Depois de meses vivendo nas ruas, a maior parte no calçadão da XV de Novembro, no Centro, Eduardo Santos Bergamo, 54 anos, aceitou atendimento e foi acolhido pela Fundação de Ação Social (FAS). Conhecido dos comerciantes da região e também das equipes da assistência social do município, Dudu, como é chamado, foi encaminhado para uma casa de passagem e depois para uma unidade de acolhimento, localizada no Sítio Cercado.
Com Eduardo está a inseparável cachorrinha Julie, um filhote de apenas seis meses que se tornou a principal companhia do homem. Ambos estão sob os cuidados da FAS desde o dia 31 de agosto, depois de várias tentativas de convencer Eduardo a deixar as ruas e ser acolhido nas unidades do município.
Além de local para dormir, se alimentar e fazer a higiene, ele foi levado para uma unidade de saúde para tratamento médico. Com a ajuda dos técnicos da FAS, poderá refazer os documentos civis roubados com outros pertences enquanto dormia na rua, além de tentar ser inserido em um benefício social, segundo a supervisora do Núcleo da FAS na Regional Matriz, Vanessa Resquetti.
“Estamos felizes por ter o seu Eduardo acolhido, pois ele era constantemente abordado por nossas equipes, mas recusava atendimento”, explica.
Problema de saúde
Vítima de uma neuropatia, doença que provoca lesões nos nervos motores, Eduardo passou a ter dificuldades de locomoção até que não conseguiu mais andar, há aproximadamente quatro meses.
O problema, segundo ele, surgiu em função do uso abusivo de álcool, motivo que também o levou a perder a família e os empregos que teve ao longo da carreira profissional, a maior parte dela no setor hoteleiro. “Tudo de ruim que aconteceu na minha vida foi por causa do álcool”, conta.
Nascido em Londrina, Norte do Paraná, mas morando há mais de 30 anos em Curitiba, Eduardo diz que trabalhou durante muitos anos nas áreas gerencial e administrativa de hotéis da capital.
Como gostava de cozinhar, fez um curso na área de Gastronomia e se formou em uma tradicional escola de profissões de Curitiba, há aproximadamente 12 anos. Desde então, passou a trabalhar atrás de fogões, o que ele tanto gostava.
A dependência do álcool impediu que ele continuasse. “Na cozinha a gente precisa ter agilidade, se mexe com fogo, coisas muito quentes”, diz. O pior momento, segundo Eduardo, aconteceu em maio de 2020, quando abandonou o trabalho em uma lanchonete.
“Fechei a porta do apartamento em que eu morava e decidi ir para a rua”, lembra ele, emocionado.
Amizades
Eduardo costumava ficar sentado no calçadão da Rua XV de Novembro, ao lado da entrada da Galeria Ritz. Conhecido e bem quisto pelos comerciantes da região, recebia dinheiro, roupas e comida. “Em Curitiba o que não falta é comida para quem está na rua”, conta.
Mesmo assim a vida das pessoas em situação de rua não é fácil, segundo ele. “É muito triste e o frio, a chuva e a violência deixam ainda mais difícil.”
Ao longo dos últimos meses em que esteve na rua, Eduardo sempre recusou atendimento das equipes da abordagem social da FAS que percorrem as ruas da cidade, 24 horas por dia, sete dias na semana, para ofertar serviços.
Esperança
Esta não é a primeira vez que Eduardo é acolhido pela FAS. A primeira aconteceu em 2019, quando procurou a Central de Encaminhamento Social (CES) 24 horas e foi encaminhado para uma unidade no Boqueirão. Ele ficou no local até julho daquele ano.
Em junho de 2020 e março deste ano, Eduardo voltou a procurar os serviços da FAS e foi acolhido em hotéis sociais do município, de onde saiu por descumprir as regras dos espaços.
A partir do último mês de maio, Eduardo passou a ser abordado no entorno do Mercado Municipal e depois na XV de Novembro.
Apesar das tentativas frustradas de deixar as ruas, Eduardo está esperançoso. Ele não quer fazer planos para o futuro, mas diz que está feliz como há muito tempo não se sentia.
“Aqui sou muito bem tratado por essas pessoas que fazem até mais do que deveriam”, conta ele. “Esta noite dormi bem e até consegui tomei café da amanhã.”
Companhia
Eduardo acredita que a cachorrinha Julie tem ajudado a tentar mudar de vida. “Ela é minha melhor companhia”, diz. Ele conta que ele ganhou a filhote de um carrinheiro. “Ela estava com a patinha quebrada, eu cuidei dela até que ficou boa. Eu ajudei ela e ela tem me ajudado neste momento difícil.”
Eduardo só aceitou o acolhimento da FAS por poder levar junto a cachorrinha Julie. No abrigo, ela passa o dia brincando e dormindo, ao lado de seu tutor, recebe água e comida. Nos próximos dias, passará por consulta veterinária, feita pela equipe da Rede de Proteção Animal do município, quando poderá receber vacinas, vermífugo e chip.
Fonte: SMCS