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Mudança climática pode levar mundo ao um dos quinquênios mais quentes; estudo apoiado pela ONU alerta sobre possível falha de metas para manter aumento da temperatura global bem abaixo de 2 ° C; emissões de CO2 cairão entre 4% e 7% após políticas de confinamento; Covid-19 impede monitoria das mudanças.

ONU NEWA - 9 Setembro 2020 - Mudança climática

Um estudo publicado esta quarta-feira pelas Nações Unidas diz que o ritmo da mudança climática não parou devido à Covid-19. O novo relatório United in Science 2020, compila dados de diversas agências científicas e é coordenado pela Organização Meteorológica Mundial, OMM.

O relatório destaca que as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera estão em níveis recordes e continuam aumentando. 

Bloqueios

As emissões de gás carbônico caminham em direção a níveis pré-pandêmicos, após um declínio temporário causado pelo bloqueio e pela desaceleração econômica. 

A previsão é que no período entre 2016 e 2020, o mundo venha a ter um dos quinquênios mais quentes já registrados. Essa tendência provavelmente continuará.

De acordo com a publicação, a esse ritmo não se está no caminho de cumprir as metas acordadas pelos países para manter o aumento da temperatura global bem abaixo de 2 ° C ou a 1.5 ° C acima do nível pré-industrial.

Em Nova Iorque, o secretário-geral Antonio Guterres realçou o recorde dos cinco anos desde a assinatura do Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas como o mais quente da história humana. As temperaturas globais médias estarão 1.1 ° C acima dos níveis pré-industriais.

Seis ações

Por isso, o chefe da ONU realçou seis ações relacionadas ao clima para “moldar a recuperação”, começando pela geração de novos empregos e negócios por meio de uma transição limpa e verde.

Em segundo lugar, Guterres sugeriu que o dinheiro dos contribuintes deve ser usado para resgatar empresas estando associado a empregos verdes e ao crescimento sustentável.

Em terceiro, ele pediu que se potencialize a tributação que leve a uma mudança da economia cinza para verde e para tornar as sociedades e as pessoas mais resilientes.

Como quatro ponto, o secretário-geral pediu o uso de fundos públicos para investir no futuro e ir para setores e projetos sustentáveis que ajudem o meio ambiente e o clima.

Em quinto, Guterres apontou que riscos e oportunidades climáticos sejam incorporados ao sistema financeiro, bem como a todos os aspectos da formulação de políticas públicas e infraestrutura.

Por último, o chefe da ONU disse que é preciso que a comunidade internacional atue em conjunto.

Impactos 

O documento destaca haver “impactos crescentes e irreversíveis das mudanças climáticas, afetando geleiras, oceanos, natureza, economias e condições de vida humana”. Entre esses efeitos estão perigos frequentemente relacionados à água, como secas ou inundações. 

Ciclones 

O estudo cita Moçambique pela passagem dos ciclones tropicais Idai e Kenneth causando centenas de mortes em março e abril de 2019. 

Desde 2016, as secas têm causado grandes impactos, tanto na sociedade quanto na economia, em diversas partes do mundo.

A pesquisa ilustra ainda os incêndios generalizados na floresta amazônica, com impactos ambientais dramáticos em 2019 e 2020. O leste da Austrália registrou uma série de fogos.

O estudo documenta ainda como a Covid-19 tem impedido a capacidade de monitorar essas mudanças por meio do sistema de observação global.

O relatório revela que as concentrações atmosféricas de CO2 não mostraram sinais de pico e continuaram aumentando para novos recordes. Várias estações de referência na rede global da OMM relataram concentrações acima de 410 partes por milhão no primeiro semestre de 2020.

A previsão é que as reduções nas emissões de gás carbônico este ano impactem apenas ligeiramente a taxa de aumento das concentrações atmosféricas, que são o resultado de emissões passadas e atuais, bem como a vida útil muito longa do CO2.

CO2

De acordo com o documento, são necessárias reduções sustentadas nas emissões para zero líquido para estabilizar as mudanças climáticas. 

As emissões de CO2 este ano cairão cerca de 4% a 7% devido às políticas de confinamento da Covid-19. A trajetória da pandemia e as respostas dos governos para enfrentá-la ainda definiram o valor exato da queda.

Durante o pico do bloqueio, no início de abril passado, as emissões globais diárias de CO2 fóssil caíram 17%, um nível sem precedentes em comparação com 2019. 

Apesar disso, o relatório ressalta que as emissões ainda correspondiam aos níveis de 2006. Essa situação ilustra tanto o crescimento acentuado nos últimos 15 anos quanto a dependência contínua de fontes fósseis de energia.

Negociações

No início de junho deste ano, as emissões globais diárias de CO2 fóssil haviam retornado para 5% abaixo dos níveis de 2019, que alcançaram o novo recorde de 36,7 giga toneladas no ano passado. Esse valor corresponde a mais 62% do que no início das negociações sobre mudanças climáticas em 1990.

Para o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, 2020 tem sido um ano sem precedentes para as pessoas e o planeta. A pandemia interrompeu vidas em todo o mundo. Ao mesmo tempo, “o aquecimento do nosso planeta e as perturbações climáticas têm continuado a bom ritmo”.

O chefe da ONU realça que nunca esteve tão clara a necessidade “de transições limpas, inclusivas e de longo prazo para enfrentar a crise climática e alcançar o desenvolvimento sustentável”. 

Para ele, é preciso “transformar a recuperação da pandemia em uma oportunidade real para construir um futuro melhor.” O representante destacou ainda que o mundo precisa de “ciência, solidariedade e soluções” ao apresentar o documento.

Calor

O secretário-geral da OMM, Peeteri Taalas, alertou para o contínuo aumento das concentrações de gases de efeito estufa que já estão em seus níveis mais altos em 3 milhões de anos. 

Ele disse que enquanto isso, grandes áreas da Sibéria viram uma onda de calor prolongada e notável durante o primeiro semestre de 2020, “o que teria sido muito improvável sem a mudança climática antropogênica”. 

Com 2016-2020 a caminho de ser o período de cinco anos mais quente já registrado, o relatório mostra que embora muitos aspectos da vida humana tenham sido perturbados este ano, a mudança climática continuou inabalável.

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