O governo de Portugal decidiu prorrogar a suspensão de voos comerciais com o Brasil e o Reino Unido até 31 de março. A medida é uma forma de tentar impedir novas infecções pelas variantes do coronavírus que circulam nos dois países. Os únicos voos autorizados são os de repatriamento, mas as passagens chegam a custar mais de R$ 5 mil.
Caroline Ribeiro, correspondente da RFI em Lisboa
Essa já é a quarta renovação da suspensão de voos do Brasil, que entrou em vigor no final do mês de janeiro. O decreto português foi publicado na segunda-feira (15), primeiro dia da saída do lockdown em Portugal.As exceções à proibição são os chamados voos de repatriamento, que precisam ser intermediados pelos governos, ou outro tipo de operação humanitária que permita o retorno dos cidadãos e residentes regularizados de um país para o outro.
Depois de muita pressão por parte de quem está sem conseguir voltar para casa, situação bastante denunciada pela imprensa portuguesa, o governo de Portugal começou a autorizar voos excepcionais pela TAP, a companhia aérea nacional. No entanto, embora tenham o caráter humanitário, são operações comerciais normais. Só viaja quem já tem uma passagem e é contatado pela companhia para remarcar ou quem consegue comprar um bilhete.
A imprensa portuguesa expôs os preços praticados para um desses voos, mais de 800 euros pelo bilhete, cerca de 5.300 reais.
628 brasileiros foram repatriados desde janeiro
Na segunda-feira, saiu de Lisboa com destino a Guarulhos, em São Paulo, o terceiro voo autorizado. Em nota, o Itamaraty afirma que 628 brasileiros retornaram nos três voos da TAP realizados até agora. Os próximos serão operados pela LATAM nos dias 23, 25 e 27 de março, com as mesmas condições.
“Assim como nas ocasiões anteriores, os voos a serem operados pela LATAM têm caráter privado. Os interessados devem tratar diretamente com aquela empresa aérea a marcação ou o eventual reaproveitamento de bilhetes. Tendo em conta o estado de emergência e as restrições vigentes em Portugal, somente poderão ingressar no aeroporto os passageiros com bilhetes confirmados pela LATAM”, informa a nota do Itamaraty.
Rotas alternativas a preço alto
Diante da dificuldade, rotas alternativas para sair do Brasil e chegar a Portugal - e vice-versa - passaram a ser adotadas por quem precisa viajar, mesmo com o alto custo.
Profissional de marketing residente em Lisboa, a brasileira Ananda Garcia viajou para a cidade natal, no Rio Grande do Sul, em dezembro. Depois de sucessivos cancelamentos, chegou a seguir as orientações das autoridades, de preencher um formulário para tentar retornar em um dos voos excepcionais da TAP, mas sem sucesso.
“Eu tinha preenchido o formulário da TAP para manifestar interesse pelo voo humanitário, que de humanitário não tem nada, e nunca fui contatada. Aquilo não serviu de nada”, conta à RFI.
Preocupada com a situação, Ananda optou por comprar uma nova passagem para conseguir retornar.
“Meu voo inicialmente estava marcado para 16 de janeiro, até que começaram essas suspensões. Meu medo era que as coisas em Portugal iriam melhorar, mas a situação no Brasil poderia escalar muito, e é o que está acontecendo. Eu também tinha medo de mais países fecharem as portas para o Brasil. Comecei a pesquisar alternativas e acabei chegando pela França. Comprei uma passagem pela Air France no valor aproximado de 7 mil reais”, diz a brasileira.
As rotas alternativas continuam sendo uma das orientações que o consulado do Brasil em Lisboa repassa a quem busca informações. Quem entra em contato via email recebe uma resposta automática sugerindo voos com conexão em outras capitais europeias.
“Segundo informações colhidas até o momento, ainda há rotas permitidas com destino ao Brasil, partindo de Paris, Madri, Zurique e Frankfurt. Novamente, reitera-se que os passageiros com urgência de retorno ao Brasil devem buscar informação diretamente com as companhias aéreas a respeito de rotas alternativas”, lê-se no email do consulado.
Quarentena para quem parte do Brasil
Atento a esse movimento, o governo português alterou as regras para a entrada no país. Agora, quem sai do Brasil ou do Reino Unido e desembarca em Portugal após conexão em algum local sem restrições está obrigado a cumprir quarentena domiciliar de 14 dias.
Para garantir esse controle, as companhias aéreas têm que fornecer para as autoridades portuguesas em até 24 horas a lista de passageiros que iniciaram a viagem em um dos dois países. Além disso, a regra que já estava em vigor segue valendo, que é a de apresentar teste RT-PCR negativo para a Covid-19 feito com no máximo 72 horas antes do voo.
O decreto diz que a medida poderá ser revista a qualquer momento, de acordo com a evolução da situação epidemiológica em Portugal.