O Vaticano informou nesta segunda-feira (12) que vai abrir em Roma um centro para acolher refugiados. O objetivo é receber migrantes que entraram na Itália após terem passado por corredores humanitários.
O abrigo romano será instalado em um edifício que pertence a religiosos na capital italiana, colocado à disposição do papa pelas freiras sicilianas da "Divina Providência de Catânia". O prédio será adaptado para acolher cerca de 60 refugiados, informou o capelão responsável pelas obras de caridade do papa Francisco.
O cardeal polonês Konrad Krajewski – também chamado pela imprensa italiana de "Robin Hood" do papa – explicou em comunicado que o centro abrigaria principalmente mulheres solteiras ou com filhos, além de famílias vulneráveis, durante o seu período inicial de chegada à Itália depois de passar pelos corredores humanitários.
O centro de acolhimento será administrado pela comunidade católica italiana San Egidio, que organiza corredores humanitários da Síria, África e Grécia desde 2015.
Papa defende cada vez mais refugiados
A decisão é anunciada na esteira de declarações feitas pelo papa Francisco desde 2017 quando, durante a Jornada Mundial dos migrantes e refugiados, o sumo pontífice defendeu “um primeiro acolhimento apropriado e digno” para essa população. Na época, ele pregou pelo direito dos filhos de refugiados nascidos em solo italiano, dos menores que entram no país desacompanhados, e preconizou “boas práticas de integração”.
A posição do chefe do Vaticano vai na contramão da política migratória italiana, que nesse mesmo momento recusava que barcos de ONGs humanitárias atracassem em seus portos após terem resgatado migrantes no Mediterrâneo.
Recentemente, o papa Francisco chamou novamente a atenção para a situação dos refugiados. Durante sua encíclica dedicada à fraternidade no início de outubro, o sumo pontífice reiterou a necessidade de acolher os migrantes com dignidade.
Em sua mensagem do Angelus em meados de setembro, Francisco também chamou a atenção para a situação dos refugiados na ilha grega de Lesbos, onde o acampamento de Moria foi destruído deixando 13 mil pessoas sem teto. Na época, o sumo pontífice expressou sua “proximidade” com os refugiados.
Visitante indesejável
O anúncio da abertura do refúgio para migrantes é feito no mesmo dia em que o papa Francisco recebeu uma visita polêmica no Vaticano. O pontífice se encontrou, em audiência privada, com o cardeal australiano George Pell. O religioso foi absolvido em abril em um caso de pedofilia na Austrália e retornou a Roma no final de setembro, após mais de três anos de ausência.
O cardeal foi condenado em março de 2019 a seis anos de prisão por estupro e agressão sexual contra dois coroinhas em 1996 e 1997 na Catedral de São Patrício em Melbourne (sudeste), da qual era arcebispo. Na época, o Vaticano reagiu a esta "dolorosa notícia" assegurando seu "profundo respeito" pela Justiça australiana e lembrando, no entanto, que o cardeal Pell disse que era inocente e tinha "o direito de se defender até o último recurso".
O cardeal, no entanto, foi demitido do cargo de secretário de Economia do Vaticano ao término de seu mandato de cinco anos. O Vaticano anunciou que uma investigação canônica interna seria aberta.
Sua condenação, confirmada em recurso, foi finalmente anulada pelo Tribunal Superior da Austrália, que o absolveu em abril de cinco acusações de violência sexual, em razão do benefício da dúvida.
O encontro entre o papa, muito sensível à presunção de inocência e ao destino dos prisioneiros, e o seu antigo "ministro" da Economia não surpreende. No entanto, os conhecedores do Vaticano afirmam que é pouco provável que o prelado australiano de 79 anos receba um novo cargo na Santa Sé.
(Com informações da AFP)