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Diplomacia russa tem poucas expectativas com cúpula Biden-Putin

A Rússia não tem grandes expectativas com o encontro entre os presidentes americano, Joe Biden, e russo, Vladimir Putin, nesta quarta-feira (16) em Genebra. O Kremlin tem objetivos modestos com essa cúpula. Ele espera retomar o diálogo bilateral, que enfrenta sua pior crise desde o fim da Guerra Fria, e restabelecer relações diplomáticas cordiais entre os dois países. Joe Biden chegou a Genebra nesta terça-feira (15).



Por Daniel Vallot, correspondente da RFI em Moscou

Joe Biden chegou a Genebra na véspera do encontro com Putin, que se anuncia especialmente difícil. O presidente dos Estados Unidos desembarcou na Suíça depois de participar de reuniões com os aliados do G7 e da Otan, durante as quais tranquilizou os parceiros após os agitados anos de governo de seu antecessor Donald Trump.

Sobre a Rússia, Biden adotou um tom firme nos últimos dias, prometendo que dirá quais são as "linhas vermelhas" que Putin não deve cruzar. "Não procuro um conflito com a Rússia, mas responderemos se Moscou continuar suas atividades prejudiciais", disse o líder norte-americano.

A cúpula em Genebra é o destaque da primeira viagem ao exterior de Biden. Ele é o quinto presidente americano a se reunir com Putin desde que o russo chegou ao poder no final de 1999.


Iniciativa dos EUA

Nas últimas semanas o Kremlin não para de martelar que não se deve esperar um avanço diplomático importante dessa cúpula em Genebra. No entanto, o porta-voz de Vladimir Putin, Dmitri Peskov, garante que o encontro não deve ser minimizado.

Para a Rússia, o simples fato de a reunião acontecer, por iniciativa dos Estados Unidos, já é um primeiro resultado positivo. Moscou estima que isso é o sinal de que a Rússia é levada a sério pelo novo presidente americano. A iniciativa de Washington pode inclusive fazer o Kremlin esquecer as duras declarações de Biden contra Putin.

“Não se pode sobrestimar o potencial dessas discussões”, declara Andreï Kortunov, diretor do Conselho russo de Relações Internacionais. Segundo ele, “os dois países têm um estado de espírito e uma visão de mundo muito diferentes. Mas é necessário impedir que as relações bilaterais piorem ainda mais e por um ponto final nessa guerra diplomática”.


Dois objetivos concretos

A imprensa russa indica que Moscou fixou dois objetivos concretos nesta cúpula: relançar o diálogo sobre o controle de armas nucleares e retomar uma atividade consular normal nos dois países. Isso significa o retorno de embaixadores americanos e russos a suas embaixadas respectivas. O cargo do chefe das representações diplomáticas dos países, em Moscou e Washington, está vazio desde que Joe Biden disse, no último mês de março, que Vladimir Putin poderia ser considerado um “assassino”.

“Várias crises regionais podem também ser temas de discussões construtivas”, pensa Andreï Kortunov. Ucrânia, Belarus ou Líbia estão de fora, mas “um entendimento pode acontecer sobre o Afeganistão, a Coreia do Norte e até sobre a Síria”, espera o especialista.

Além disso, em uma entrevista à televisão americana NBC no início da semana, Vladimir Putin antecipou a possibilidade de um acordo para uma troca de prisioneiros. Se for concretizado, isso permitirá que os americanos Trevor Reed e Paul Whelan, presos há dois anos na Rússia, sejam libertados e possam voltar para os Estados Unidos.


Negociador obstinado

Em relação aos outros temas, Moscou irá se contentar com um serviço mínimo. Não haverá nem comunicado final comum, nem coletiva de imprensa conjunta depois do encontro.

O jornal Kommersant garante que nunca, nos últimos 30 anos, os dois países não participavam de uma cúpula com “tão poucas ambições”.  “Este primeiro encontro acontece em condições difíceis”, avalia Iouri Ouchakov, conselheiro de Questões Internacionais de Vladimir Putin. Ele vê essa cúpula “com um otimismo prático, sem grandes expectativas”.

“A cúpula é organizada em Genebra, como o encontro realizado em 1985 entre Gorbatchev et Reagan, mas a comparação para por aí”, analisa Kortunov. “Para Putin, que é um negociador obstinado, se entender com o Ocidente não é crucial, como era o caso de Gorbatchev. Além disso, não sabemos se Joe Biden será um presidente tão forte como foi Ronald Regan. Claro que esperamos um resultado importante e que uma nova página seja escrita na relação entre os dois países. Mas ainda é muito cedo para antecipar qualquer coisa”, conclui o diretor do Conselho russo de Relações Internacionais.

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