Dois artistas populares residentes em Recife, a mais de 3 mil quilômetros de distância de Curitiba, participaram da mais recente edição do projeto de rodas de leitura da Coordenação de Literatura da Fundação Cultural, no fim da semana passada. Isso foi possível porque, assim como outras 18 pessoas procedentes de diferentes cidades e estados que se inscreveram e conectaram ao evento, não foi necessário se deslocar. Tanto a inscrição como a participação foram on-line e, o que também facilita a adesão, de graça.
O novo modelo de oferta de atividade vigora desde o ano passado, assim que começaram as restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus aos eventos presenciais, e está sendo bem aceito pelo público. É o caso dos pernambucanos Maria José Bezerra de Oliveira e Lucas Oliveira de Moura, da Companhia Artística Mamulengos e Catrevagens. Mãe e filho se sentaram diante do mesmo laptop e se juntaram aos participantes das cidades paulistas de Campinas, Itu e São Paulo, além de Macaé, no Rio de Janeiro, e Curitiba.
Faltou tempo
O motivo do interesse coletivo foi a leitura não-verbal do quadro As Meninas - a famosa tela de 3,18 por 2,76 metros pintada em 1.656 pelo espanhol Diego Velázquez, além de comparações com a obra de um dos artistas que aparecem na cena retratada. Foi a segunda vez que o mediador Leandro Toporovicz se valeu de uma obra de arte para provocar o público a ler sem texto. A primeira foi por meio da Pietà, esculpida por Michelangelo no final do século XV.
A interação entre o grupo e o tema foi tanta que o mediador precisou estender em mais 20 minutos o horário da atividade, prevista para 1 hora de duração. Garantem o sucesso das rodas de leitura a divulgação pelas redes sociais da Fundação Cultural e da Prefeitura de Curitiba, além do e-mail do público cadastrado nas Casas da Leitura. "Ter público de outros lugares é o lado bom das atividades remotas”, conta o mediador.
Além disso, observa Toporovicz, o público também é diversificado. Nessa edição da Roda de Leitura, havia professores e estudantes das áreas de Arte e Educação, artistas, psicólogos, psicanalistas, jornalistas, arquitetos e servidores públicos. No modelo presencial, oferecido até o começo do ano passado, os frequentadores vêm dos bairros próximos às Casas da Leitura - bibliotecas com acervos exclusivos sobre arte e literatura onde se desenvolvem as atividades.
Caminho sem volta
Para o diretor de Ação Cultural da FCC, Édson Bueno, a pandemia forçou uma adaptação sem volta. “Avançaremos, construindo cultura nos dois modelos (presencial e remoto), em que um complementa o outro, e isso é maravilhoso. Um novo tempo de comunicação nasceu para todas as linguagens artísticas, rompendo a barreira da distância”, avalia.
Além da Literatura, outras linguagens estão familiarizadas com a nova possibilidade de interação com o público. Entre elas destacam-se cinema (com exibições de títulos e masterclasses a partir do Cine Passeio), dança (com os eventos da Casa Hoffmann Centro de Estudos do Movimento) e música erudita e popular (por meio das realizações do Conservatório de MPB e da Camerata Antiqua de Curitiba).
Fonte: SMCS