Dois grandes jornais franceses, o Le Monde e o diário econômico Les Echos, analisam nesta terça-feira (11) a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o segundo turno. O petista, líder nas pesquisas de intenção de voto ante Jair Bolsonaro, tem recebido apoios importantes, mas os resultados do primeiro turno preocupam simpatizantes da candidatura progressista.
O Partido dos Trabalhadores deve adaptar sua estratégia, se quiser garantir a vitória em 30 de outubro, escreve o Le Monde. Em reportagem no Rio de Janeiro, o correspondente do jornal francês no Brasil constatou a decepção dos eleitores que votaram em Lula e acreditavam na vitória no primeiro turno. A diferença de apenas 5% à frente de Bolsonaro é vivida com tristeza e grande preocupação pela militância petista.
As alianças concluídas com Simone Tebet (MDB) e o PDT, de Ciro Gomes, eram necessárias, mas não bastam. Nos próximos dias, Lula precisará conquistar eleitores de centro e de direita. Na avaliação do Le Monde, o petista terá de detalhar medidas destinadas a garantir a estabilidade fiscal e atrair evangélicos com posicionamentos conservadores.
Conquistar o eleitorado evangélico é, aliás, a tarefa mais complicada. Por isso, apesar do desagrado provocado em parte da esquerda progressista, Lula declarou novamente que era contra o aborto na última sexta-feira (7), relata a reportagem. O petista se prepara com afinco para o debate de 16 de outubro, uma vez que seu desempenho, comparado ao de Bolsonaro, foi considerado decepcionante, acrescenta o Le Monde.
Tebet: apoio decisivo?
Em tom um pouco mais otimista, o diário econômico Les Echos diz que Lula recebeu o apoio de economistas importantes, como Armínio Fraga e Octavio de Barros. Fraga, ex-presidente do Banco Central no governo de Fernando Henrique Cardoso, declarou apoio ao petista por considerar a política econômica de Bolsonaro "um fracasso". O investidor também nota um crescimento de movimentos autocráticos no mundo, que pouco a pouco deterioram a qualidade da democracia.
Já Octavio de Barros, fundador do think tank República do Amanhã, acusa Bolsonaro de copiar no Brasil o modelo de governo adotado pelo primeiro-ministro da Hungria, o ultraconservador Viktor Orbán. Segundo Barros, nos últimos quatro anos, as instituições brasileiras foram enfraquecidas e a democracia brasileira foi corroída por dentro.
Bolsonaro aposta no apoio de governadores aliados ao PL para ser reeleito no segundo turno, explica o diário econômico francês. Porém, o cientista político Claudio Couto, da FGV, entrevistado pelo Les Echos, acredita que o apoio de Simone Tebet a Lula é ainda mais valioso em termos de migração de votos.