Os líderes da União Europeia (UE) estão reunidos nesta quinta-feira (10) e sexta-feira (11) em Versalhes, nos arredores de Paris, para discutir o impacto da invasão russa à Ucrânia. O bloco estuda como reforçar sua defesa - já que a criação de um Exército europeu, um sonho francês, não é unanimidade - e como diminuir a dependência aos combustíveis russos.
"A Europa mudou com a pandemia e vai mudar mais e ainda mais com a guerra" na Ucrânia, disse o presidente francês, Emmanuel Macron no início do encontro, acrescentando que não via um cessar-fogo como algo realista no momento.
Originalmente convocada para tratar de um novo modelo de crescimento econômico e investimentos, o propósito e as prioridades da reunião de cúpula mudaram após a invasão russa ao país vizinho.
Os líderes do bloco discutirão a situação na Ucrânia como "um membro de nossa família europeia", disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, na chegada à Versalhes. "Queremos uma Ucrânia livre e democrática, com a qual compartilhamos um destino comum", completou ela.
Os dirigentes dedicaram este primeiro dia juntos exclusivamente para tratar dos desafios impostos pelo conflito. A cúpula informal, organizada pela França no prestigioso Palácio de Versalhes, antiga residência dos reis da França, tem como ponto central uma reação às consequências inevitáveis da guerra. Por um lado, os países tentam encontrar fontes para substituir o gás e o petróleo russos e, de outro, fortalecer os laços com a Ucrânia.Atualmente 45% do gás e 25% do petróleo usado pelo países da UE é fornecido pela Rússia. Essa dependência faz com que como o bloco não possa, simplesmente, como fizeram os Estados Unidos, anunciar um embargo aos hidrocarbonetos vendidos por Moscou. Nesse contexto, os 27 Estados-Membros terão que discutir opções para aumentar as importações de gás natural liquefeito, economizar energia e acelerar a descarbonização de suas economias. A França, anfitriã, pretende apostar na energia nuclear e de fontes renováveis.
Urgência
As sanções anunciadas nas últimas duas semanas contra Moscou aumentam a emergência das discussões. “Devemos compreender as preocupações dos nossos cidadãos, mostrar-lhes a nossa solidariedade, especialmente com os membros da União Europeia que serão mais afetados do que outros”, disse a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola.
O encontro é visto como o início de uma nova era, em que os países farão considerações de longo prazo envolvendo o fornecimento em setores-chave, como matérias-primas, proteínas vegetais e semicondutores.
O objetivo é coordenar uma resposta econômica aos problemas. E, assim como aconteceu em relação à crise sanitária provocada pela Covid-19, um novo plano de recuperação deve ser discutido para apoiar empresas e aumentar os investimentos em setores como a defesa e a energia. O Palácio do Eliseu promete que será a "cúpula da reação europeia, da soberania europeia".
Ucrânia na UE
Outro assunto a ser discutido é o pedido da Ucrânia para entrar na União Europeia, o que divide os países do bloco. Alguns são mais favoráveis, como a Polônia, e outros mais prudentes, como é o caso da França. Paris não quer uma adesão acelerada, alegando que este é um processo que leva anos e a Ucrânia precisa de soluções rápidas, de acordo com a presidência francesa.
Alguns líderes europeus já descartaram o pedido da Ucrânia de aderir à EU por meio de um procedimento expresso, a fim de responder à invasão russa do país, alegando que tal alternativa "não existe". "Não há via rápida. Isso não existe", disse o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, ao chegar ao Palácio de Versalhes.
O primeiro-ministro de Luxemburgo, Xavier Bettel, concordou dizendo: "Não podemos dar aos ucranianos a impressão de que tudo pode acontecer em um dia".
Uma fonte europeia, citada pela agência Reuters, diz que as opções estudadas incluem o reforço dos laços entre a Ucrânia e o mercado único europeu e a ligação do país à rede energética da UE. Além da Ucrânia, Geórgia e Moldávia já apresentaram pedidos de adesão a UE.
Atualmente, Albânia, Macedônia do Norte, Montenegro, Sérvia e Turquia são formalmente reconhecidos como países candidatos. No caso da Turquia, as negociações se arrastam há mais de duas décadas, mesmo que estejam virtualmente paralisadas, desde 2016.
O último país a aderir à UE foi a Croácia, em 2013, após as negociações, iniciadas em 2005, terem durado oito anos, e os últimos capítulos tenham sido finalmente concluídos, em 2011.
(Com informações da RFI e da AFP)