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Após revelações do Reino Unido, cresce risco de conflito armado entre Rússia e Ucrânia


O Reino Unido afirmou, neste sábado (22) ter "informações confiáveis" de manobras do governo russo para "colocar um líder pró-russo em Kiev". As acusações podem agravar a crise na fronteira ucraniana, onde as tropas russas estão posicionadas, e aumenta o risco de um conflito armado na região.


De acordo com um comunicado da chancelaria britânica, os serviços de inteligência russos entraram em contato com vários políticos ucranianos e "o ex-deputado Ievguêni Muraiev é considerado um líder em potencial" da ex-república soviética, "embora não seja o único".  A lista de pessoas cogitadas pelos serviços russos também inclui o ex-primeiro-ministro Mykola Azarov, que fugiu para a Rússia com o então presidente Viktor Yanukovic, em 2014, por conta de uma revolta popular em Kiev.


Os outros nomes citados são os do ex-chefe do Conselho de Segurança e Defesa Nacional, Vladimir Sivkovich (sancionado esta semana pelos Estados Unidos, juntamente com outros três políticos ucranianos por sua suposta cooperação com os serviços de inteligência russos), o ex-vice-primeiro-ministro Serhiy Arbuzov e o ex-chefe do gabinete presidencial Andriy Kluyev.


De acordo com a secretária de Relações Exteriores britânica, Liz Truss, citada no comunicado, o relatório revela "a extensão da atividade russa destinada a desestabilizar a Ucrânia". Ela propõe que a Rússia "encerre suas campanhas de agressão e desinformação, e dê continuidade ao caminho da diplomacia" para diminuir as tensões que podem resultar em um conflito armado. 


Os países ocidentais acusam o governo russo de preparar um ataque e de enviar tanques, artilharia e cerca de 100.000 soldados para a fronteira ucraniana. No comunicado deste sábado, a secretária britânica salientou que "qualquer incursão militar na Ucrânia seria um grande erro estratégico" e resultaria em "graves custos" para a Rússia.



O Kremlin nega suas intenções militares, mas condiciona a retirada dos soldados a tratados que garantam a não expansão da Otan, principalmente para a Ucrânia, além da retirada da Aliança Atlântica do Leste Europeu. Os ocidentais consideram essa condição imposta pelo Kremlin "inaceitável".


Para Tom Tugendhat, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento Britânico, "pela primeira vez em uma geração, estamos à beira de uma guerra na Europa. Devemos ser fortes, porque só a força pode pará-los", declarou. Moscou pediu que Londres cesse as provocações e pare de "espalhar absurdos".


A acusação do Reino Unido ocorre poucas horas após o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, aceitar um convite para se encontrar em Moscou com seu colega britânico, Ben Wallace, para discutir a crise na fronteira ucraniana. A reunião bilateral, que seria a primeira desde 2013, visa "explorar todos os caminhos para alcançar a estabilidade e resolver a crise ucraniana", informou uma fonte do Ministério da Defesa britânico neste sábado.


Guerra iminente?


As novas acusações britânicas são "preocupantes", segundo o governo americano, que divulgou um comunicado neste sábado (22), na Casa Branca. "O povo ucraniano tem o direito soberano de determinar seu próprio futuro e estamos ao lado dos nossos parceiros democraticamente eleitos na Ucrânia", declarou Emily Horne, porta-voz do Conselho Nacional de Segurança.


As acusações do governo britânico foram divulgadas um dia após a reunião do ministro das Relações Exteriores russo, Sergey Lavrov, e o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken. Eles se encontraram em Genebra na tentativa de reduzir as tensões na fronteira russo-ucraniana e concordaram em manter conversas "francas" na próxima semana.


Para o chefe da Marinha alemã, Kay-Achim Schönbach, o cenário de uma invasão russa da Ucrânia é "absurdo". O comentário provocou sua renúncia do cargo neste mesmo sábado, após comunicado divulgado pelo Ministério da Defesa alemão.Conflitos podem voltar na Europa, diz especialista


Em entrevista à rádio francesa Europe 1, o embaixador da França nos Estados Unidos, Gérard Araud, disse neste domingo (23) que a situação atual pode desencadear "uma guerra no continente." Segundo ele, a União Europeia foi a maneira encontrada de "transferir os conflitos do campo de batalha para os corredores de Bruxelas, o que é infinitamente mais pacífico", explicou.


"Mas é preciso estar alerta. Na Europa, em nossas fronteiras, os conflitos podem voltar", declarou, citando como exemplo a guerra da ex-Iugoslávia, que matou dezenas de milhares de pessoas. O diálogo continua sendo a melhor maneira de superar as diferenças. "A Rússia continua sendo um país europeu", lembrou, acrescentando que a conversa, entretanto, "é difícil com Vladimir Putin."


(Com informações de Marie Boëda, correspondente da RFI em Londres, e AFP)

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