Edna Gambôa Chimenes (*)
O leitor contemporâneo tem, ao seu dispor, diversas possibilidades de leitura que foram criadas com a revolução da cibercultura e do livro eletrônico. E elas trazem impactos irreversíveis às formas de leitura, pois precisam atender as expectativas desse novo contexto.
A professora e pesquisadora Lúcia Santaella, em seu livro “Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo”, aponta que os tipos de leitores, de forma geral, são: o contemplativo que apresenta uma leitura mais estática, o movente que lê fragmentado, sendo mais híbrido e dinâmico, o imersivo que é virtual, fruto do ciberespaço – gosta de interação entre palavras, imagens, documentação, música, vídeo e etc. E há, ainda, o leitor ubíquo que possui grande capacidade cognitiva para utilizar os diferentes recursos multimídias.
Partindo dessas definições, o grande obstáculo na formação do “novo leitor” é fazê-lo desenvolver a capacidade de ler não só uma linguagem puramente verbal, escrita, mas que saiba mesclar diferentes habilidades ao considerar vídeos, imagens, hiperlinks e outros como recursos para a interação e compreensão do assunto acessado.
O desafio é maior, em especial, na tarefa educacional de formar leitores que busquem o conhecimento de forma rizomática, ou seja, que usem diferentes caminhos, espaços e tempo, sendo ativos e participativos na ação da leitura. Além dessas características ligadas ao meio digital, uma parcela dos leitores contemporâneos traz aspectos da leitura impressa, híbrida e dinâmica, em uma experiência bastante diferente do que era vista nos leitores puramente contemplativos.
Considerando o cenário atual do Brasil, e partindo da pesquisa sobre a existência e uso das bibliotecas nas escolas (realizada pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Instituto de Ensino e Pesquisa – INSPER), nota-se que o exercício e incentivo à leitura é algo defasado ao termos um índice de 61% de escolas estaduais e municipais sem este espaço. Entre as escolas particulares, mesmo que em menor proporção, há também uma defasagem com 27% delas sem biblioteca ou sala de leitura.
Com isso, é possível notar a diversidade de tipos de leitores quando nem todos possuem fácil acesso às obras impressas. E isso se estende ao pensarmos que boa parte das mídias não chegam à totalidade da população, fazendo com que o desafio da inserção da tecnologia no cotidiano escolar seja ainda maior para que haja, de fato, a inclusão digital de todos.
Atualmente, no contexto que vivenciamos com a pandemia, aproveitar e utilizar as ferramentas trazidas, em especial, pela literatura eletrônica faz com que se busque garantir um letramento digital aos usuários, para que eles desenvolvam e aprimorem a linguagem, bem como as habilidades de compreensão e interpretação, todos elementos primordiais em quaisquer modos de leitura.
O aumento do uso da tecnologia nas escolas, proporcionado pelas aulas remotas, deve ser visto como um ponto a mais para a efetivação desses recursos no dia a dia do desenvolvimento educacional. Ao buscar uma formação significativa, que contemple o digital, não se exclui o impresso, é importante frisar que ambos são complementares. Cabe a reflexão sobre os caminhos a serem escolhidos para a formação do leitor. Já que o ciberespaço é tão presente no cotidiano de tantos indivíduos em formação, por que não iniciar uma construção literária partindo do digital para chegar ao impresso?
(*) Edna Gambôa Chimenes é mestre em Estudos de Linguagens e Tutora dos Cursos de Pós-Graduação na Área de Comunicação do Centro Universitário Internacional UNINTER
FONTE: Nqm Comunicação