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Talibã: quem são os potenciais novos líderes a assumir o poder no Afeganistão?

Texto por: RFI  7 min

Com a fuga do presidente afegão, Ashraf Ghani, os talibãs assumiram facilmente, no último domingo (15), o controle do palácio presidencial em Cabul, 20 anos após a derrota para a coalizão internacional liderada por Washington. O movimento está agora na liderança de um país que nem o império britânico, nem a União Soviética ou os Estados Unidos souberam redesenhar. Nesta chegada à força, uma nova geração de homens sai da escuridão.

O Talibã nasceu após o fracasso da longa invasão soviética no Afeganistão e controlou o país até 2001. Após os ataques de 11 de setembro, uma ofensiva foi lançada contra os fundamentalistas para a caça de seu líder, Osama bin Laden, capturado apenas em 2011. 

Em 6 de dezembro de 2001, o Emirado Islâmico do Afeganistão capitulou e um governo interino, presidido por Hamid Karzaï, assumiu o poder. Foi ele quem venceu a primeira eleição presidencial da história do país, enquanto os talibãs se entricheiram em províncias afegãs do leste e sul.

No início dos anos 2000, o movimento se juntou a outros grupos radicais de zonas tribais paquistanesas e se reestruturou rapidamente em 2003, aproveitando das baixas de militares ocidentais na guerra do Iraque. No plano financeiro, eles eram apoiados pelo comércio do ópio e recebiam também ajudas externas. 

Diante da nova formação, o então presidente americano, George W. Bush, reforçou a presença militar no Afeganistão em 2008. Em 2009, Barack Obama seguiu o mesmo caminho. A morte de Bin Laden, em 2 de maio de 2011, pelas forças dos Estados Unidos no Paquistão levou o governo americano a anunciar a retirada progressiva de suas tropas. Junto com as suspeitas de fraude que levam a uma nova vitória de Ashraf Ghani, em 2014, Cabul perde força.

No final de 2014, a ONU resolveu enterrar sua missão no país, fortalecendo o Talibã. Em 2015, o grupo Estado Islâmico também se tornou ativo no país. Apesar do reforço enviado por Donald Trump, os ataques dos insurgentes se amplificaram. Mas, em 2020, o movimento assinou um acordo histórico com os Estados Unidos, assinalando uma saída das tropas americanas e deixando o terreno livre para 75 mil radicais. 

Reestruturação do poder

Enquanto cientistas políticos do mundo inteiro preveem um retorno aos rígidos anos de sharia islâmica, algumas lideranças dizem que ainda é cedo para tentar adiantar como o grupo vai assumir o poder. "Primeiro queremos que todas as potências estrangeiras deixem o país para que possamos estruturar nosso governo", afimou um representante do Talibã, sem se identificar, à agência Reuters. 

Passados vinte anos, de fato, os rostos mudaram. O mulá Omar morreu em 2013; Mansur em 2016. Desde então, uma nova geração se instalou, ainda que uma aura de mistério paire sobre os veteranos. Para os analistas, no entanto, não há dúvidas de que o carro chefe do movimento é atualmente dirigido pelo mulá Haibatullah Akhundzada, um erudito, filho de um teólogo.

Originário de Kandahar, no sul, berço do movimento, Akhundzada dirigia o sistema judiciário do Talibã. Aos olhos de muitos cientistas políticos, sua liderança seria mais simbólica que operacional hoje. No entanto, ele tem uma influência incontestável entre os insurgentes. Discreto desde a morte de Mansur, em 2016, limitava-se a divulgar raras mensagens anualmente durante datas consideradas sagradas. Mas com o tempo e o apoio que recebeu, vem se destacando na galáxia do islamismo radical internacional.


Ao lado dele, está o patriarca Abdul Ghani Baradar, que nasceu no sul do Afeganistão e cresceu em Kandahar. Cofundador do movimento junto com o mulá Omar, assumiu a liderança do setor militar dos talibãs, até ser preso em 2010 no Paquistão. Mas foi libertado em 2018, sob pressão de Washington.

Respeitado pelas diferentes vertentes do movimento, Baradar foi nomeado como o chefe do escritório político do Talibã, situado no Catar. Foi ele quem conduziu as negociações junto aos americanos, além dos diálogos fracassados com o governo afegão. Várias lendas são propagadas sobre Baradar, como, por exemplo, que teria feito parte de um pequeno grupo disposto a chegar a um acordo com Cabul. Não por acaso, nesta terça-feira (17), um porta-voz dos insurgentes anunciou que ele está de volta ao Afeganistão.


O temido líder do grupo Haqqani

O terceiro personagem é Sirajuddin Haqqani, cujo pai é considerado um dos grandes heróis jihadistas que lutou contra a União Soviética. Segundo Washington, ele também comanda uma facção terrorista que leva seu sobrenome. O grupo Haqqani seria um dos mais perigosos a enfrentar as tropas estrangeiras nesses últimos vinte anos. 

Hábil militarmente e financeiramente, a rede seria essencial ao Talibã, suspeita de estar encarregada das operações nas zonas montanhosas do leste do Afeganistão. Alguns dos ataques mais violentos dos últimos anos, especialmente os kamikazes, são atribuídos ao grupo Haqqani, bem como assassinatos e sequestros de ocidentais. 

Uma última personalidade completa o quarteto na liderança do Talibã: o mulá Yaqoub. Filho do carismático Mohammad Omar, ele é o atual chefe da comissão militar do movimento, liderando as orientações estratégicas de guerra. Símbolo unificador da organização ou potencial líder com um papel determinante? Muitos cientistas políticos ponderam a importância de sua nomeação, em 2020. 
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