Em seu terceiro discurso na Assembleia Geral da ONU (AGNU), em Nova York, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, afirmou nesta terça-feira (21) que veio para mostrar um “Brasil diferente”, mas como nos anos anteriores sua narrativa não se baseou em dados.
Luiza Duarte, correspondente da RFI em Nova York
Bolsonaro apresentou números e informações distorcidas em uma fala para agradar sua base radical, em um momento que enfrenta recorde de rejeição entre brasileiros. “O Brasil mudou e agora tem sua credibilidade recuperada diante do mundo”, afirmou ignorando diversas manifestações de preocupação com a erosão da democracia no Brasil vindas de lideranças e organismos internacionais.
Apesar de inúmeras denúncias e investigações, na tribuna da ONU Bolsonaro garantiu que seu governo não tem “caso concreto de corrupção” e que, antes de seu mandato, o Brasil “estava à beira do socialismo”.
Como esperado, o presidente defendeu o agronegócio, que chamou de “sustentável”, e se comprometeu a zerar desmatamento ilegal. Aos líderes mundiais, Bolsonaro perguntou: “Qual país no mundo tem uma política de preservação ambiental como a nossa?”. Os resultados na proteção ao meio ambiente e no combate à pandemia da Covid-19 rendem as mais duras críticas ao governo brasileiro no exterior.
Contra passaporte sanitário
O presidente também se manifestou contra a aplicação de um passaporte sanitário e defendeu o tratamento precoce contra à Covid-19, considerado ineficaz e não recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), uma das agências da ONU.
Bolsonaro garantiu que seu governo promove o “ressurgimento do modal ferroviário” e que acelerou a privatização de aeroportos e terminais portuários. Disse ainda que “barateou o custo Brasil, em especial no barateamento da produção de alimentos” e que país tem “tudo o que investidor procura”. No último ano, o real perdeu 28% do seu valor diante do dólar, sendo a moeda com pior desempenho, a que mais se desvalorizou, o que reduziu o poder de compra das famílias brasileiras.
Participação de cerca de 100 chefes de Estado e de governo
Segundo a tradição, o representante do Brasil foi o primeiro a discursar abrindo a 76ª sessão da Assembleia Geral. Em seguida, o presidente americano, Joe Biden, fez o primeiro discurso de seu mandato na Assembleia, que esse ano acontece de forma híbrida.
Cerca de 100 chefes de Estado e de governo fizeram o deslocamento para participar de forma presencial da AGNU. No ano passado, pela primeira vez em 75 anos, a Assembleia foi realizada de forma virtual por causa da pandemia. Dessa vez, o maior evento diplomático do ano combina atividades virtuais e presenciais. Governantes puderam escolher entre comparecer à sede da organização em Nova York ou enviar mensagens gravadas.
Houve dúvidas sobre a possibilidade de participação do presidente brasileiro, pois ele não se vacinou contra a Covid-19 e essa era uma exigência da prefeitura de Nova York para a entrada no evento. No entanto, com a prerrogativa de imunidade diplomática, a organização não está sujeita as leis do país onde fica a sede.
Bolsonaro fez um discurso agressivo em 2019, com menções negativas a outros países membros da ONU. No ano seguinte, fez um discurso focado em defesa às críticas recebidas pela gestão do meio ambiente e da pandemia.
Bolsonaro retorna ao Brasil na noite dessa terça-feira.