Hollywood tem, enfim, um espaço dedicado à celebração da sétima arte. O Academy Museum of Motion Pictures (Museu da Academia de Filmes) abre as portas para o público em 30 de setembro depois de um atraso de quatro anos da data inicial. O projeto foi anunciado em 2012, mas começou a ser sonhado quando a organização que promove o Oscar foi fundada, em 1927. Agora, 92 anos depois, se torna realidade.
Cleide Klock, correspondente da RFI em Los Angeles
O museu ocupa dois prédios, um deles de sete andares, no coração de Los Angeles. O acervo de 13 milhões de artefatos vai ajudar a contar a trajetória da indústria cinematográfica desde a época do cinema mudo até os dias de hoje.
Entre as preciosidades estão os sapatinhos da personagem Dorothy, de "O Mágico de Oz" (1939), a máquina de escrever que Alfred Hitchcock usou para escrever o roteiro de "Psicose" (1960) e uma das capas de Bela Lugosi no longa "Drácula", de 1931.
Na inauguração do local para a imprensa, além de toda a direção, a atriz Anna Kendrick e o ator Tom Hanks deram boas-vindas aos jornalistas. Hanks classificou o museu como "a maior lanterna mágica do mundo", uma referência aos primeiros projetores da história do cinema, que também podem ser vistos no novo espaço cultural.
“Existem outras cidades com museus de cinema mas, com todo o respeito, este tem que ser o Parthenon deles”, disse Hanks. “O cinema é uma arte mágica que fala a todos, em todos os lugares. Devo dizer que conversamos sobre este museu na Academia há quase 20 anos e o resultado final é dez vezes melhor do que em nossos sonhos”, reiterou o dono de duas estatuetas do Oscar.
Hanks é membro do conselho de curadores, junto com Laura Dern, Whoopi Goldberg, entre dezenas de artistas, e liderou a arrecadação de fundos para o projeto junto com a atriz Annette Bening e o presidente executivo da Walt Disney Co., Bob Iger. O custo do museu foi de U$ 482 milhões.
“Queremos trazer todas as histórias internacionais e diversas do cinema para nossas galerias”, afirmou o diretor do museu, Bill Kramer.
No próximo sábado (25), o local será palco de uma noite de gala repleta de estrelas hollywoodianas. Na próxima semana, no dia 30 de setembro, as portas se abrem para o público.
A História do Cinema
Quem dá as boas vindas ao público é Bruce, o personagem principal do filme Tubarão (1975). Com 548 quilos e 7,6 metros, a estrela do filme de Steven Spielberg que levou três estatuetas do Oscar, está pendurado no vão central e é possível vê-lo de todos os andares.
Spielberg, aliás, é um dos maiores doadores do museu e logo na entrada está a galeria que leva o nome de sua família. É ali, com uma apresentação de 13 minutos, que o visitante assiste a uma rápida introdução à história do cinema que tem início com o trabalho dos irmãos Lumière e chega até os dias de hoje.
A verdadeira imersão acontece nos andares seguintes. A maior galeria celebra diferentes eras, gêneros e diretores, como Orson Welles e o icônico "Cidadão Kane" (1941), "Mulheres de Verdade Têm Curvas" (2002), da diretora colombiana Patricia Cardoso, além de Spike Lee, Oscar Micheaux entre tantos outros.
É nesta galeria que estão também 40 peças de vestuário de filmes como "Era Uma Vez em… Hollywood" (2019), "Os Homens preferem as Loiras" (1953), "O Mágico Inesquecível" (1978), "La La Land" (2016), "Rocketman" (2019) e "Interestelar" (2014). Assim como as roupas de cada filme ajudam a contar a arte por trás das estilistas que desenham peças para superproduções, a exposição explica todos os detalhes que fazem um filme: desde a produção de som, de cenários, luz, montagens, efeitos especiais até maquiagem e cabelo.
Já a instalação Impacto/Reflexão explora como narrativas documentais podem levar a mudanças na sociedade, com destaque aos movimentos Vidas Negras Importam, #Metoo, as relações laborais e mudanças climáticas.
O museu da Academia, é claro, dedica um bom espaço às premiações do Oscar. O espectador pode assistir aos discursos mais badalados das nove décadas da festa mais famosa do cinema americano e também ver uma galeria cheia de estátuas reais. A primeira data de 1927.
Pedro Almodóvar foi o diretor escolhido para a mostra temporária dentro da galeria de história do cinema. Doze telões projetam trechos de filmes do cineasta espanhol que ganhou o Oscar em 2002, pelo roteiro do filme "Fale com Ela".
É no final da exposição sobre a história do cinema que vem o deleite para os fãs da cultura pop. Este é o momento para o encontro com os ídolos: aí que estão o "E.T". (1982), os andróides de "Star Wars" C-3PO e R2-D2, o homem-anfíbio de "A Forma da Água" (2017), além de vestuários de filmes da Marvel, "Edward Mãos de Tesoura" (1990) e o protótipo do rosto do "Exterminador do Futuro" (1984).
Já todo o último andar dá espaço à mostra temporária sobro cineasta japonês Hayao Miyazaki que pela primeira vez ganha uma retrospectiva dedicada a ele em solo norte-americano. O público vai poder viajar pela carreira de seis décadas do artista: são 400 objetos que explicam o processo criativo do animador através de desenhos, layouts, cartazes e projeções de filmes.
Mostra de Filmes
No espaço dedicado ao cinema não poderia faltar exibições diárias de filmes. São duas salas que trazem uma programação extensa desenvolvida pelo curador brasileiro Bernardo Rondeau.
"Temos duas salas de projeção, sendo que uma delas tem mil lugares e espaço para orquestra. A programação é muito diversa e extensa, com filmes relacionados com as exposições da galeria História do Cinema e com as mostras temporárias. Atualmente temos as animações de Hayao Miyazaki, além de produções que ganharam o Oscar. Toda semana também temos filmes infantis", conta o curador que diz que também tem vontade de colocar o Brasil na programação.
"Tenho muito interesse em trazer o cinema brasileiro para nossas salas e também galerias. Na mostra de Spike Lee, por exemplo, na parte que fala das referências que ele tem como cineasta, expomos um poster do filme Pixote (1981), dirigido por Héctor Babenco. O museu já adquiriu outros materiais de filmes brasileiros, peças da Carmen Miranda e até uma película dela fazendo provas de roupa. Sempre vamos estar renovando os objetos das exposições e quem sabe, em breve, teremos mais do Brasil por aqui", revela Rondeau.
A experiência de ganhar um Oscar
Os visitantes também terão a oportunidade de receber uma estatueta do Oscar, mesmo que seja por alguns instantes. Depois de escrever o nome em um computador, entra-se no espaço interativo com um telão no qual está projetada a imagem do Dolby Theater - local onde acontece a entrega dos troféus na célebre cerimônia.
Em seguida, escuta-se a famosa frase: "E o Oscar vai para". Então, o visitante ouve seu nome e tem o direito de segurar a estatueta - uma réplica perfeita, com mesmo peso e dimensões. Por cerca de 15 segundos, é possível até mesmo fazer uma performance para aceitar o prêmio. Tudo é gravado em vídeo e enviado ao visitante via e-mail. Mas, infelizmente, não é possível levar a estatueta para casa.