A Comissão Europeia propôs nesta quarta-feira (4) um embargo sobre o petróleo russo e a exclusão de novos bancos do sistema de transação financeira Swift, além da proibição de difusão de mídias russas na Europa. As medidas são anunciadas no âmbito de um sexto pacote de sanções contra Moscou, após mais de dois meses de guerra na Ucrânia.
As propostas ainda precisam ser validadas pelos 27 Estados-membros do bloco. Até o momento, as lideranças europeias não haviam chegado a um acordo sobre o embargo ao petróleo russo devido à grande dependência de vários países das energias fósseis da Rússia.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, apresentou o novo pacote de sanções diante do Parlamento Europeu, reunido em Estrasburgo, no nordeste da França. Segundo ela, a decisão não é fácil "porque certos Estados-membros são fortemente dependentes do petróleo russo". Mas, "Vladimir Putin deve pagar, e pagar um preço alto, por sua agressão brutal" contra a Ucrânia.
"Colocaremos um fim, progressivamente, ao fornecimento do petróleo bruto em um período de seis meses e ao de produtos refinados até o final do ano", garantiu a líder. Von der Leyen salientou que a medida diz respeito a "um embargo total sobre o petróleo russo, entregue por via marítima ou oleodutos, bruto ou refinado".
Hungria e Eslováquia
Na segunda-feira (2), diplomatas europeus haviam sugerido que derrogações ao embargo poderiam ser consideradas à Hungria e à Eslováquia, países extremamente dependentes do petróleo russo. No entanto, essa possibilidade não foi evocada por Von der Leyen durante seu discurso.
Segundo fontes europeias, a Comissão propôs que Budapeste e a Bratislava continuem adquirindo o produto até o final de 2023. Em contrapartida, um comunicado emitido pelo porta-voz do governo húngaro após os anúncios de Von der Leyen afirmou que nenhuma garantia foi oferecida pelo executivo europeu para a segurança energética do país.
Desde o início da invasão russa à Ucrânia, o primeiro-ministro ultranacionalista húngaro, Viktor Orban, ratificou seu apoio a Putin, e rejeita qualquer medida que possa prejudicar o fornecimento de energias fósseis de Moscou. O porta-voz do governo húngaro ressaltou que 65% do petróleo e 85% do gás utilizado pela Hungria vem da Rússia. "Não votaremos sanções que tornem impossível a chegada de petróleo e gás ao país", afirmou na terça-feira (3) o ministro húngaro das Relações Exteriores, Peter Szijjarto.
Já o ministro tcheco da Indústria e do Comércio, Jozef Sikela, declarou que falta um mecanismo para repartir as obrigações referentes à proposta de embargo. "A resolução não define como a falta [de petróleo] será repartida de forma equitável para dividir esse encargo. Falta também uma proposta sobre a compra e distribuição", apontou.
Emissoras russas estatais e Swift
Dentro do sexto pacote de sanções, Von der Leyen também apresentou a proposta de fechar o espaço europeu a "três grandes emissoras estatais russas". "Não permitiremos mais que distribuam seu conteúdo na UE, em qualquer forma, por cabo, através de satélite, na internet ou por aplicativos de smartphones", disse.
As emissoras foram classificadas pela líder como "alto-falantes que amplificam as mentiras de Putin e a propaganda de forma agressiva. Não devemos mais dar a elas um palco para divulgar estas mentiras".
Em seu discurso, a presidente da Comissão Europeia também anunciou que a UE pretende que o novo pacote de sanções vise três bancos russos, incluindo o Sberbank, o maior do país, que serão retirados do sistema Swift, um mecanismo interbancário que permite ordens de transferência e de pagamento internacionais.
No total, sete instituições financeiras russas já foram excluídas do Swift, mas a inclusão do Sberbank é um passo importante. Para Von der Leyen, atingir os "bancos de importância sistêmica essencial para a Rússia" reforçará o "isolamento total" de Moscou e enfraquecerá sua capacidade de financiar a guerra na Ucrânia.
Patriarca Kirill na mira da UE
O sexto pacote de sanções contra a Rússia inclui uma grande lista de 58 personalidades que seriam sancionadas, entre eles, muitos militares russos, além da esposa, da filha e de um filho do porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
O chefe da Igreja Ortodoxa russa, o patriarca Kirill também está na mira da UE. Ele é o principal líder da Igreja Ortodoxa russa, que tem 150 milhões de fiéis no mundo.
De acordo com os documentos aos quais a AFP teve acesso, Kirill é descrito como um "aliado de longa data do presidente Vladimir Putin e que se tornou um dos principais apoiadores da agressão militar" na Ucrânia.
(Com informações da RFI, Reuters e da AFP)