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Confrontos continuam em Mariupol, mas russos já querem transformar cidade destruída em estância balneária

 


A cidade portuária de Mariupol, considerada estratégica por Moscou, foi praticamente destruída pela ofensiva militar que já dura quase três meses. Algumas das novas autoridades locais, ligadas às forças russas, planejam agora transformar a região em uma estância balneária. Um projeto que não agrada os moradores, conscientes do impacto econômico do fim da atividade industrial que alimenta a região.


Com informações de Anissa el Jabri, enviada especial da RFI a Mariupol

Cerca de mil combatentes ucranianos continuam entrincheirados no labirinto de túneis datando da era soviética sob uma das principais usinas siderúrgicas de Mariupol. "Há quase 600 feridos em Azovtal e os russos seguem bombardeando o hospital militar", afirmou Sviatoslav Palamar, um dos comandantes no local, que pediu que os "EUA ajudem a evacuar os feridos".

As colunas de fumaça preta que emanam da usina de Azovtal cobrem parcialmente o céu da cidade, que teve 90% de seu território destruído. Não há mais trabalho em Mariupol e, para os moradores, o cotidiano se resume em organizar as longas filas para encher galões de água nas duas cisternas de plástico instaladas diante do hospital central.

Mesmo assim, as autoridades pró-russas já têm planos para o futuro, principalmente do ponto de vista econômico. Alguns já falam do "renascimento" de Mariupol, que deixaria de ser uma cidade industrial para se tornar uma estância balneária.

Usinas são responsáveis por 40% dos empregos diretos

Mas o projeto preocupa os moradores, já que as usinas siderúrgicas são responsáveis por 40% dos empregos diretos da cidade. E viver do turismo significa depender de dinheiro vindo de fora, principalmente da Rússia. “Isso quer dizer que haverá menos trabalho. O que os metalúrgicos vão fazer? Não creio que seja uma boa ideia”, reclama um motorista à reportagem da RFI.

Além da Azovstal, que está sendo bombardeada, a cidade vive em partes graças a outras três grandes empresas siderúrgicas: Azovmash, Aglofabrica e Ilyich. “Todo mundo aqui trabalha nessas usinas”, se revolta outro morador. “Se a cidade virar uma estância balneária, a gente vai fazer o que? Vamos trabalhar onde”, se desespera. “Francamente, eu acho que temos que reconstruir tudo. É a única solução. Somos nós que vivemos aqui”, explica.

Alguns ucranianos até tentam ver o lado positivo do projeto, mesmo se são conscientes dos limites nessa mudança de modelo econômico. “Para mim, pessoalmente, pode ser uma boa coisa. Uma estância balneária é algo positivo. 

O ar vai ficar menos poluído, vamos respirar melhor e o mar vai ficar mais limpo”, pondera um morador, antes de mudar de ideia: “Mas para falar a verdade, eu não sei... Uma estância balneária é bom, mas é temporário, apenas para o verão. E durante o inverno, o que a gente vai fazer?”

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