Denúncias de exposição de crianças e adolescentes na internet estão entre os cinco tipos de violações mais denunciados no Disque 100
Com a chegada das férias e as crianças e adolescentes com mais tempo livre, aumenta também o tempo de exposição às telas. O que deveria ser apenas uma forma de lazer, pode se transformar em um problema se não houver o monitoramento dos adultos.
As denúncias de exposição de crianças e adolescentes na internet estão entre os cinco tipos de violações mais denunciados no Disque 100 – o canal do Disque Direitos Humanos, serviço do Governo Federal. O levantamento sobre esse tipo de violência, considerando o local onde ocorre, inclui casos de pedofilia, cyberbullying e pornografia infantil.
Janete Bach Estevão, especialista em proteção de dados e diretora comercial na Datalege Consultoria Empresarial, lembra que apesar desses registros, o número real de casos pode ser bem maior.
De acordo com um relatório da Norton Cyber Security, em 2017, o Brasil se tornou o segundo país com o maior número de casos de crimes cibernéticos. A situação, envolvendo cerca de 62 milhões de pessoas, gerou prejuízos de aproximadamente US$ 22 bilhões.
Janete comenta que o acesso e maior exposição às telas cresce significativamente durante o período de férias. “Para muitos pais e responsáveis que continuam em suas rotinas de trabalho, é uma forma de entreter as crianças dentro de casa. Mas é fundamental fazer um monitoramento para evitar surpresas desagradáveis, pois esse público é bastante visado pelos cibercriminosos”, destaca a especialista.
“O aumento no uso de internet, equipamentos eletrônicos e plataformas de streaming é perceptível em todas as faixas etárias, mas se destaca entre a população infanto-juvenil que, ao mesmo tempo que se diverte, também está mais exposta e vulnerável aos golpes do mundo virtual”, salienta.
Janete explica que são delitos que vão desde pedófilos utilizando perfis falsos, jogos que induzem crianças e adolescentes a colocar em risco a própria vida, cyberbullying e até a invasão dos equipamentos eletrônicos da família para roubar dados pessoais e informações bancárias.
NEGLIGÊNCIA VIRTUAL
A especialista em proteção de dados ressalta que os cibercriminosos estão atentos ao atual cenário e aproveitam possíveis deslizes para fazer novas vítimas. “Infelizmente, há muitos casos em que a família comete negligência virtual ao ser indiferente ao que os filhos acessam”, comenta.
Por outro lado, ela pontua que muitas famílias não sabem que existem diversas ferramentas disponíveis para fazer o controle dos eletrônicos e evitar o excesso de exposição. Além de recorrer a esses recursos, Janete enfatiza que o assunto deve ser abordado em família, sempre com o objetivo de orientar, esclarecer e dar suporte aos pequenos. “O diálogo é fundamental para que eles se sintam seguros de relatar qualquer episódio estranho. A conversa deve ser clara, mas respeitando o entendimento em cada fase etária. Essa é a principal ferramenta contra as armadilhas virtuais”, salienta.
Veja as dicas:
SMARTPHONES
Existem diversas ferramentas para monitorar remotamente o que as crianças e adolescentes fazem no celular. Alguns exemplos são o Kids Place, Google Family Link, Qustodio e FamiSafe. Os recursos oferecidos variam de acordo com o aplicativo, mas em geral permitem controlar o tempo de uso do smartphone, bloquear aplicativos, filtrar e detectar conteúdos suspeitos e rastrear a localização.
JOGOS ONLINE
Os famosos videogames têm suas versões interativas e em tempo real. As principais plataformas de jogos, como por exemplo Playstation, Xbox, Nintendo oferecem jogos online nos quais as partidas são jogadas pela web com participantes do mundo todo, sem saber exatamente quem está do outro lado. Nestes casos o jogador precisa fornecer seus dados pessoais para um cadastro antes de poder ingressar no ambiente digital.
O detalhe é que existe uma idade mínima a ser informada (e verdadeira) neste cadastro. E é aí que está o primeiro erro das famílias: na prática, os pais são coniventes com as informações incorretas para permitir o acesso dos filhos aos jogos.
Por exemplo, se o game permite apenas participantes com mais de 14 anos, é bem comum essa idade ser “ajustada” conforme a necessidade. Esse é um importante parâmetro de segurança que acaba sendo ignorado.
Além disso, os pais devem acompanhar os filhos durante algumas partidas, de forma aleatória, e prestar atenção às conversas (é bom estar preparado inclusive para ouvir muitos palavrões, em vários idiomas) para identificar algo estranho e poder orientar os filhos.
REDES SOCIAIS
Nesse caso, o ideal e recomendado é manter as crianças distantes das redes sociais e monitorar os adolescentes. No entanto, o YouTube é uma rede social que oferece muito conteúdo para todas as faixas etárias, inclusive para os pequenos.
As dicas são as mesmas: diálogo e respeito às regras estabelecidas pela família, além de negociar e esclarecer a criança sobre a importância de a família ter acesso ao dispositivo para verificar os conteúdos.
Crianças e adolescentes costumam descobrir redes sociais e aplicativos que os adultos nunca ouviram falar e não têm nem ideia do que circula nestes programas. É fundamental os pais estarem informados sobre as novidades.
COMPUTADOR
No caso de computadores, muito utilizados por gamers, onde as máquinas têm processadores potentes, memória abundante e telas de alta definição, as recomendações são as mesmas das plataformas anteriores.
Um ponto importante e adicional é a necessidade de ter os softwares todos legalizados e com um bom antivírus instalado e atualizado. A possibilidade de ataques hacker é grande e é preciso um olhar apurado para identificar programas instalados sem autorização no computador. Esses softwares podem roubar informações e senhas sem que o usuário se dê conta.
O ideal é criar um usuário e senha para a criança ou adolescente, para que toda a movimentação na rede fique registrada e seja possível saber quem acessou – principalmente quando o computador é utilizado por mais de uma pessoa.
Existem programas, inclusive gratuitos, para fazer o controle parental. Eles permitem estabelecer o tempo de uso de cada usuário, além de restringir acessos a sites, controle para compras na internet, localização, entre outras funcionalidades.
Janete Bach Estevão
Janete Bach Estevão é DPO e especialista em proteção de dados e diretora comercial na Datalege Consultoria Empresarial. É doutora e mestre em Tecnologia pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Possui ampla experiência em gestão da informação e do conhecimento, gestão documental e de processos e tecnologia em empresas nacionais e multinacionais. É capacitada como Data Protection Officer (DPO) pela consultoria Datalege em Curitiba, certificada pela Exin.
- Atua como Pesquisadora Sênior no GESIS - Leibniz-Institut für Sozialwissenschaften, na Alemanha, em projetos de tecnologia para dados científicos.