Os ataques das forças russas continuam no porto de Mariupol, no sul da Ucrânia e uma grande parte da cidade está sob o controle de separatistas. A RFI foi até o local e conversou com moradores.
Anissa El Jabri, enviada especial da RFI a Mariupol
Oito postos de controle separam Donetsk, capital da república autoproclamada do Donbass, de Mariupol. Ao chegar à cidade - ou o que resta dela -, o barulho indica que os combates não dão trégua. O som de tiros e bombas é ensurdecedor, mas todos parecem ter se habituado a essa rotina.
Às vezes, mulheres, crianças e pessoas idosas emergem de abrigos e porões. Alguns deles permaneceram escondidos durante três semanas e muitos sobreviventes caminham entre os destroços de uma cidade em ruínas. Nenhum prédio ou casa foi poupado.
Janelas quebradas, residências queimadas, carcaças de carros carbonizados. Na entrada de poucos imóveis que ainda continuam de pé é possível ler a mensagem: "Crianças vivem aqui". A tentativa de sensibilizar os russos, porém, parece não ter funcionado e apenas as igrejas foram poupadas dos ataques.
"O que está acontecendo no mundo?"
Ao lado de representantes dos separatistas russos, a equipe da RFI enviada à Mariupol acompanhou uma distribuição de ajuda humanitária. Caixas de alimentos são entregues por soldados cujo uniforme tem a marca "Z", símbolo da chamada "operação especial" da Rússia na Ucrânia.
Muitos moradores percorrem vários quilômetros a pé para encontrar os locais de distribuição de ajuda. Vários deles têm as mãos e os rostos pretos de fumaça, já que são obrigados a cozinhar fora de suas casas. Mariupol está há semanas sem água e energia elétrica, e quem ficou é obrigado a improvisar para sobreviver.
Isolados de tudo, sem telefone e internet, os moradores recorrem aos jornalistas que trabalham no local para pedir notícias. "Vocês sabem o que está acontecendo no mundo? Será que haverá um acordo de paz?", perguntam à equipe da RFI.
Outros abordam os repórteres, a quem entregam pedaços de papel com números de telefone, pedem que familiares e amigos sejam contatados na Ucrânia ou na Rússia. "Estou vivo. Preciso de ajuda", dizem as mensagens rabiscadas às pressas.
"Vou mostrar para você como eu era antes"
No meio da cidade em ruínas, sob o barulho das bombas, uma moradora de Mariupol aparece sorridente e vem ao encontro da equipe da RFI. "Olhem como estou bem vestida!", diz ela apontando para sua roupa. "Sim, estou usando um roupão. Cortei uma parte dele para não atrapalhar quando eu caminho. Na verdade, estou um pouco feia agora, mas eu sou mais bonita. Vou mostrar para você como eu era antes", diz ela.
Do bolso de seu roupão florido, a mulher de 65 anos tira um passaporte e mostra a sua foto, maquiada e com os cabelos loiros cacheados. A imagem faz parte de um passado não muito distante, ressalta, lembrando que ela, atualmente, vive em um esconderijo subterrâneo debaixo da terra, com o marido.
"Faz dois meses que vivemos em um abrigo antibombas porque temos medo de viver na nossa casa. Conosco, estão dezesseis pessoas, entre eles, duas crianças, de 11 e 8 anos. Tinha uma outra de 3 anos, mas os pais fugiram quando os bombardeios se intensificaram. Mas eu sigo otimista, apesar de tudo", afirma.