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Biden e Johnson reafirmam aliança apesar das divergências sobre Brexit e Irlanda do Norte


Na véspera do G7, Joe Biden e Boris Johnson se encontraram pela primeira vez nesta quinta-feira (10), determinados a assinar uma nova Carta do Atlântico, embora em um contexto complicado por causa do Brexit e de suas consequências à Irlanda do Norte. O premiê britânico referiu-se ao democrata como um "grande sopro de ar fresco" e relativizou as divergências com a Casa Branca.


Para mostrar a importância do relacionamento com seu aliado britânico, Biden iniciou sua visita se reunindo com Johnson em Carbis Bay, cidade costeira do sudoeste da Inglaterra onde o G7 será realizado de sexta a domingo. 


"Estamos todos muito felizes em vê-lo", disse o primeiro-ministro britânico ao presidente americano após uma caminhada com suas respectivas esposas ao longo da costa da Cornualha. A primeira-dama dos Estados Unidos, Jill Biden, vestia uma jaqueta onde se lia nas costas a palavra "AMOR", em maiúsculas. Questionada sobre sua escolha, ela disse que gostaria de trazer uma mensagem positiva dos Estados Unidos. "É importante que as pessoas sintam que há unidade entre todos os países (do G7) e que há esperança após este ano de pandemia", afirmou. 


Após uma reunião a portas fechadas, Johnson disse estar otimista com a possibilidade de "encontrar um entendimento que conserve os equilíbrios do processo de paz" entre a Irlanda, que faz parte da União Europeia, e a Irlanda do Norte, integrante do Reino Unido. "Nós reafirmamos nossa relação especial, e não digo isso superficialmente, a relação especial entre nossos dois povos", disse, por sua vez, o presidente americano. Pelo menos em público, os dois líderes evitaram expor pontos de divergência.  


"Carta Atlântica"


Biden e Johnson acertaram a assinatura de uma nova "Carta Atlântica", concebida segundo o modelo acordado pelos seus antecessores Roosevelt e Churchill há 80 anos, mas levando em consideração novas ameaças como os ciberataques e a crise climática. 


O documento pretende reafirmar que "embora o mundo tenha mudado desde 1941, os valores permanecem os mesmos" quando se trata de defender a democracia, a segurança coletiva e o comércio internacional, segundo o governo britânico.


No entanto, as tensões em torno da Irlanda do Norte em decorrência do Brexit ameaçam um melhor resultado da reunião. Biden, muito orgulhoso da sua ascendência irlandesa, não gosta das tentativas de Londres de violar os compromissos comerciais assumidos com a União Europeia no chamado "protocolo da Irlanda do Norte", acordado entre ambas as partes no âmbito do Acordo de Retirada.


O documento permite evitar o restabelecimento de uma fronteira terrestre entre a Irlanda do Norte e a vizinha República da Irlanda, membro da UE, mas torna difícil o envio de mercadorias do restante do Reino Unido para essa região britânica.


O chamado Acordo da Sexta-feira Santa de 1998, alcançado com a participação do ex-presidente Bill Clinton, colocou fim à violência entre republicanos (principalmente católicos) e unionistas (principalmente protestantes) que ao longo de 30 anos travaram um conflito sangrento, com um saldo de cerca de 3.500 mortos na região.


Durante o G7, Biden dirá a Johnson que "o progresso (registrado desde o acordo) deve ser mantido", segundo um alto funcionário americano. Mas "a ideia não é entrar em confronto ou parecer um adversário, ele não veio para dar lições", ressaltou.


De forma privada, no entanto, o governo Biden é mais severo: de acordo com o jornal The Times, o mais alto diplomata americano no Reino Unido na época, Yael Lempert, acusou Londres de "alimentar" tensões na Irlanda do Norte com sua atitude.


Por sua vez, a União Europeia, acusada por Londres de "purismo" jurídico e falta de pragmatismo, alertou numa reunião na quarta-feira em Londres que reagirá com firmeza se os compromissos assumidos não forem respeitados.


"O protocolo" da Irlanda do Norte "deve ser aplicado na sua totalidade", insistiu nesta quinta-feira a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, garantindo que vai abordar a questão ao primeiro-ministro britânico no G7.


Em Paris, o presidente francês, Emmanuel Macron, reiterou que não há nada a ser renegociado. "Se não sabemos respeitar um acordo, quer dizer que nada mais é respeitável", enfatizou o líder francês. 


500 milhões de doses de vacinas


Na cúpula dos países ricos, a primeira a acontecer presencialmente em dois anos e cujo assunto principal deve ser a pandemia. O presidente dos Estados Unidos – criticado pela lentidão no compartilhamento de vacinas com o resto do mundo – anunciou nesta quinta-feira que comprará 500 milhões de doses da vacina contra a Covid-19 da Pfizer/BioNTech, para distribuir a outros países, sendo 200 milhões ainda este ano. As 300 milhões de doses restantes serão entregues em 2022. Com esta doação, a Casa Branca tenta se impor como líder na luta planetária de combate à pandemia. Os imunizantes serão distribuídos para 92 países por meio do sistema Covax, da ONU.


A outra prioridade do G7 será o combate às mudanças climáticas.


Esta primeira viagem internacional do presidente americano tem como objetivo marcar a "volta" dos Estados Unidos depois do mandato de Donald Trump, segundo ressaltou Biden ao chegar ao Reino Unido na quarta-feira (9). O democrata tem uma agenda intensa, com participação prevista em três cúpulas – G7, Otan e UE, antes de se reunir com o presidente russo, Vladimir Putin, no dia 16 de junho em Genebra.


Com informações da AFPa

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