Texto por: RFI
A França comemora nesta quinta-feira, 11 de novembro, o Armistício de 1918 que pôs fim à Primeira Guerra Mundial. Este ano, a tradicional cerimônia no Arco do Triunfo prestou homenagem ao último combatente francês da Segunda Guerra, Hubert Germain, que faleceu há um mês, aos 101 anos. O corpo deste herói da Resistência repousará no Memorial do Mont Valérien, a oeste de Paris.
"Será que estaríamos aqui sem Hubert Germain?", perguntou o chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, durante um discurso proferido no final da manhã sob o Arco do Triunfo. O monumento parisiense acolhe o túmulo em homenagem ao soldado desconhecido, que representa todos aqueles que perderam a vida defendendo a nação francesa.
Germain fez parte de um grupo de 1.038 franceses, entre eles seis mulheres, que receberam o título de "Companheiros da Libertação" por terem atuado para livrar a França da ocupação nazista, durante a Segunda Guerra Mundial. Ele tinha 19 anos quando ouviu e atendeu ao chamado do general Charles de Gaulle para resistir ao Exército de Hitler.
Dois anos após o início da guerra, o marechal Philippe Pétain, chefe do governo de Vichy, havia assinado um armistício com as forças nazistas, encerrando a resistência oficial da França. No célébre apelo feito por De Gaulle, em 18 de junho de 1940 pela rádio BBC, em Londres, o general convocou os franceses a não aceitarem a colaboração de Pétin com os nazistas e incentivou os patriotas a darem continuidade aos combates. Germain abandonou os estudos na escola militar que cursava, entregando uma prova em branco, para se juntar a De Gaulle na capital britânica.
Nesta quinta-feira, em seu discurso no Arco do Triunfo, Macron citou vários nomes dessa confraria heróica, "ilustres e anônimos", que "seguiram o general De Gaulle naquela aventura inacreditável". "O último companheiro já não está entre nós (...) Mas esses 1.038 que se uniram à França não desaparecem" da mémória, afirmou o chefe de Estado.
"Missão cumprida"
No meio da manhã, sob um lindo céu azul, o caixão com o corpo de Germain, que morreu no dia 12 de outubro, deixou o monumento dos Inválidos, onde havia sido exposto na véspera, para seguir em direção à avenida Champs-Elysées e ao Arco do Triunfo.
A urna, coberta com a bandeira tricolor francesa, foi transportada por um tanque de guerra AMX-10, adaptado para a circunstância com a inscrição da batalha de Bir Hakeim, uma das inúmeras ocasiões em que Germain defendeu a liberdade de seu país.
No meio do caminho, atendendo a um pedido feito pelo combatente antes de morrer, o tanque com o caixão parou em frente à estátua de De Gaulle para uma última continência. O combatente havia deixado escrito o que desejava dizer: "Missão terrestre cumprida, meu general".
No início da tarde, o corpo de Germain foi transportado para o Memorial da Segunda Guerra, em Suresnes (a oeste de Paris), onde foi sepultado. Em junho de 1960, ao inaugurar este monumento, Charles de Gaulle expressou que a cripta de número 9 fosse reservada para o último dos membros da Ordem da Libertação, que ele tinha criado para "recompensar as pessoas ou as comunidades militares e civis que tenham se destacado na obra de liberação da França e de seu império".
Kamala Harris: "longa história compartilhada"
Em visita à França, a vice-presidente americana, Kamala Harris, participou da cerimônia no Arco do Triunfo. Ela disse que era "importante" estar presente nas comemorações do Armistício de 1918 porque Estados Unidos e França têm "uma longa história compartilhada".
Na véspera, Kamala e seu marido, Doug Emhoff, estiveram no cemitério militar americano de Suresnes, onde 1.565 soldados estão enterrados, ao lado do memorial francês da Segunda Guerra. Para a Casa Branca, o local simboliza os "valores comuns" dos dois países.
O presidente francês, assim como ministros e personalidades que participaram da cerimônia no Arco do Triunfo, exibia uma flor azul (Bleuet de France) na lapela de seu casaco. Macron anunciou que a Ordem da Libertação, criada em novembro de 1940, "viverá" após o desaparecimento do último membro da resistência, para que continue "uma fonte eterna de inspiração aos filhos da França, sempre unidos".
A líder de extrema direita Marine Le Pen, candidata à eleição presidencial de 2022, esperava comparecer ao tributo a Germain nesta quinta-feira. No entanto, o Palácio do Eliseu se opôs à proposta, já que nenhum parlamentar ou líder partidário foi convidado. A socialista Anne Hidalgo, que também é candidata à sucessão de Macron, participou das comemorações como prefeita da capital.
Com informações da AFP