Texto por: Cristiane Capuchinho RFI
Às vésperas de assumir a presidência rotativa do Conselho da União Europeia, em janeiro de 2022, o presidente francês Emmanuel Macron anunciou nesta quinta-feira (9) seus objetivos para o mandato de seis meses da França. Entre planos de ampliar a soberania europeia e refundar as regras de fronteira, o chefe do Estado francês afirmou que pretende implementar um instrumento para barrar a importação de produtos originários de áreas de desmatamento, como soja, carne bovina, café e cacau.
O instrumento jurídico teria como objetivo “proibir a importação europeia de soja, carne bovina, óleo de palma, madeira, cacau e café produzidos em área desmatada”, declarou Macron, durante um longa coletiva de imprensa organizada no Palácio do Eliseu.
O projeto seria avançar para colocar em prática o plano da Comissão Europeia de exigir que empresas que exportem produtos como soja e carne bovina comprovem que suas cadeias de produção não usam áreas desmatadas, anunciado em outubro.Se implementado, o projeto deve afetar o Brasil, que tem na soja e na carne duas de suas principais commodities de exportação. Segundo um levantamento feito pela ONG WWF, a importação europeia de produtos como carne, óleo de palma e soja responde por 17% do desmatamento em áreas tropicais do planeta, entre elas a Amazônia e o cerrado brasileiro.
Uma Europa poderosa diante do mundo
Ao longo de mais de duas horas, Emmanuel Macron apresentou um projeto ambicioso para os seis meses em que a França assume a presidência rotativa do Conselho da União Europeia, a partir de 1° de janeiro de 2022.
"Se eu tivesse que resumir em uma frase o objetivo desta presidência, eu diria que devemos passar de uma Europa de cooperação dentro de suas fronteiras a uma Europa poderosa diante do mundo, completamente soberana, livre de suas escolhas e dona do seu destino", declarou o presidente francês.
Ainda marcado pela saída do Reino Unido do bloco econômico em um turbulento Brexit, Macron defendeu a importância da união entre os países europeus contra as tendências nacionalistas, e pregou a construção de uma soberania europeia como complemento das soberanias de cada país.
Desde o início de seu mandato, em 2017, Macron assumiu a postura pró-Europa e tem defendido a tomada de decisão dentro do bloco ao longo dos anos. No período, o francês celebrou algumas vitórias ao lado da chanceler alemã, Angela Merkel, como o plano de investimento europeu de retomada da economia pós-Covid no valor de € 750 bilhões.
Há quatro meses da eleição presidencial que pode mantê-lo no poder por mais cinco anos, Macron deve usar a presidência do Conselho da União Europeia para reafirmar sua posição contra os candidatos nacionalistas e de extrema-direita que enfrentará no pleito, ainda que o presidente francês ainda não tenha declarado oficialmente sua candidatura à reeleição.
Um novo Schengen
Em relação à imigração, o presidente francês defendeu a reforma das regras de fronteira e do pacto Schengen, e fez menção sobre a necessidade de repensar o pacto de migração e asilo para evitar tragédias como a que vitimou em novembro 27 pessoas no Canal da Mancha.
"Proteger nossas fronteiras é uma condição essencial, tanto para garantir a segurança dos europeus quanto para enfrentar o desafio migratório e evitar as tragédias que temos vivido", explicou o presidente francês.
Ele pretende implementar reuniões regulares dos ministros europeus responsáveis por questões de migração, a fim de poder "reforçar os controles fronteiriços" quando necessário.
Emmanuel Macron também pretende promover a criação de mecanismos de apoio de emergência no caso de uma crise na fronteira de um Estado-membro, como a que acontece entre a Polônia e a Belarus.
O presidente francês também espera "progredir" discussões sobre o Pacto sobre Migração e Asilo, apresentado em setembro de 2020 pela Comissão Europeia, e que pretende harmonizar as regras e evitar os fluxos migratórios dentro do bloco europeu.
(Com informações da AFP)