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Brasil entre a fartura de cereais para exportar e a fome entre o povo

O Brasil estima ter uma produção recorde de trigo e milho este ano. Boas notícias, numa altura em que o mundo atravessa uma profunda crise alimentar agravada pela guerra na Ucrânia.

A Companhia Nacional de Abastecimento brasileira prevê que a safra de trigo atinja, em 2022, os 8,4 milhões de toneladas, um crescimento de 8% em relação ao ano passado. Já a produção de milho, apesar das intempéries que têm assolado o país nos últimos meses, deverá atingir também números recorde e, de acordo com a Associação Nacional de Exportadores de Cereais brasileira, o Brasil poderá agora voltar à posição de segundo maior exportador mundial deste cereal.

Antecipando a corrida ao milho, a China assinou, em maio, um protocolo com o Brasil que visa assegurar a importação do cereal brasileiro que costumava a ter, até então, como um dos principais destinos a União Europeia.

Para já, o Brasil mantém-se neutro em relação ao conflito na Ucrânia, permitindo manter relações com a Rússia, importando assim os fertilizantes necessários para continuar a produção agrária, consolidando a posição de grande produtor agrícola mundial.

No entanto, o país atravessa uma crise profunda. Apesar das produções recorde de cereais que se esperam para este ano, a fome no Brasil aumentou consideravelmente nos últimos dois anos.

Segundo os dados do 2° Inquérito Nacional sobre a Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), mais de 33 milhões de brasileiros não têm o que comer.



Em algumas comunidades da cidade do Rio de Janeiro, a ajuda solidária é a única forma de sobrevivência para centenas de cariocas. Cozinhas comunitárias como a Prato Feito estão distribuídas por toda a cidade, onde as pessoas em situação de vulnerabilidade social têm acesso a uma refeição diária gratuita. 

Todos os dias, centenas de pessoas vêm aqui buscar a única refeição do dia."O povo tem fome, o povo está passando fome. O povo, hoje, está dependendo de uma quentinha para sobreviver", diz uma brasileira. Outra conta como é que ela e a família sobrevivem: "vivemos da recolha do lixo... 

O que dá, vendemos no ferro velho. Vamos às feira, aos mercados pegar alimentos que não servem mais" (para vender). Em março, o presidente Jair Bolsonaro anunciou um programa social, de 27 mil milhões de euros, que inclui medidas como o adiantamento do complemento salarial, ou 13º mês, para os reformados, a autorização da utilização de recursos de um fundo de garantia ao trabalhador, para casos de demissão ou situações excecionais, e o acesso a créditos. 

Bolsonaro apresentou o plano sete meses antes das eleições presidenciais, que ocorrem em outubro, onde vai defrontar o antigo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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