectivas são incertas”, porque “dependem da duração da crise da saúde e da eficácia das políticas que combatem os efeitos econômicos da pandemia.”

A Covid-19 afeta o investimento sob todos os ângulos, oferta, demanda e políticas.

Por um lado, os bloqueios desaceleram projetos de investimento existentes. Por outro, as empresas multinacionais reavaliam novos projetos devido as perspectivas de recessão. Finalmente, medidas adotadas pelos governos incluem novas restrições ao investimento.

As 5 mil maiores empresas multinacionais do mundo, responsáveis pela maior parte do IDE global, baixaram suas projeções de lucro para o ano cerca de 40%, em média. Algumas indústrias estão agora prevendo prejuízos. 

Segundo o relatório, o investimento de multinacionais aumentou 72%, mas ainda representa apenas metade do valor recorde, atingido em 2007.

O indicador cresceu cerca de 13% na Europa, sobretudo devido a empresas holandesas e alemãs. Nos EUA, depois do investimento ser negativo devido à repatriação de fundos em 2018 causada por um benefício fiscal, os valores são agora positivos. As empresas japonesas continuam sendo os maiores investidos do mundo, tendo investido um recorde de US$227 biliões no ano passado, um aumento de 58%.

Fusões e aquisições
Tanto os novos anúncios de projetos de investimento inicial quanto as fusões e aquisições caíram mais de 50% nos primeiros meses de 2020. No financiamento global de projetos, uma importante fonte para projetos de infraestrutura, os novos negócios caíram mais de 40%.

Após declínios consideráveis  em 2017 e 2018, os investimentos estrangeiros diretos tinham subido no ano passado cerca de 3%, ou US$ 1,54 trilhão. 

Fluxos para economias de rendas alta e média aumentaram, enquanto os das economias em desenvolvimento caíram um pouco. Os fluxos para economias menores e vulneráveis  permaneceram estáveis.

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