Nesse fim de semana, expirou a medida do governo norte-americano que protegia milhões de inquilinos inadimplentes do risco de despejo. Após prorrogarem o prazo da suspensão por conta da pandemia, a Casa Branca pediu ao Congresso que legislasse sobre o tema com urgência, mas os congressistas não chegaram a um acordo.
Por Xavier Vila, correspondente da RFI em Washington
Mais de 3,5 milhões de pessoas estão ameaçadas de despejo poucos dias após o término da prorrogação da medida de proteção aos inadimplentes estabelecida pelo governo Biden, que evitou que pessoas afetadas financeiramente pela crise ligada à pandemia de Covid-19 fossem colocadas para fora de casa por não conseguirem pagar seus aluguéis.
Segundo dados do censo nacional, 7,5 milhões de pessoas admitem estarem em atraso no pagamento do aluguel. A dívida global relativa a atrasos nos pagamentos já chegaria a US$ 13 bilhões.
A perspectiva de milhões de pessoas nas ruas em meio à pandemia de Covid-19 desencadeou raiva e frustração no Partido Democrata. Um comitê parlamentar propôs estender a moratória até 31 de dezembro, mas não obteve apoio suficiente, nem mesmo nas fileiras democratas, partido do presidente.
A representante democrata de Nova York Alexandria Ocasio-Cortez vocalizou a frustração com alguns integrantes de seu partido. "A Câmara dos Representantes e sua liderança tiveram a oportunidade de votar uma extensão da medida, mas havia um grupo de democratas conservadores no Congresso que preferiu pegar um avião [para sair de férias] em vez de votar."
“Se nos olharmos no espelho, não podemos culpar o Partido Republicano quando os democratas no Congresso têm a maioria”, acrescentou AOC, representante da ala mais à esquerda dos Democratas.
A presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, também lamentou o resultado, mas reclamou da falta de apoio entre os opositores ao governo Biden. "Infelizmente, nem um único republicano apoia essa medida. (...) É muito decepcionante que os republicanos na Câmara e no Senado tenham se recusado a trabalhar conosco nessa questão".
Benefício em conta-gotas
Além da suspensão de despejo não ter apoio unânime na bancada democrata, o dinheiro alocado pelo governo federal para ajudar pessoas e famílias com dificuldade para pagar o aluguel chega a conta-gotas.
O montante do benefício é repassado aos estados e comunidades locais, que são responsáveis por redistribuir a ajuda às famílias. No entanto, esse procedimento requer o estabelecimento de sistemas complexos para receber os pedidos, verificar as condições e só então fornecer o auxílio.
Como resultado, dos US$ 46 bilhões planejados pelo governo para esse fim, incluindo os US$ 25 bilhões desembolsados no início de fevereiro, apenas US$ 3 bilhões chegaram ao seu destino até agora.
(Com informações da AFP)