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Cúpula da CELAC: Lula destaca “ameaças à democracia” e Uruguai pede fim de “clube de amigos” de esquerda

Os presidentes do Brasil e do Uruguai, que terão um encontro nesta quarta-feira (25) em Montevidéu, condenaram “tentações autoritárias” na região, em discursos realizados nesta terça-feira (24) na Cúpula da CELAC. Na Argentina, Lula também anunciou que “o Brasil está de volta à América Latina”, depois da “exceção lamentável” do período Bolsonaro.


Cúpula da CELAC: Lula destaca “ameaças à democracia” e Uruguai pede fim de “clube de amigos” de esquerda. © AP - Gustavo Garello


  • Márcio Resende, 
  • correspondente da RFI em 
  • Buenos Aires

Para agradecer as demonstrações de solidariedade com o governo brasileiro e as condenações aos ataques às instituições em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva advertiu sobre “as tentações autoritárias que até hoje desafiam a democracia” na América Latina e “as ameaças à democracia representativa como forma de organização política e social”.


“Quero aqui aproveitar para agradecer a todos e a cada um de vocês que se perfilaram ao lado do Brasil e das instituições brasileiras, ao longo destes últimos dias, em repúdio aos atos antidemocráticos que ocorreram em Brasília. É importante ressaltar que somos uma região pacífica, que repudia o extremismo, o terrorismo e a violência política”, agradeceu Lula aos demais 32 países da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC) que se reúnem em Buenos Aires.



Lula falou no plenário da reunião de Cúpula, um dia depois de defender o direito “da Venezuela e de Cuba fazerem aquilo que quiserem e que ninguém deve se meter”, em referência à “autodeterminação dos povos”.


Uruguai critica o discurso ideológico

No mesmo plenário, o presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, pediu que “para a subsistência de foros regionais, não pode existir o caráter de clube de amigos ideológicos” e que “existem países integrantes da CELAC que não respeitam a democracia nem os direitos humanos”, disse em referência a Cuba, Venezuela e Nicarágua.


“Temos de transparecer as relações e praticar com a ação o que se diz durante estes foros. Fazemos mal em ter uma tendência ideológica na CELAC. Não tenhamos uma visão hemiplegia de defesa de acordo com o perfil ideológico”, advertiu o presidente uruguaio.


Lula e Lacalle Pou terão nesta quarta-feira (25), em Montevidéu, uma reunião bilateral seguida de um almoço, justamente para abordar visões diferentes dentro do Mercosul quanto ao livre comércio.


Apesar da unânime condenação aos ataques antidemocráticos no Brasil, a CELAC convive com regimes autoritários em Cuba, Nicarágua e Venezuela.


Por outro lado, Bolívia, Argentina, México e Colômbia defendem o destituído presidente peruano de esquerda Pedro Castillo, quem tentou um golpe de Estado no Peru em 7 de dezembro passado.


O governo argentino, o mesmo que condena a tentativa de golpe no Brasil, quer destituir os juízes do Supremo Tribunal do país.


Lula anuncia que o Brasil está de volta à América Latina


O presidente Lula anunciou que “o Brasil está de volta à América Latina”, depois da “exceção lamentável” do período Bolsonaro, e que esse retorno à vizinhança tem “a sensação de um reencontro consigo mesmo”, com “a sua missão de integração regional”.


“É com muita alegria e satisfação muito especiais que o Brasil está de volta à região e pronto para trabalhar lado a lado com todos vocês, com um sentido muito forte de solidariedade e proximidade”, anunciou Lula no seu discurso no plenário da CELAC.


“Após o resultado das eleições (30 de outubro), afirmei que o Brasil estava de volta ao mundo. Nada mais natural do que começar esse caminho de retorno pela CELAC”, prosseguiu Lula, que faz a sua primeira viagem internacional na Argentina, num sinal da prioridade que o Brasil dá a seu vizinho estratégico.


O presidente brasileiro destacou “a missão do Brasil em prol da integração regional desde a redemocratização do país” em 1985.


“A exceção lamentável foram os anos recentes, quando o meu antecessor tomou a inexplicável decisão de retirar o Brasil da CELAC”, disse Lula contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.


Há três anos, em janeiro de 2020, Bolsonaro retirou o Brasil da CELAC com o objetivo de esvaziar a importância do foro e, sobretudo, silenciar a voz de Cuba, Venezuela e Nicarágua, os regimes autoritários da região. A CELAC é o único foro regional do qual Cuba participa.


“O Brasil volta a olhar para seu futuro com a certeza de que estaremos associados aos nossos vizinhos bilateralmente, no Mercosul, na UNASUL e na CELAC. É com esse sentimento de destino comum e de pertencimento que o Brasil regressa à CELAC, com a sensação de quem se reencontra consigo mesmo”, interpretou Lula, quem se reuniria com o cubano Miguel Díaz-Canel no final da Cúpula dos Estados Latino-americanos e Caribenhos.

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