Se dependesse dos franceses que moram no Brasil, Emmanuel Macron teria sido reeleito com margem muito mais significativa de votos. O presidente de centro-direita obteve no território brasileiro 88,9% dos votos, cerca de 30 pontos a mais do que indicam neste domingo (24) os primeiros resultados em toda a França.
Como em todo o continente americano, os franceses no Brasil votaram no segundo turno da eleição presidencial francesa no sábado (23), um dia antes dos eleitores europeus, que foram às urnas neste domingo.
A vitória de Emmanuel Macron foi esmagadora em todas as cidades brasileiras onde o voto era possível.
Tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo, o presidente obteve 87%, em Belo Horizonte foram 91,5%, em Brasília e no Recife, o centrista obteve 80% das preferências. Ao todo, nas oito cidades brasileiras onde os franceses puderam votar, o centrista conquistou 88,9% dos votos, contra 11,1% para Marine Le Pen, do partido Reunião Nacional de extrema direita.
O resultado no Brasil é muito melhor do que aquele conquistado na França como um todo. De acordo com os resultados preliminares, Emmanuel Macron foi reeleito com cerca de 58% dos votos.
O geógrafo francês Hervé Théry, grande conhecedor do Brasil, considera que o resultado espelha a composição da comunidade francesa no Brasil. “São pessoas expatriadas (que trabalham para empresas francesas), que tem um certo nível cultural, engajadas na economia e que não se aventuram”, explica.
Julie Brancante, francesa que mora no Rio de Janeiro, confirma essa percepção. Em entrevista à RFI antes da eleição, ela afirmou que “um voto radical não faz tanto sentido quando a gente mora fora”.
Alta taxa de abstenção
Como em anos anteriores, a taxa de abstenção no Brasil na eleição presidencial francesa é impressionante. Cerca de 30 mil franceses moram no país, pouco mais de 14 mil estão inscritos para votar e muito menos de um terço compareceu aos locais de votação neste domingo. A taxa de participação no Brasil foi de apenas 23,9%.
Para Hervé Théry, ao contrário de muitos franceses que são binacionais e que moram no Brasil há anos, os expatriados formam um grupo muito específico que ainda se preocupa com a política nacional e se inscreve no consulado para votar. “Os que estão instalados no Brasil há muito tempo não querem nem saber”, avalia.
O cientista político Thomás de Barros relativiza esse desinteresse, lembrando que em muitas cidades brasileiras não existe um consulado francês, e que os eleitores têm de fazer procurações para poder votar.
Mas muitos imigrantes, principalmente de esquerda, que moram há anos no Brasil estão mobilizados e já aguardam com expectativa as eleições legislativas que acontecem no mês de junho.
Patrick Maury, pesquisador francês que mora em Belo Horizonte, espera que a futura Assembleia Nacional seja mais representativa da sociedade e seja capaz de contrapor o Executivo.
Ele aposta que após a eleição presidencial haverá “um segundo tempo parlamentar que, de fato, represente as aspirações da sociedade, em que as pessoas não votarão somente útil, mas em função de suas convicções”.
A eleição legislativa na França acontece em 12 e 19 de junho de 2022.