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Com criatividade e muitos vídeos, Paris começa desfiles da alta-costura tentando driblar a pandemia


Começa nessa segunda-feira (25) em Paris a temporada de desfiles da alta-costura. Durante quatro dias, mais de 30 maisons apresentam suas coleções no calendário oficial, tentando encontrar soluções para manter o glamour desse evento tipicamente francês, apesar da pandemia.



O setor da moda foi um dos mais afetados pela pandemia de Covid-19. Entre o fechamento das lojas em períodos de lockdown e as mudanças de hábitos ligadas ao trabalho remoto, a indústria de roupas e acessórios teve que se adaptar.


“Esse período acelerou o movimento em direção ao digital”, resume à RFI Gilles Lasbordes, diretor do Première Vision, principal salão mundial de têxtil, onde nascem algumas das tendências que são vistas nas passarelas um, dois, ou até três anos mais tarde. O evento teve sua edição de setembro totalmente virtual e fará o mesmo para a versão de fevereiro. “No começo foi muito difícil, pois as pessoas estão acostumadas a se reunir em Paris duas vezes ao ano. Mas os primeiros resultados das versões digitais foram encorajadores”, celebra, lembrando que, na cadeia de produção da moda, o têxtil era a etapa menos conectada. Afinal, nessa fase do processo, quando ainda não se pensa em roupa, e sim em tecidos, a dimensão tátil é quase tão importante quando a visual.



Do lado das marcas de roupas prontas, quase todas já tinham atividades de e-commerce e conseguiram encontrar uma solução para a crise com a venda online. Comprar pelo computador ainda não substitui uma tarde no shopping, mas contribui para o faturamento das empresas e salvou muitas delas da falência.


Dimensão festiva desapareceu


No entanto, toda a dimensão festiva e social associada ao mundo das passarelas praticamente desapareceu desde o surgimento do vírus. E os desfiles são o principal exemplo.


Desde meados de 2020, as marcas de prêt-à-porter (a moda pronta para vestir, confecionada em grande quantidade, de forma industrial), misturam apresentações em vídeo, performances alternativas e outros truques para substituir o burburinho da Fashion Week. Em dezembro passado Chanel apresentou sua coleção Métiers d’Art (na qual são mostradas peças que valorizam o que a maison tem de melhor em termos de mão de obra artesanal) em um castelo francês, diante de uma única convidada, a atriz Kristen Stewart, transmitindo em seguida o show na internet. A italiana Gucci se associou ao diretor de cinema Gus Van Sant e ao filósofo Paul Preciado e realizou uma série de filmes em forma de festival de fashion film. Já o nigeriano Kenneth Ize, um dos queridinhos do momento, apresentou sua coleção apenas para um punhado de convidados em um museu parisiense, enquanto a artista Maty Biayenda pintava uma tela como pano de fundo.


A Federação da alta-costura e da moda, entidade por trás de todas as Fashion Week francesas, implementou em seu site um sistema que permite que os compradores profissionais e jornalistas acompanhem as imagens de parte dos desfiles – sem público. Vídeos de entrevistas dos estilistas do calendário oficial, principalmente dos jovens talentos, também são disponibilizados, contribuindo para o trabalho da imprensa. O sistema, adotado durante os desfiles de moda masculina na semana passada, tem funcionado bem. 




Vídeos não devem substituir desfiles  


No entanto, Pascal Morand, presidente executivo da Federação, acredita que as apresentações em vídeo não vão substituir os desfiles nas passarelas, com plateia aplaudindo ou fazendo fotos e filmes com seus celulares. “Todos estão cansados de reuniões via Zoom. As nossas necessidades sensoriais não são satisfeitas com esses suportes e a visualização não é a mesma. E isso é particularmente visível na moda, que depende do movimento, dos tecidos, da fluidez e da precisão”, defende. Segundo ele, os desfiles totalmente digitais serão apenas um “parêntese” na história da moda.


No caso da alta-costura, prática tipicamente francesa, com peças sob medidas e fabricadas manualmente em ateliês parisienses, a questão da venda online nem se coloca. Com apenas algumas centenas de clientes pelo mundo, os desfiles são antes de mais nada uma ocasião para as marcas mostrarem do que são capazes em termos de criatividade e proezas técnicas e artesanais. A habilidade de criar um espetáculo que repercuta na imprensa e nas redes sociais, alimentando o interesse pela marca, seus acessórios e perfumes – que muitas vezes representam a parte mais lucrativa do negócio – é um elemento central nessa Fashion Week, que alguns veem como anacrônica, mas que serve de laboratório de ideias para toda uma indústria.


Por essa razão, as maisons não abandonam a tradição, mesmo se alguns nomes, como Jean Paul Gaultier, que mantêm sua atividade de alta-costura, ou ainda o libanês Elie Saab, decidiram pular essa temporada. Nessa segunda-feira, Schiaparelli (que vestiu Lady Gaga na posse de Biden) abre o baile, seguida por Christian Dior e Giambattista Valli, entre outros. Na terça-feira, Chanel, Valentino e Armani se apresentam, enquanto Fendi e a Maison Margiela marcam a programação da quarta-feira. O japonês Yuima Nakazato e o cameronês Imane Ayissi estão na lista do último dia. Sem esquecer uma série de nomes, menos conhecidos do grande público, mas que completam essa celebração à moda, que acontece duas vezes ao ano, com ou sem pandemia.

 

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