Eles não são tão badalados quanto as estrelas do futebol, mas os brasileiros do futsal também espalham seu talento mundo afora. Agora, na Copa do Mundo da modalidade, que acontece na Lituânia, os jogadores do Brasil reforçam as seleções de equipes como Estados Unidos, Rússia, Cazaquistão e Japão.
Por: Lúcia Müzell rfi 9 min
Como com os colegas dos gramados, a excelência dos atletas do país no futsal é reconhecida de longa data. A equipe do Brasil disputa a competição como favorita, depois de ser eleita a melhor do planeta pela Fifa. Mas os jogadores “brazucas” que construíram a carreira em outros países podem acabar parando numa seleção adversária. Foi o que aconteceu com o goleiro Higor Pires, um dos três brasileiros que entram na quadra com a camisa japonesa.
“É uma grande honra. Eu estou no Japão desde 2009, um país que me recebeu de braços abertos. Nunca tive nenhum problema lá. Minha esposa é japonesa, meu filho também”, contou Higor ao enviado especial Marco Martins, da redação em português da RFI. “O povo japonês me trata muito bem, a qualidade de vida é absurda. Poder representar esse país numa competição top no mundo e poder retribuir de alguma forma tudo que eu recebo, o carinho, não tem preço. É uma honra muito grande e enquanto eu puder vestir essa camisa, darei o meu máximo”, sublinha o paulista, de 41 anos.
Jogar contra o Brasil
Numa Copa do Mundo, ninguém escolhe o adversário. E quando, do outro lado, está a camisa verde e amarela, como fica o coração? Foi o caso nesta semana, quando Brasil e Japão se enfrentaram no mata-mata – e os brasileiros levaram a melhor, eliminando os japoneses por 4 a 2.
“No começo incomodou um pouco, sim. Quando eu fui para o Japão, eu não pensava nisso, mas pouco a pouco, vivendo e aprendendo mais sobre a cultura, vendo a qualidade de vida deles, e para mim isso é muito importante, eu não pensei duas vezes [antes de assumir a vaga na Seleção]”, afirma o goleiro. “O ponto determinante para mim foi o meu futuro com a minha família, não o futsal. O meu filho crescer num lugar como o Japão, seria muito bom, por isso eu pensei na naturalização e depois disso veio o futsal, a chance na Seleção”, complementa.
Colega de equipe de Higor, o ala Rafael Katsutoshi Henmi tem uma história um pouco diferente. Ele é filho de brasileiros e atua no Benfica, de Portugal. Mas no Mundial, briga pela Seleção do Japão.
“Na primeira vez que eu fui para a seleção do Japão, eu tinha 17 anos. Eu nasci no Japão e só fui criado no Brasil. Tudo que eu tenho hoje foi graças ao Japão, todas as oportunidades”, ressalta o jogador, de 29 anos. "Eu já tinha disputado a Copa do Mundo de 2012 na Tailândia e participar de mais uma aqui é sempre com muito orgulho. É muito bom."
Diferenças culturais
Morando dos 2 aos 15 anos no Brasil, Rafael não tem nem sotaque para falar português, e mantém uma relação forte com os dois países. “São completamente diferentes, mas são duas culturas que eu gosto muito. O calor das pessoas, dos brasileiros, e o respeito e o orgulho dos japoneses, que eu acho que têm uma cultura brutal”, compara.
Higor Pires já tem cidadania japonesa, mas reconhece que falar o idioma é mais difícil do que pegar pênalti de jogador brasileiro.
“Eu consigo me virar”, comenta, em meio a risos. “Poderia estar falando muito melhor, poderia me dedicar um pouco mais. Mas no dia a dia eu consigo me virar, para entrevistas e tudo mais.”
Para dar uma ideia da importância dos jogadores brasileiros para o futsal, na última Copa, em 2016, nada menos do que 25 brasileiros estavam nas quadras disputando por seleções de outros países.
Neste ano, a Seleção verde e amarela busca o hexacampeonato. O último título foi na Tailândia, em 2012. A Copa se encerra no domingo que vem. A atual campeã é a Argentina.a