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Em primeira turnê europeia, Biden pretende renovar laços e lançar desafios


Joe Biden, parte de Washington, nesta quarta (9), para sua  primeira viagem internacional desde que assumiu o comando da Casa Branca, em janeiro deste ano. O itinerário do presidente americano começa com a Cornualha, na Inglaterra, onde será realizado o encontro do grupo G-7, seguida de Bruxelas para a cúpula da OTAN e encontros com líderes da União Europeia e, depois disso, Genebra, para uma reunião com Vladimir Putin.


Ligia Hougland, correspondente da RFI em Washington


A viagem de Biden à Europa acontece em um momento em que os EUA avançam esforços para combater a China, com o senado americano aprovando nessa terça (8) uma lei para combater a crescente ameaça representada por Pequim.


A expectativa geral é que essa primeira viagem ao exterior de Biden como presidente será um muito necessário contraste aos quatro anos da caótica política externa de Donald Trump, servindo para salientar a mensagem de que os EUA estão mesmo prontos para voltar à tradicional política externa e refortalecer seus laços com seus aliados europeus e organizações internacionais, como a OTAN. Não há dúvida de que Biden será, de modo geral, recebido com simpatia pelos líderes europeus, nem que seja pelo simples fato de ele não ser Trump.


Reativando acordos

Mas, depois de uma primeira boa vontade de todos, apenas não ser Trump não deve bastar, mesmo com Biden já tendo tomado algumas medidas para remediar alguns dos pontos de atrito dos últimos quatro anos. Desde janeiro passado, a Casa Branca tem feito tentativas de reativar o acordo nuclear com o Irã, desenvolvido pelo governo de Barack Obama, e voltou ao acordo climático de Paris, renunciado por Trump. Há poucos dias, Biden inclusive escreveu um artigo publicado pelo Washington Post sobre sua viagem à Europa enfatizando o "compromisso renovado dos Estados Unidos com nossos aliados e parceiros". No entanto, mesmo com a aparente boa vontade geral, Biden vai enfrentar alguns desafios nessa sua primeira viagem internacional.


O presidente democrata já chamou o anfitrião do G-7, Boris Johnson, de “cópia física e emocional de Trump”. Além disso, Biden nunca foi um grande fã do Brexit. Como o primeiro-ministro britânico quer firmar um acordo comercial com os EUA, ele pode até ignorar insultos passados, mas o encontro entre os dois líderes pode não render resultados muito positivos, pois tal acordo não parece ser uma prioridade de Biden.


A construção do gasoduto Nord Stream 2, para levar gás da Rússia até a Alemanha, preocupa tanto democratas, quanto republicanos em Washington. Eles temem que isso possa dar muito poder à Rússia na Europa. Biden se reunirá também com Putin, o que não será uma interação fácil, e ninguém espera que esse encontro resulte em algo significativo.


Biden vai pedir mais gastos com defesa

Assim como Trump, Biden também quer que os membros europeus da OTAN assumam uma parcela maior dos seus gastos com defesa. Além disso, o mundo passou por uma grande transformação nos últimos anos, e não só por causa de Trump. O presidente americano não pode, com uma simples visita à Europa, esperar que a velha ordem mundial volte a reinar.


O desafio maior será convencer os europeus de que os EUA ainda são o melhor e mais forte aliado no cenário mundial. Ao que tudo indica, os tópicos centrais da agenda de Biden nessa visita à Europa, além de vacinação contra Covid-19, serão a necessidade de um imposto corporativo global e mudança climática.


Europa não compartilha temor pela China

Enquanto isso, a China está cada vez investindo mais na economia europeia e ganhando espaço e influência no continente. Em uma pesquisa recente do Conselho Europeu de Relações Exteriores, cerca de 65% dos europeus acreditam que os EUA estão consumidos por problemas e divisões internas, enquanto quase 60% acham que a China certamente ou provavelmente ultrapassará os EUA, tornando-se a nova maior potência mundial.


Também 60% dos europeus dizem que preferem que seu país fique neutro no caso de um confronto entre EUA e China. Isso é uma péssima notícia para Washington, que vê os planos de Pequim como a maior ameaça ao futuro dos EUA.


Nessa terça (8), o senado americano aprovou um projeto de lei para fortalecer os setores de indústria e tecnologia dos EUA e combater a concorrência da China. O plano foi aprovado por uma maioria bipartidária do senado – com 68 votos a favor e 32 contra. Isso é algo inédito em tempos de tanto partidarismo em Washington, onde ninguém cede para ninguém, mesmo que todos saiam perdendo.


O plano é considerado histórico e extremamente abrangente, destinando mais de US$170 bilhões a pesquisas e desenvolvimento tecnológico. Também tem como peça central um incentivo de US$ 50 bilhões para que as empresas americanas passem a fabricar semicondutores, que hoje são em grande parte produzidos na China. A falta de semicondutores no mercado americano, fez com que, este ano, a fabricação de carros nos EUA sofresse uma grande queda.


Mas o futuro desse projeto de lei na Câmara é incerto, pois o democrata Gregory Meeks, presidente do Comitê de Relações Exteriores, já apresentou seu próprio projeto de lei para que os Estados Unidos tenham mais vantagem competitiva em relação à China.

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