A rede social Twitter, que está em processo de aquisição pelo empresário Elon Musk por US$ 44 bilhões, é uma nova aposta industrial e política do homem mais rico do mundo.
Na avaliação de Nicolas Vanbremeersch, presidente do think tank francês Renascença Digital (Renaissance numérique, em francês), "embora Musk tenha um estilo provocador, ele ingressa no setor das redes sociais para melhorar o Twitter e torná-lo um concorrente à altura do grupo Meta, de Mark Zuckerberg, e do TikTok".
Dominique Baillard e Stéphane Geneste, da RFI
O bilionário fundador da Tesla e da Space X compra uma empresa com resultados pouco convincentes. O Twitter registrou seu primeiro lucro em 2017 e continua a ser o parente pobre das redes sociais, com apenas 220 milhões de clientes ativos – um número irrisório se comparado aos 2,9 bilhões de usuários do Facebook, por exemplo. Há questionamentos, entretanto, sobre as ambições que motivam o empresário.
"Musk investe em setores para transformá-los", diz Vanbremeersch. "Como usuário assíduo do Twitter, ele deve ter visto uma oportunidade de agir no equilíbrio do conjunto das redes sociais e escolheu um ator importante, muito utilizado por políticos, mas menor que os concorrentes", opina o francês.
Usuário compulsivo da plataforma, com 83 milhões de seguidores, é no Twitter que o bilionário nascido na África do Sul anuncia seus projetos, comenta e debate os temas da atualidade, denuncia os críticos ou os alimenta, e expõe suas excentricidades.
Musk considera que o Twitter é "o espaço da aldeia global" e das "declarações fortes" e sua intenção seria transformar a rede em uma ferramenta de democracia na era da web. "Musk sabe que é preciso agir dentro dos ecossistemas e de acordo com suas respectivas regras", argumenta. "Ele entra em negócios para ganhar dinheiro e, paradoxalmente, poderá melhorar o Twitter, que tem um algoritmo nada transparente e incompreensível para muita gente", destacou Vanbremeersch.
A compra do Twitter por uma personalidade próxima dos liberais americanos suscita curiosidade e questionamentos. Nos Estados Unidos, os republicanos veem na operação o surgimento de uma nova esfera de influência online, enquanto os democratas estão preocupados com o que consideram um projeto libertário.
Atualmente, os governos exigem cada vez mais moderação das redes sociais, mas Musk quer ir na direção oposta. Alguns temem que a plataforma se torne mais tóxica. O empresário, no entanto, reconhece que existem limites impostos por lei.
Twitter terá de respeitar regulamentação estrita da UE
O comissário europeu para o Mercado Interno, Thierry Breton, alertou nesta terça-feira que o Twitter "terá que se adaptar totalmente às regras europeias", independentemente das orientações do novo acionista em matéria de liberdade de expressão.
Breton mencionou especialmente o novo regulamento sobre serviços digitais, o Digital Services Act (DSA), concluído no sábado (23) pelos legisladores da UE e que obrigará as grandes plataformas a combater melhor os conteúdos ilegais.
"Seja sobre assédio online, venda de produtos defeituosos, pornografia infantil ou apelos a atos terroristas, o Twitter terá que se adaptar às nossas regulamentações europeias, que não existem nos Estados Unidos", acrescentou o comissário europeu. Breton elaborou esta nova legislação europeia junto com a comissária da Concorrência, Margrethe Vestager.
Como desenvolver a rede?
O bilionário de 50 anos, filho de um engenheiro sul-africano e uma modelo canadense, tem as suas próprias ideias sobre como impulsionar o Twitter. O seu desejo imediato é tirar a rede da bolsa de valores e transformá-la em profundidade, sem ser pressionado por acionistas, reguladores e a publicação trimestral de resultados.
Musk não revelou um plano detalhado para desenvolver o Twitter, mas citou algumas intenções. Ele pretende alongar as mensagens, que atualmente estão limitadas a 280 caracteres.
Outras ideias soaram politicamente mais sensíveis, como dar aos usuários da rede a possibilidade de modificar seus textos. Algumas propostas aventadas são mais radicais, entre elas a de renunciar à venda de publicidade, fonte de 90% das receitas do Twitter, e substituí-la por uma assinatura paga. Essa fórmula está bem estabelecida no mercado americano e deve ser ampliada ao resto do mundo.
O fim da venda de publicidade poderia levar ao fechamento da sede da empresa e à demissão dos colaboradores que nela trabalham, insinuou o empresário. Exigente no controle de custos, Musk quer economizar US$ 3 milhões por ano, reduzindo a zero os rendimentos dos diretores.
Retorno de extremistas?
O plano ainda não é claro, mas atrai a atenção de analistas, mesmo que ainda haja muitas perguntas sem respostas. Quem irá pilotar a futura empresa?
O atual diretor Parag Agrawal ou Elon Musk pessoalmente? Esta hipótese provocou ontem um recuo no valor das ações da Tesla. Outra questão que está no ar é se o projeto de promover a liberdade de expressão seria economicamente sustentável.
Se esta mudança trouxer de volta extremistas à rede, as empresas que temem por sua imagem poderão fugir da plataforma. Donald Trump, que foi banido do Twitter, deixou claro que não pretende retornar.
Já o presidente Jair Bolsonaro retuitou uma postagem na qual Musk declara, em inglês: "Espero que até mesmo meus maiores críticos permaneçam no Twitter. É isso que significa liberdade de expressão".