Em uma carta, Francisco encoraja associações em nível internacional que trabalham por soluções práticas que ajudem a reparar os danos produzidos pelas máfias e o sofrimento de vítimas visíveis e invisíveis.
Francisco escreveu uma carta sobre o tema lida em congresso na Argentina (Vatican Media)
A mensagem foi lida em congresso sobre o tema na Argentina, uma promoção de "Libera", a rede italiana de movimentos, escolas e paróquias comprometida por uma sociedade livre do crime organizado e da corrupção.
Andressa Collet - Vatican News
O Papa Francisco enviou mensagem a uma delegação de "Libera", a associação comprometida desde 1995 contra as máfias e pela justiça social e presente em todo território italiano, que, na semana passada, esteve na Argentina para promover o projeto "Bien Restituido" ("Bem Restituído", na tradução livre) sobre reutilização social de bens confiscados.
A carta, escrita em espanhol e datada de 25 de março deste ano, foi lida pelo fundador de Libera, Luigi Ciotti, durante um congresso sobre o tema na Universidade de Buenos Aires.
A mensagem do Pontífice foi reportada em edição de 8 de abril do jornal vaticano L'Osservatore Romano.
Na carta, Francisco se disse feliz pelo trabalho que a Argentina está fazendo em sinergia com a União Europeia, particularmente com a Itália, na luta contra o crime organizado.
Essa colaboração "é essencial para superar esse tipo de associação ilegal, que não conhece fronteiras e se beneficia dos conflitos entre os povos e do mau funcionamento das instituições", escreveu o Papa.
A ação judicial e processual contra esse tipo de crime é normalmente focada em "repressão e punição" que, como explicou Francisco, "é uma perspectiva limitada que deixa o caminho inacabado".
A Itália, sugeriu ainda o Papa, tem muito a oferecer à sociedade no sentido de ajudar a inverter os mecanismos que produzem a proliferação de associações ilegais, a partir da sua própria experiência, "de dor, mas também de resistência e renascimento". E o Pontífice continuou:
“A reutilização social dos bens confiscados é um exemplo virtuoso de restauração e pacificação através da ação coletiva.
Para o Estado, é uma oportunidade para voltar o olhar ao seu povo, criando oportunidades onde não existia antes - porque o crime organizado geralmente se impõe onde as instituições estão ausentes ou com mau funcionamento.
É também uma oportunidade para o Estado assumir a sua responsabilidade e reconhecer a sua omissão; porque um Estado que só olha para si mesmo, se confunde e se perde.”
Vítimas visíveis e invisíveis do crime
Na carta, o Papa enalteceu, assim, que "o crime organizado produz danos sociais em larga escala: gera vítimas visíveis e invisíveis, portadoras de um sofrimento que deve ser ouvido e reparado".
Um congresso internacional para debater esse tema, escreveu Francisco, auxilia a buscar "soluções práticas que ajudem a reparar" esses danos causados à sociedade.
Dessa forma, a justiça pode adquirir espaço, finalizou o Papa, para que possa ser ampliada, criar raízes e ocupar "o espaço que de outra forma é ocupado pela injustiça".
O fundador de "Libera", ao comentar as palavras do Pontífice, afirmou que Francisco está falando à Itália, mas também se dirigindo a todos os Estados, "estimula a ação e o pensamento da Igreja que deve se inovar conceitualmente sobre isso.
As máfias são mundiais, mas há um importante reconhecimento à Itália, país onde nasceram, em grande parte, as máfias, mas também o país onde nasce a Antimáfia".