Soldado ucraniano caminha em área da linha de frente que separa militares do Exército ucraniano e separatistas pró-russos na região do Donbass, perto de Donetsk. 31/01/2022 AP - Vadim Ghirda
A possível intervenção russa na Ucrânia é longamente analisada pelas revistas semanais francesas. Na L'Obs, a articulista Sara Daniel diz que se o presidente russo, Vladimir Putin, decidisse atacar hoje, o momento seria bem escolhido. Ela estima que a mediação do presidente francês para evitar um conflito não dará resultados.
Na opinião da articulista da L'Obs, a Rússia tem o caminho livre para deflagar um conflito na Ucrânia. Os Estados Unidos declararam que não interviriam militarmente para responder a uma agressão de Moscou, enquanto os russos já se organizaram para enfrentar as sanções econômicas prometidas pelos países ocidentais ao buscar o precioso apoio da China. A Europa, por sua vez, está mais dividida do que nunca, devido à dependência energética do gás russo, principalmente a Alemanha.
A Otan não entrará em guerra pela Ucrânia, muito menos para salvá-la de um desmembramento no sul e no leste, se a Rússia decidir que assim será, avalia a publicação. O "diálogo estratégico" defendido desde 2019 pelo presidente Emmanuel Macron com Vladimir Putin "é um fracasso total", escreve a jornalista. A visão da diplomacia francesa de integrar a Rússia na ordem mundial ocidental apenas demonstrou a ingenuidade de Macron em relação ao Kremlin, destaca.
A L'Obs enumera as diversas opções que Putin tem sobre a mesa para intervir na Ucrânia: bombardeio aéreo para destruir o arsenal de armas ucraniano sem incursão territorial; uma guerra relâmpago a partir da fronteira bielorrussa, que poderia ocorrer entre 10 e 20 de fevereiro durante os exercícios militares conjuntos entre os dois países. Outra opção seria a anexação das regiões separatistas de Donetsk et Lugansk e até uma investida da infantaria naval e de blindados anfíbios recentemente posicionados no sul da Ucrânia, do litoral do porto de Mariupol até Odessa e a fronteira da Romênia. "Qualquer que seja a forma que ela tome, a guerra na Ucrânia irá acontecer, e já começou", conclui a articulista.
A L'Express também explora cinco cenários possíveis de intervenção. De acordo com especialistas ouvidos para a reportagem, o mais agressivo deles, que seria uma ofensiva total, visando tomar o controle de todo o território ucraniano, é o menos provável.A revista Le Point traz trechos do artigo sobre a visão das relações entre a Rússia e a Ucrânia que Putin publicou em julho no site do Kremlin. No texto, ele afirma que russos e ucranianos formam um único povo, que a Ucrânia moderna é uma criação da União Soviética e que depois da queda da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), americanos e europeus pressionaram Kiev a adotar uma posição de hostilidade contra Moscou.
Conflito de gerações
No entanto, os resultados de uma pesquisa feita pelo respeitado centro de estudos Razumkov, em Kiev, e publicados pela Le Point, mostram que a maioria dos ucranianos (72%) da faixa etária de 18 a 29 anos defendem a adesão do país à Otan, principalmente os habitantes das regiões centro e oeste do território. Mesmo no leste e no sul da Ucrânia, onde vive uma influente minoria de russos, 49% dos entrevistados são favoráveis à aliança militar ocidental e 30% se declararam contrários.
A Ucrânia está se dividindo cada vez menos num eixo leste-oeste, ou entre a parcela russa de população e a ucraniana. A constatação é que existe um conflito de gerações entre os mais velhos, ainda marcados pelos laços com a ex-URSS, e os jovens ucranianos, voltados para a Europa. Por outro lado, a Igreja Ortodoxa russa permanece um vetor de influência de Moscou, destaca a pesquisa publicada em janeiro.