Giovanni, avô do Papa, combateu na Primeira Guerra Mundial ao longo do "rio sagrado" o Rio Piave. Esta é a sua história, reconstruída depois que Francisco disse: "Ouvi muitas histórias dolorosas contadas pelo meu avô que lutou na guerra do Rio Piave"
No Cemitério de Redipúglia em 2014, o Santo Padre recebe uma cópia da folha de registro do serviço militar de seu avô. Vatican NewsIvano Sartor Vatican News
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Talvez não sejam muitas as pessoas que sabem, com exceção dos cultores da Primeira Guerra Mundial, que o avô do Papa Francisco foi recrutado e combateu, como era seu dever, como um cidadão italiano. O fato se tornou público por ocasião da visita do Papa Francisco em 2014 ao Cemitério de Redipúglia, onde jazem os restos mortais de cem mil soldados daquela guerra. No dia 13 de setembro daquele ano, as autoridades militares entregaram ao Santo Padre uma cópia da folha de registro do serviço militar de seu avô.
Giovanni Bergoglio
Nascido em Asti em 13 de agosto de 1884, o soldado Giovanni Carlo Bergoglio, filho de Francesco e Maria Brugnaro, nascido em um distrito de Asti, trabalhava em uma cafeteria quando foi submetido ao exame de recrutamento aos 20 anos de idade (em 28 de junho de 1904), sendo inicialmente declarado "a ser revisto", devido à insuficiência torácica. Não era muito alto, com 1,66 m de altura, contudo Giovanni Bergoglio foi chamado às armas quando a Itália entrou na Guerra na primavera de 1915, quando tinha completado 30 anos. Foi-lhe atribuído o número de série 15.543 e foi incorporado ao 78º Regimento de Infantaria, que junto com o 77º pertencia à "Brigada Toscana". Deram-lhe o cargo de radiotelegrafista e começou a participar das operações bélicas em julho de 1916. Naquela época, o Corpo Militar do qual Bergoglio fazia parte havia operado na fronteira com a Eslovênia, ao norte de Gorizia, e já tinha sido enviado para combater ao longo do Rio Isonzo, sob o comando da 4ª Divisão. Estes Corpos militares foram chamados a se engajar em combates extremamente duros, demonstrando coragem e valentia, e por isso as bandeiras dos regimentos envolvidos ganharam a condecoração com a Medalha de Ouro de Valor Militar.
Heroísmo
Nos meses seguintes, a Brigada Toscana foi transferida do Rio Isonzo para o planalto do Asiago. Aqui o 78º Regimento, no qual Giovanni Bergoglio lutou, foi empregado, por volta do Natal de 17, para bloquear as invasões austríacas, em três dias de combate corpo a corpo. Pelo heroísmo da Infantaria, a bandeira da 78ª foi condecorada com a Medalha de Prata de Valor Militar, com a seguinte motivação: "Em três dias de amargos combates, com extrema tenacidade e suprema valentia, barrava o caminho ao inimigo que havia rompido a primeira linha: o peito dos heróis da infantaria era um muro contra o qual o ímpeto do adversário foi estilhaçado. Para a defesa do solo da Pátria, não conheceu limites de sacrifício e ousadia - Col del Rosso, Col d'Echele 23-24-25 de dezembro de 1917".
Histórias do avô
Em sua casa, o jovem Jorge Mario Bergoglio, nascido na Argentina após a imigração de sua família, pôde ouvir dos lábios de seu avô as dolorosas histórias da terrível experiência da guerra, conservando para sempre na sua memória, tanto que, como Sumo Pontífice teve a oportunidade de recordá-la. Por exemplo, durante uma audiência com aos Carabineiros que estavam celebrando os 200 anos de sua instituição, o Papa disse textualmente: "Ouvi muitas histórias dolorosas contadas pelo meu avô que combateu no Rio Piave". Destas expressões ficamos sabendo de outro detalhe significativo: que o avô Bergoglio também estava na frente do Rio Piave, a extrema linha defensiva que o exército italiano tinha conquistado após a súbita e dolorosa retirada devido ao desastre militar de Caporetto.
Reconstrução
O recurso a estudos históricos sobre a Brigada Toscana, com especial atenção às referências relativas ao 78º Regimento, permite-nos agora conhecer em detalhes a viagem biográfica adicional do avô Bergoglio durante a Primeira Guerra Mundial. Com o final da Guerra, Giovanni Bergoglio, que estava então ligado ao 9º Batalhão de Bersaglieri em Asti, pôde sonhar em voltar para casa, o que ele fez no final do último ano, quando foi colocado em licença ilimitada, antes de ser finalmente dispensado em 15 de agosto de 1919.